Pesquisar as postagens

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

REWILDING: O NOVO PROJETO DO PARQUE DOS DINOSSAUROS


Há cerca de 10 mil anos, quando a Era do Gelo chagava a um fim, grande parte da América se assemelhava a uma savana africana. Circulavam por lá Mastodontes (semelhantes a elefantes), cavalos selvagens e lhamas, ursos tigres dentes-de-sabre, preguiças de 6 metros de comprimento, Tatus gigantes.

E mais: existe um projeto de retorná-los à vida, o Rewilding – ou retorno à vida selvagem. A proposta é de Paul Martin, da Universidade do Arizona, e de Josh Donlan, de Cornell.

Inicialmente, o projeto só aborda a América do Norte e sua megafauna extinta há milênios. Os dois pesquisadores defendem a hipótese do “overkill”: megamatanças generalizadas empreendidas pelos humanos, logo que chegaram ao continente. Apenas de posse de lanças e contando com a ingenuidade de animais que nunca tinha tido contato com caçadores, eles exterminaram 75% dos animais com mais de 45 Kg. E em ambientes onde sobraram muitos desses bichos, na África ou na Ásia, ele sofrem com o perigo da extinção.

A idéia dos pesquisadores seria criar um pequeno ambiente pré-histórico em terras do interior da América do Norte, como uma Arca de Noé. Lá ficariam espécies como “backup” para um caso de extinção absoluta desses animais. De quebra, ainda recomporiam a paisagem do nosso continente com mamíferos de grande porte.

Existem três grupos de animais que merecem tratamento distinto: dentes-de-sabre e preguiças gigantes estão definitivamente extintos, sem possibilidades de retorno; Lhamas, camelos, cavalos, mamutes contam com parentes próximos, embora não sejam exatamente a mesma espécie; leões e outras espécies extintas nas Américas ainda sobrevivem em outros lugares.

O projeto visa à salvação de equivalentes biológicos, não genéticos. Isto é, a semelhança é pensada pelo critério do papel que dada espécie exerce no seu meio. Aliás, esse papel que certa espécie exerce no meio que habita, em geral, é fundamental para a existência de outras espécies. Por exemplo, as clareiras abertas na floresta por elefantes permitem o florescimento de várias espécies de plantas. A reintrodução de lobos em Yellowstone reduziu o estrago ambiental provocado por veados, pois passaram a contar com um espaço menor para se desenvolverem, além de deixarem para trás carcaças de presas, que sevem de alimento para espécies menores. Onças exercem um papel semelhante, no Brasil.

Os partidários do rewilding acreditam que o meio ambiente americano necessita do papel exercido pelos animais de grande porte já extintos. Acredita-se que as antilocapras, que podem correr até 100 Km/h e vivem na América do Norte, evoluíram fugindo de guepardos americanos, tão rápidos quanto os africanos e asiáticos.

O projeto não deixa de comentar as possibilidades econômicas trazidas pelo ecoturismo, para observar in loco espécies tão exóticas.

Como toda a base do projeto são teses científicas, não poderia deixar de lado uma certa polêmica. Alguns pesquisadores acham que os humanos tiveram muito pouco ou quase nada a ver com a extinção de grandes mamíferos no continente. No Brasil, praticamente não há registros de grandes ossos em sítios arqueológicos. Muitos pesquisadores acham que a extinção citada é produto exclusivamente do fim da Era do Gelo, em função das alterações climáticas advindas.

Por fim, as alterações surgidas no meio ambiente americano nesses 10 mil últimos anos, segundo alguns, deporiam contra a adaptabilidade dos grandes mamíferos aos tempos modernos. Eles seriam, provavelmente, apenas espécies invasoras.

Por fim, resta a pergunta: em lugar de se preocupar com animais que já estão extintos há muito, não seria melhor se preocupar com aqueles que ainda têm salvação?


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Além de Darwin: o que sabemos sobre a vida ...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário