Carlos I, depois Carlos V Sacro
Imperador de Roma, herdou um Império enorme. No entanto os problemas a ele
inerentes eram indissociáveis. Lidar com eles foi a missão de sua vida.
Sua família, os Habsburg, levavam
a estratégia de matrimônios a sério. Carlos era filho de Filipe I de Castela, o
Formoso, e herdou a Espanha, os Países Baixos, Flandres, Áustria, Boêmia e
extensas regiões na Itália. Herdou também os novos territórios descobertos na
América.
Atribui-se a ele a frase: “No meu
Império nunca se põe o Sol”. Como ele, também seus problemas. Sua
responsabilidade não lhe permitia fugir dos problemas. Mercurino de Gattinara,
seu Chanceler, disse-lhe: “Senhor, agora que Deus vos fez a poderosa graça de
vos elevar acima de todos os reis e príncipes da cristandade a um poder tal que
só o vosso predecessor Carlos Magno conheceu, segui o caminho da monarquia
universal, até recolher a cristandade sob um único pastor”.
Desde que fora promulgada a Bula
Dourada, havia mais de 150 anos, os príncipes alemães tinham o direito de
eleger o imperador. É o que ocorreria em 1519, após a morte de Maximiliano I,
avô de Carlos. Seu concorrente era Francisco I, rei da França. Este disse a
Carlos: “Majestade, cortejamos a mesma dama! ”
Carlos venceu. Os príncipes
achavam que Francisco parecia mais ameaçador à autonomia que tinham. Além
disso, Jakob Fugger, poderoso banqueiro de Augsburg, subornou os príncipes.
Somando-se a capitulação imperial, pela qual fazia grandes concessões em nome
dos príncipes, Carlos prevaleceu.
Um dos obstáculos que enfrentou
foi Martinho Lutero, a que encarou em 1521, em Worms, sem chegar a qualquer
acordo quanto aos enfrentamentos que este fazia frente à Igreja de Roma, aliada
de Carlos. Preferiu fazer a linha dura e proscrever Lutero, sem que conseguisse
evitar a Reforma.
Outro grande desafio que
enfrentou foram os turcos. Em 1529, chagaram a Viena. Carlos conseguiu deter
seu avanço. Logo após, Francisco I reclamou a coroa da Hungria, que julgava ter
herdado.
Em 1526, na Dieta de Speyer,
concedeu ampla liberdade religiosa aos principados alemães. Três anos depois,
decidiu retirar o que dissera. A nota de protesto que os príncipes redigiram
exigiu que fossem tratados como protestantes. Diversos bens da Igreja foram
confiscados nos principados que adotaram religiões protestantes.
Após sua coroação em Roma, em
1530, e tendo expulsado os turcos de Viena, Carlos decidiu viajar a Augsburg e
resolver os problemas de ordem religiosa de seu Império. Carlos foi
intransigente e nada foi resolvido. O clima estava esquentando em direção a uma
batalha armada quando, em 1532, o Sultão Solimão II, o Magnífico, atacou Viena
com 250.000 soldados. Para conseguir reunir tropas adequadas, Carlos concedeu
liberdade religiosa aos protestantes, na paz religiosa de Nuremberg. Com a
união, Solimão foi obrigado a se retirar.
Na sequência, Carlos teve de
lidar com os piratas, no Mediterrâneo e com Francisco I, na França. Depois
entrou em guerra contra a Liga da Esmalcalda, que reunia os príncipes
protestantes dispostas a pegar em armas. Chegou a uma trégua, mas os problemas
ainda subsistiam.
Tentou ainda mudar as regras de
sucessão, dando preferência a um de seus filhos, Filipe, não a Fernando, como de
direito. Deu início a conflitos familiares graves.
Os príncipes, liderados por
Maurício da Saxônia, tomaram o Tirol de surpresa, em nome da liberdade. Carlos
estava doente e acamado. Em 1555, acordou-se a paz religiosa. O protestantismo
se impusera.
O imperador abdicou da coroa em
nome de seu irmão, Fernando. Retirou-se para sua casa de campo, próxima do
Mosteiro de São Jerônimo de Yuste. Lá morreu dois anos depois.
Filipe, filho de Carlos, e
Fernando repartiram o império. Nasceram o império austro-hungaro e o império
espanhol. Deu-se separação à linhagem dos Habsburg nas linhagens alemã e
espanhola.
No fim da vida, disse Carlos: “Sempre
reconheci a minha incapacidade; mas hoje sinto-me totalmente inútil, e esta
minha vida que Deus colmatou de tribulações serve mais para a penitência do que
para ser vivida”.
Rubem L. de F. Auto
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