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sábado, 5 de novembro de 2016

CARLOS QUIS ABRAÇAR O MUNDO, MAS NÃO TEVE BRAÇOS GRANDES O SUFICIENTE


Carlos I, depois Carlos V Sacro Imperador de Roma, herdou um Império enorme. No entanto os problemas a ele inerentes eram indissociáveis. Lidar com eles foi a missão de sua vida.

Sua família, os Habsburg, levavam a estratégia de matrimônios a sério. Carlos era filho de Filipe I de Castela, o Formoso, e herdou a Espanha, os Países Baixos, Flandres, Áustria, Boêmia e extensas regiões na Itália. Herdou também os novos territórios descobertos na América.

Atribui-se a ele a frase: “No meu Império nunca se põe o Sol”. Como ele, também seus problemas. Sua responsabilidade não lhe permitia fugir dos problemas. Mercurino de Gattinara, seu Chanceler, disse-lhe: “Senhor, agora que Deus vos fez a poderosa graça de vos elevar acima de todos os reis e príncipes da cristandade a um poder tal que só o vosso predecessor Carlos Magno conheceu, segui o caminho da monarquia universal, até recolher a cristandade sob um único pastor”.

Desde que fora promulgada a Bula Dourada, havia mais de 150 anos, os príncipes alemães tinham o direito de eleger o imperador. É o que ocorreria em 1519, após a morte de Maximiliano I, avô de Carlos. Seu concorrente era Francisco I, rei da França. Este disse a Carlos: “Majestade, cortejamos a mesma dama! ”

Carlos venceu. Os príncipes achavam que Francisco parecia mais ameaçador à autonomia que tinham. Além disso, Jakob Fugger, poderoso banqueiro de Augsburg, subornou os príncipes. Somando-se a capitulação imperial, pela qual fazia grandes concessões em nome dos príncipes, Carlos prevaleceu.

Um dos obstáculos que enfrentou foi Martinho Lutero, a que encarou em 1521, em Worms, sem chegar a qualquer acordo quanto aos enfrentamentos que este fazia frente à Igreja de Roma, aliada de Carlos. Preferiu fazer a linha dura e proscrever Lutero, sem que conseguisse evitar a Reforma.

Outro grande desafio que enfrentou foram os turcos. Em 1529, chagaram a Viena. Carlos conseguiu deter seu avanço. Logo após, Francisco I reclamou a coroa da Hungria, que julgava ter herdado.

Em 1526, na Dieta de Speyer, concedeu ampla liberdade religiosa aos principados alemães. Três anos depois, decidiu retirar o que dissera. A nota de protesto que os príncipes redigiram exigiu que fossem tratados como protestantes. Diversos bens da Igreja foram confiscados nos principados que adotaram religiões protestantes.

Após sua coroação em Roma, em 1530, e tendo expulsado os turcos de Viena, Carlos decidiu viajar a Augsburg e resolver os problemas de ordem religiosa de seu Império. Carlos foi intransigente e nada foi resolvido. O clima estava esquentando em direção a uma batalha armada quando, em 1532, o Sultão Solimão II, o Magnífico, atacou Viena com 250.000 soldados. Para conseguir reunir tropas adequadas, Carlos concedeu liberdade religiosa aos protestantes, na paz religiosa de Nuremberg. Com a união, Solimão foi obrigado a se retirar.

Na sequência, Carlos teve de lidar com os piratas, no Mediterrâneo e com Francisco I, na França. Depois entrou em guerra contra a Liga da Esmalcalda, que reunia os príncipes protestantes dispostas a pegar em armas. Chegou a uma trégua, mas os problemas ainda subsistiam.

Tentou ainda mudar as regras de sucessão, dando preferência a um de seus filhos, Filipe, não a Fernando, como de direito. Deu início a conflitos familiares graves.

Os príncipes, liderados por Maurício da Saxônia, tomaram o Tirol de surpresa, em nome da liberdade. Carlos estava doente e acamado. Em 1555, acordou-se a paz religiosa. O protestantismo se impusera.
O imperador abdicou da coroa em nome de seu irmão, Fernando. Retirou-se para sua casa de campo, próxima do Mosteiro de São Jerônimo de Yuste. Lá morreu dois anos depois.

Filipe, filho de Carlos, e Fernando repartiram o império. Nasceram o império austro-hungaro e o império espanhol. Deu-se separação à linhagem dos Habsburg nas linhagens alemã e espanhola.

No fim da vida, disse Carlos: “Sempre reconheci a minha incapacidade; mas hoje sinto-me totalmente inútil, e esta minha vida que Deus colmatou de tribulações serve mais para a penitência do que para ser vivida”.


Rubem L. de F. Auto  




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