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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

HELENA DE ESPARTA E PÁRIS DE TRÓIA: FAÇA AMOR E FAÇA GUERRA


Segundo Homero, a guerra entre Tróia e Esparta ocorreu pela disputa envolvendo uma mulher: Helena. O rei de Esparta, Menelau, casado com Helena, teve a esposa raptada e seduzida pelo príncipe de Tróia, Páris. O casal fugiu para Tróia. Iniciaram-se negociações diplomáticas objetivando a devolução da mulher, mas elas falham. Menelau pediu reforços a seu irmão, o rei grego Agamêmnon, que se juntaram aos ex-pretendentes preteridos por Helena. Eles juraram defender aquele homem que Helena escolhesse para desposá-la.

A guerra durou dez anos. Ao cabo, Tróia foi invadida, saqueada e destruída. Os troianos foram massacrados e as mulheres e meninas viraram escravas ou concubinas dos espartanos vitoriosos.

Quanto há de verdade nesses relatos? A cidade de Tróia de fato existiu e foi destruída por invasores. Isso ocorreu por volta de 1200 a.C. Os poemas de Homero recordam que o episódio ocorreu numa época compatível com essa data. Alguns historiadores apontam como motivo real para o conflito algumas disputas em torno de rotas comerciais que cortavam a região.

Contudo, há quem diga que o motivo na realidade foi Helena, além de todas as outras mulheres que viviam em Tróia. Isso mesmo: tratou-se de uma invasão de espartanos desejosos por capturar e levar para casa as mulheres da cidade vizinha, na porrada!

A tese está descrita no livro “The Rape of Troy: Evolution, Violence and the World of Homer”, de Jonathan Gottshall, que argumenta: “As pessoas acham que Aquiles (herói grego daquela guerra) tem como objetivo a glória eterna simplesmente porque ele diz isso.” De fato, Gottshall vê apenas uma disputa humana em torno de recursos. Quem garante mais recursos para os seus, em prejuízo do inimigo.

Parece tosco, rude e primitivo demais? Talvez fosse essa a realidade vigente à época. Gottshall e demais pesquisadores propõem que a sociedade testemunha da Ilíada e da Odisséia era muito pobre, seus heróis viviam em meio a dificuldades. No poema, Homero descreve porcos e ovelhas passeando no interior de palácios; as rainhas vão buscar água pessoalmente na fonte e fiam as roupas dos maridos.

A sociedade grega da época de Homero era uma cultura tribal, muito semelhante às dos índios ianomâmis. A sociedade grega que Homero descreve, de tempos anteriores, era muito mais primitiva, excluindo-se apenas o fato de que conheciam a metalurgia. São grupos pequenos constantemente em guerra com seus vizinhos. Qual o principal motivo desses conflitos? Mulheres. Era prática de povos antigos em todo o mundo.

O resultado é que os chefes guerreiros mais poderosos dispunham de um grande número de mulheres – esposas e concubinas. O grande prêmio desses chefes era a oportunidade de espalhar seus genes para um grande número de descendentes.

Tudo isso é sustentado sobre o pilar mais injusto da evolução: o modo como ela trata homens e mulheres. Os homens podem gerar um número muito grande de filhos com diferentes mulheres; enquanto que elas estão limitadas pelo número de óvulos e pela menopausa – além, é claro, de todo o período de gestação.

Para completar o quadro, nas sociedades gregas o infanticídio de meninas era enorme. Era uma sociedade guerreira que desejava alocar seus recursos ao maior número de guerreiros, portanto homens. Com a redução gradual no número de meninas, com o tempo também faltavam esposas. Bom, eles resolviam isso indo à guerra ... por mulheres. E os jovens iam à guerra feito loucos!

Apenas para medir o grau de dedicação que eles vertiam para essa tarefa: Quando Agamêmnon resolveu tomar para si a escrava preferida de Aquiles, deu-se início a um conflito tão acirrado entre ambos que o maior herói grego pôs o rabo entre as pernas e se deu por vencido. A reação do herói foi a história descrita na Ilíada como a “cólera de Aquiles”.

Importante fazer notar que a espécie humana não conta com machos alfa, embora seja comum repetir essa falácia. Machos alfa monopolizam as fêmeas do grupo, o que é até mesmo impraticável em humanos, que tendem a formar grupos bem numerosos.

As mulheres, por sua vez, não apenas viviam naquele tipo de sociedade como ainda encontravam maneiras de manipular os fatos em seu favor, como Clitemnestra, irmã de Helena e esposa do rei Agamêmnon, que vê na ausência do marido a chance de se juntar a seu amante na tarefa de matar o rei, seu marido. Quanto a Helena, é perdoada por Menelau e volta a casa como rainha, de novo.

Por fim, recorde-se a frase de Aquiles, em cólera e relembrando suas batalhas passadas: “Passei muitas noites insones e dias sangrentos na batalha, lutando com outros homens por suas mulheres.”


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Além de Darwin: o que sabemos sobre a história da vida ...”

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