Luís XIV, o Rei-Sol, tinha como
Ministro de Estado um craque da arte de extorquir dinheiro do povo: Jean
Baptiste Colbert, de 1661 a 1683. Usou tudo o que esteve a seu alcance:
impostos elevados, novas contribuições e, com esmero, o mercantilismo – nome derivado
de mercantile. Colbert via as manufaturas como um empreendimento nacional. Criara
o colbertismo.
O objetivo final do mercantilismo
era garantir saldos comerciais positivos. O produto era investido no próprio
Estado: exércitos e, sobretudo, com a Corte. Reinava o absolutismo. Daí a
lógica colonial de exportar matérias-primas a preços reduzidos e exclusivamente
para a metrópole, que o exportava após beneficiamento, a preços elevados, às
vezes para a própria colônia.
Colbert foi responsável por obras
que baratearam o transporte interno, extinguiu taxas que incidiam sobre estes
construiu Canais – o mais famoso foi o Canal du Midi, ligando o Atlântico ao
Mediterrâneo. Fomentou especialmente a manufatura de bens de alta qualidade,
alto valor agregado, caros no mercado internacional: móveis nobres, vinho,
queijo, produtos metalúrgicos ficaram famosos no mundo. Espalhou espiões
industriais por diversos países europeus. Emprestou bastante dinheiro a que
quisesse investir em uma fabrique.
Também elevou bastante as tarifas
de importação.
No entanto, o excesso de
regulação, apesar do número elevado de manufaturas surgidas, foi alvo de críticas.
As taxas dificultavam o comércio com outros países, pois geravam retaliação. Os
industriais tinham de adaptar sua produção às normas estatais. Os impostos
internos não ajudavam na produção de mercadorias que não fossem voltadas para a
exportação. Além disso, a riqueza cada vez mais disponível para a Corte não
ajudava a pôr fim aos privilégios feudais, que prejudicavam os camponeses.
Diz-se que, por volta de 1680,
Colbert se reuniu com comerciantes. Perguntou-lhes o que poderia fazer para melhorar
seus negócios. Um deles, chamado Legendre, respondeu: “Laissez nous faire”, ou
Deixe-nos trabalhar.
Um funcionário estatal chamado
Boisguilbert, escreveu em 1695 O Detalhe da França. Nele argumentava sobre os
problemas econômicos do país. Dizia que a razão da decadência da economia
francesa residia principalmente, na proibição da exportação de cereais. Em
Factum de la France, de 11707, escreveu: “Só era preciso deixar a liberdade e a
natureza trabalharem”.
Os partidários dessa ideologia
alternativa ao mercantilismo denominavam-se fisiocratas: isto é, governo da
natureza. Seu maior representante, Françoise Quesnay, via a economia como um
sistema de circulação análogo à circulação sanguínea. Quesnay era médico.
Deixando-a livre, tudo se equaliza. Laissez faire, laissez passer – deixai fazer,
deixai passar -, teria sido dito pelo marquês Vincent de Gournay.
Argumentavam que mesmo as
melhores cabeças, não conseguiriam pensar em todas as nuances que regem a
economia. Algo que lembra as críticas voltadas ao dirigismo estatal. Era mesmo
precursoras dos escritos de Adam Smith, em 1776. Cheira ao conceito de mão
invisível.
No entanto, enquanto escrevia
sobre a liberdade econômica, na França tramava-se a queda de Jacques Turgot,
fisiocrata e Ministro. Cem anos após a morte de Colbert, Turgot tentava
reformar o sistema criado por aquele. No entanto, seu insucesso cimentou o
caminho para a Revolução francesa, em 1789.
Rubem L. de F. Auto.
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