Pesquisar as postagens

terça-feira, 8 de novembro de 2016

REVOLUÇÃO NEOLÍTICA – UMA REVOLUÇÃO MENTAL E CULTURAL


Estudos voltados a apontar as dificuldades enfrentadas pelos povos caçadores-coletores, que viveram antes da invenção da agricultura, foram realizados em povos boxímanos – ou povo San – da África. Tais estudos apontaram que suas atividades de coleta de alimentos eram mais eficientes do que a dos agricultores europeus antes da II Guerra Mundial.

Tais estudos apontam que povos nômades trabalhavam em média de duas a quatro horas por dia. A agricultura primitiva, por outro lado, exige horas de trabalho extenunte, removendo pedras e rochas, com uso de ferramentas rudimentares.

Tais observações levaram a considerar que a revolução neolítica, que levou ao surgimento de aldeias, cidades e, por fim, civilizações, não foi movida por questões de ordem prática, mas mental e espiritual. O impulsionador foi a espiritualidade humana.

O monumento que levou a tal teoria chama-se Gobekli Tepe. Seu nome é um termo turco que significa “montanha barriguda”. Localiza-se na atual província de Urfa, sudeste da Turquia. Foi construída há 11.500 anos – é 7 mil anos mais antiga que a Pirâmide de Quéops. Não foi construída por colonos neolíticos, mas por caçadores-coletores nômades. É um monumento religioso, um verdadeiro Santuário construído 10 mil anos antes da Bíblia dos hebreus.

É formada por círculos de até 20 metros de diâmetro. Dois pilares em forma de T tentam reproduzir figuras humanóides – corpos alongados e estreitos com cabeças longilíneas. O mais alto tem 5,5 metros. Algumas de suas pedras pesam até 16 toneladas. Seu transporte precede a invenção de ferramentas de metal, da roda e da domesticação de animais de carga. Como se poderia supor, não havia nem mesmo cidades que concentrassem mão de obra suficiente para organizar a realização de grandes empreitadas como essa.

Como exposto numa edição de National Geographic: “descobrir que coletores-caçadores construíram Gobekli Tepe foi como encontrar alguém que tivesse feito um avião 747 no porão com ajuda de um estilete”.

Como o monumento também precede a escrita, não há textos sagrados impressos. A conclusão de que se trata de santuário advem de comparações com sítios e práticas religiosas posteriores. Por exemplo, os animais desenhados não representam caças por meios das quais subsistiam, mas criaturas ameaçadoras, como leões, javalis, escorpiões e uma fera que lembra um chacal. Assemelham-se muito mais com animais míticos ou simbólicos.

Os povos que visitavam Gobekli Tepe o faziam por compromisso. O santuário ficava afastado, ninguém habitava o local. Alguns povos chegavam a caminhar mais de cem quilômetros até lá. No entanto, encontraram osso de milhares de gazelas e bisões, que parecem ter sido levados como alimentos.

Conclusão: primeiro sofremos mudanças socioculturais; depois, inventamos a agricultura. Isto é, o surgimento do ritual religioso praticado em grupo levou à construção de locais sagrados para a prática de tais rituais. Tais centros religiosos atraiam povos nômades de localidades diversas e dispersas para órbitas mais próximas. Disso resultou o estabelecimento de aldeias baseadas em convicções e sistemas religiosos comuns.

Quando Gobekli Tepe foi construído os Tigres Ddentes-de-Sabre ainda vagavam pela Ásia. Os Homo Floresiensis, hominídeo antecessor aos Homo Sapiens e capazes de forjar ferramentas de até um metro de altura, haviam sido extintos havia poucos séculos.

Sem dúvidas, a passagem de perguntas de natureza prática para questionamentos acerca da espiritualidade representa um patamar acima na escala revolucionária. Como disse o arqueólogo Ian Hodder, de Stanford: “É possível afirmar que Gobekli Tepe é a verdadeira origem das sociedades complexas do Neolítico”.



Rubem L. de F. Auto 

Fonte: livro "De Primatas a Astronautas".

Nenhum comentário:

Postar um comentário