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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ACORDOS SYKES-PICOT: HÁ CEM ANOS SE INICIAVA A GUERRA DA SÍRIA


Símbolo da vontade unilateral de Paris e Londres de repartir a região do Oriente Próximo (expressão que se refere a regiões das “arábias” mais próximas da Europa) entre as duas potências, provavelmente nenhum Tratado soa mais detestável aos ouvidos dos árabes. Esses acordos entre França e Reino Unido ignoravam completamente as aspirações das pessoas que lá habitavam.

Há cem anos, em 1916, na sequência da queda do Império Otomano e desejosos de alargar suas esferas de influência no Oriente Próximo, França e Reino Unido concluíram finalmente uma série de acordos secretos, com consentimento da Rússia czarista, conhecidos como Acordos Sykes-Picot, em homenagem ao nome dos homens que os negociaram.

Françoise George-Picot, cônsul francês em Beirute até a Primeira Guerra, em seguida transferido para o Cairo, e membro do Partido Colonial francês, defendia uma “Síria integral”, ou “Grande Síria”, sob o jugo colonial francês.

Sir Mark Sykes, conselheiro diplomático e membro do Partido conservador britânico tinha por objetivo aumentar a influência colonial no Oriente Próximo.

O fruto de suas negociações à sombra definiu a partição e o desmembramento das províncias árabes do Império Otomano assim como a repartição de suas Províncias entre as duas potências – mesmo havendo uma grande variação no traçado final em relação às formas prévias. Os árabes mesmos não foram informados até 1917, quando os bolcheviques fizeram publicar o texto, logo após derrubarem o czar russo.
Depois disso, Sykes-Picot tronou-se símbolo no Oriente Próximo do imperialismo e da repartição arbitrária de territórios. Portanto, mesmo que os acordos constituam um evento maior, a crença de que eles constituem o ponto de viragem da história do Oriente Próximo moderno deve ser desconstruído: foi uma etapa necessária para a compreensão dos processos de separação e de partição.

De fato, esses processos não pararam de se reproduzir após um século. Os acordos Sykes-Picot tiveram como ponto de origem as trocas de correspondências entre Henry McMahon e Sayyed Hussein Bem Ali, o sharif de Meca que permitiu ao Reino Unido negociar territórios árabes além de sua zona de influência, apoiando-se numa lógica de separação etno-religiosa.

Assim, e de acordo com os intérpretes franceses, Londres pretendia excluir as províncias onde havia árabes não muçulmanos dos territórios que seriam reconhecidos como árabes e independentes. Os dois documentos não podem ser considerados fora do contexto: resultam dos dinamismos regionais anteriores à Primeira Guerra Mundial.

No fim do século XIX, a presença ocidental se avolumava na região do Império Otomano. Um sinal de influência era a construção de escolas missionárias, de sociedades culturais, pelo uso de línguas estrangeiras, particularmente o francês, em questões administrativas, e também como vetor da colonização: a França domina a Argélia onde se pratica a política de “dividir para dominar” e o Reino Unido dominava Aden. Ademais, a França e a Rússia se consideravam protetores das populações católica e ortodoxa no império otomano. Sua presença aumentou após o fim da Guerra da Criméia (1853/56).

Endividado, o império otomano foi forçado a realizar acordos financeiros com as potências estrangeiras, o que permitiu aos banqueiros e outros financiadores  estrangeiros entrarem em novos mercados.
Dali em diante, França e Reino Unido redobraram seus esforços para exercer um controle exclusivo sobre certas zonas das províncias árabes do império otomano. Pelo fim do século, as duas potências  tinham estendido seus impérios até aquela região: Londres tomou controle do Egito e do Chipre; Paris estabeleceu um protetorado na Tunísia (e o Marrocos em 1912).

A Aliança entre Alemanha e Império Otomano se materializou por meio do projeto ferroviário otomano. Contudo, os projetos de extensão ferroviária do início do século XX foram obscurecidos pelos conflitos do Reino Unido e da França na defesa de seus interesses, e a ferrovia tornou-se objeto de uma competição feroz entre aqueles que queriam o controle sobre as porções do império.

Cada potência negociava a exclusividade do direito de passagem por suas áreas de influência: a França na Síria e no Líbano; o Reino Unido na Mesopotâmia e na Palestina. Finalmente, os dois países compreendem a necessidade de negociar a construções de uma frente comum.

O Reino Unido se movimentou no sentido de impedir que o império otomano estabelecesse uma conexão entre Hedjaz e Aqaba, demandando que o Sinai fizesse parte do Egito (e não da Palestina) para que assim não pusesse em perigo o Canal de Suez.

Em 1911, a Itália decidiu agir por si só e atacou o império otomano para se apropriar da Líbia. A derrota do império otomano foi o sinal incontestável de fraqueza e, a partir de 1912, eles começaram a negociar o futuro da Síria.

Finalmente, terminada a I Guerra Mundial, o império otomano foi objeto de uma repartição econômica, cultural e religiosa. A guerra, ao lado da aliança entre otomanos e alemães, forneceram à França e ao Reino Unido razões para desqualificar os demais países que pretendiam lá se instalar, também.

O Acordo foi assinado em 16 de maio de 1916 e misturava independência e proteção. Linguagem que costumava se entrelaçar no âmbito desses documentos.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: http://orientxxi.info/l-orient-dans-la-guerre-1914-1918/les-accords-sykes-picot-deuxieme-phase-du-plan-de-partition-du-proche-orient,1602

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