Há cerca de 10 mil anos, quando a
Era do Gelo chagava a um fim, grande parte da América se assemelhava a uma
savana africana. Circulavam por lá Mastodontes (semelhantes a elefantes),
cavalos selvagens e lhamas, ursos tigres dentes-de-sabre, preguiças de 6 metros
de comprimento, Tatus gigantes.
E mais: existe um projeto de
retorná-los à vida, o Rewilding – ou retorno à vida selvagem. A proposta é de
Paul Martin, da Universidade do Arizona, e de Josh Donlan, de Cornell.
Inicialmente, o projeto só aborda
a América do Norte e sua megafauna extinta há milênios. Os dois pesquisadores
defendem a hipótese do “overkill”: megamatanças generalizadas empreendidas
pelos humanos, logo que chegaram ao continente. Apenas de posse de lanças e
contando com a ingenuidade de animais que nunca tinha tido contato com
caçadores, eles exterminaram 75% dos animais com mais de 45 Kg. E em ambientes
onde sobraram muitos desses bichos, na África ou na Ásia, ele sofrem com o
perigo da extinção.
A idéia dos pesquisadores seria
criar um pequeno ambiente pré-histórico em terras do interior da América do
Norte, como uma Arca de Noé. Lá ficariam espécies como “backup” para um caso de
extinção absoluta desses animais. De quebra, ainda recomporiam a paisagem do
nosso continente com mamíferos de grande porte.
Existem três grupos de animais que
merecem tratamento distinto: dentes-de-sabre e preguiças gigantes estão
definitivamente extintos, sem possibilidades de retorno; Lhamas, camelos,
cavalos, mamutes contam com parentes próximos, embora não sejam exatamente a
mesma espécie; leões e outras espécies extintas nas Américas ainda sobrevivem
em outros lugares.
O projeto visa à salvação de
equivalentes biológicos, não genéticos. Isto é, a semelhança é pensada pelo
critério do papel que dada espécie exerce no seu meio. Aliás, esse papel que
certa espécie exerce no meio que habita, em geral, é fundamental para a
existência de outras espécies. Por exemplo, as clareiras abertas na floresta
por elefantes permitem o florescimento de várias espécies de plantas. A reintrodução
de lobos em Yellowstone reduziu o estrago ambiental provocado por veados, pois passaram
a contar com um espaço menor para se desenvolverem, além de deixarem para trás
carcaças de presas, que sevem de alimento para espécies menores. Onças exercem
um papel semelhante, no Brasil.
Os partidários do rewilding acreditam
que o meio ambiente americano necessita do papel exercido pelos animais de
grande porte já extintos. Acredita-se que as antilocapras, que podem correr até
100 Km/h e vivem na América do Norte, evoluíram fugindo de guepardos
americanos, tão rápidos quanto os africanos e asiáticos.
O projeto não deixa de comentar
as possibilidades econômicas trazidas pelo ecoturismo, para observar in loco
espécies tão exóticas.
Como toda a base do projeto são
teses científicas, não poderia deixar de lado uma certa polêmica. Alguns
pesquisadores acham que os humanos tiveram muito pouco ou quase nada a ver com
a extinção de grandes mamíferos no continente. No Brasil, praticamente não há
registros de grandes ossos em sítios arqueológicos. Muitos pesquisadores acham
que a extinção citada é produto exclusivamente do fim da Era do Gelo, em função
das alterações climáticas advindas.
Por fim, as alterações surgidas
no meio ambiente americano nesses 10 mil últimos anos, segundo alguns, deporiam
contra a adaptabilidade dos grandes mamíferos aos tempos modernos. Eles seriam,
provavelmente, apenas espécies invasoras.
Por fim, resta a pergunta: em
lugar de se preocupar com animais que já estão extintos há muito, não seria
melhor se preocupar com aqueles que ainda têm salvação?
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Além de Darwin: o
que sabemos sobre a vida ...”
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