Maria Antonieta, ou Marie
Antoinette, era uma rainha a caminho de um fim trágico, dsejado por todo o país
que governava. Contudo, inesperadamente, foi enterrada com uma pontinha de
admiração pelos mesmos que a odiavam. Admiração pela coragem e pela dignidade
demonstrados no momento mais difícil que ela teria de enfrentar.
Maria Antonia Josephe Johanna era
a filha mais nova da imperatriz Maria Teresa. Seguiu o famoso lema da família
Habsburg: “Deixa que os outros façam a guerra, tu, feliz Áustria, casa-te!”
Estando a França desejosa de
estabelecer aliança com a Áustria, o ministro francês Choiseul arranjou o
casamento de Antonieta com o delfim e futuro rei Luís XVI. Foi eleita com
apenas 14 anos. Sua educação, até aquele momento, foi absolutamente descuidada.
Embora tenha aprendido os rituais cortesãos de Versalhes, pessoalmente era
famosa reconhecida como: bela, caprichosa, atrevida, superficial e distraída.
Também era amante de música e chegou a tocar com o jovem Mozart. Com o tempos,
foi acusada de esbanjar com diversões e jogos de azar.
Chegou à França em 1770. O delfim
tinha, à época, 15 anos. Era gorducho, impertinente e sabidamente bonachão. Em
1774, o casal assumiu a coroa francesa.
Em princípio, ficou patente que
Antonieta influenciava diretamente em diversas decisões do rei. Audiências com
ela muitas vezes terminavam em humilhação pública. Tornou-se comum referir-se a
ela como a austríaca – L`Autrichienne. Para completar, o aguardado futuro
herdeiro não nascia, fato que só ocorreu após sete anos do casamento. Problemas
em seu crepúsculo faziam com que o ato sexual fosse um sofrimento para Luís
XVI, o que levou a rainha a buscar a satisfação com seus prediletos da corte.
A primeira gravidez deu
nascimento a uma menina. Em 1781, nasceu o delfim Louis Joseph Alexander. Antonieta
mudou completamente. Passou a se dedicar apenas aos filhos, sendo vista como
mãe atenciosa. Afastou-se da politicagem da corte.
Em 1785, ocorreu um episódio que
a marcou negativamente. Um joalheiro, de nome Bohmer, em 1785, reclamou o
pagamento de 1,5 milhões de libras por um colar de diamantes encomendado pelo
Cardeal Ruão em nome da rainha. Ela negou tudo e chegou a pedir a prisão do
cardeal. O rei enviou o assunto ao Parlamento, para que este decidisse. Após
investigar o caso, concluiu-se pela inocência de Antonieta e do cardeal. Um
casal de aventureiros foi o responsável. Entretanto, após o episódio a
população passou a tratá-la com ainda mais desprezo.
O país estava à beira da
falência, mas os grupos de maior força eram o clero e a nobreza, que impunham
sua vontade no Parlamento e se opunham a qualquer tentativa de conter
privilégios e reformar o Estado.
O rei convocou os Estados Gerais,
assembléia a que acudiam representantes da nobreza, do clero e do terceiro
estado (seriam as pessoas comuns mas, de fato, apenas burgueses). Foi a
primeira convocação desde 1614. Clero e nobreza se uniram contra os terceiro
estado. Questões de ordem travaram todo o debate.
Em 20 de junho, soldados foram
postos na porta da sala de reuniões. O clima esquentava e o rei não aceitava a idéia
de uma Constituição e de igualdade entre todos. A explosão de ânimos ocorreu em
14 de julho de 1789, quando o povo de Paris assaltou a fortaleza da Bastilha, cujos
canhões estavam apontados para os bairros operários. Tomaram-na e cortaram a
cabeça de seu administrador, Bernard de Launay, cuja cabeça desfilou por toda a
cidade.
Antonieta chegou a propor ao seu
marido a fuga, mas Luís se recusou. Contudo, a teimosia de Luís em não extinguir
todos os privilégios aristocráticos de raiz feudal foi interpretada, pelo povo,
como má influência de sua esposa. Daí surgiu a anedota: Maria Antonieta teria
perguntado a seu cocheiro, durante um passeio por que as pessoas pareciam tão
desgraçadas. Respondeu o homem: “Majestade, não há pão para comer.” Ao que
Antonieta respondeu: “Se não tem pão, comam brioches.”
Provavelmente ela não disse essa
frase. Ela consta de um livro de Rousseau, Confissões, citada por uma princesa,
ao ver o povo faminto. Provavelmente a princesa em questão era Maria Teresa de
Espanha. Mas Antonieta era odiada, costumava ser insultada em panfletos e peças
de teatro, tendo sido ainda acusada de incesto com seu filho.
Em junho de 1791, houve a
tentativa desesperada de fuga da família real. Foram reconhecidos e detidos em
Paris, no palácio das Tulherias. Em 1792, as Tulherias foram assaltadas e a
família real transferida para a prisão do Temple. Luís XVI foi deposto: seria
agora Luís Capet, apenas um cidadão.
A punição à família real poderia
ter parado nesse momento, porém foi achado um plano escondido, em posse de
Luís, para instaurar um contrarrevolução. O processo contra si tornou-se
inevitável.
O medo por parte dos
Revolucionários era grande. As Casas Reais européias (Áustria, Piemonte,
Prússia, Grã Bretanha e Espanha) eram claramente contra a substituição da Monarquia
francesa por uma República. Em 1792, houve a batalha de Valmy, em que os
revolucionários saíram-se vitoriosos. Foi um ponto de inflexão e renovou os
ânimos em favor dos revolucionários. A vitória foi tão surpreendente que levou
Goethe a exclamar: “Hoje e aqui começa uma nova época da história universal, e
podereis dizer que haveis sido testemunhas disso.”
No dia 21 de janeiro de 1793,
Luís foi decapitado, após ser condenado na Convençaõ Nacional por 361 votos a
favor e 360 contra. O ato foi realizado na Place de La Révolution (atualmente
Place de La Concorde).
L`Antoinette, agora viúva Capet,
impressionou pela dignidade. Ficou presa na Conciergerie ao lado de 2.500
detentos. Ficava sob constante vigilância. Fora separada de seu filho, que
morreu aos 10 anos de idade, na prisão. Depois, fora separada de sua filha, a
única sobrevivente da família real.
Em 14 de outubro de 1793, o
acusador público Fouquier-Tinville iniciou o processo contra Antonieta. Foram
15 horas de depoimentos, com participação de inúmeras testemunhas. Uma delas
foi o jornalista Jacques-René Hébert, relembrou as acusações por incesto com o
filho mais novo. Também foi acusada de vazar informações que ajudariam a
Áustria contra a França. Nada foi demonstrado.
Foi condenada. Porém, antes
escreveu uma carta a sua cunhada, ainda mantida presa: “Acabam de me condenar,
não a uma morte desonrosa, só o seria a um criminoso, mas a reunir-me a vosso
irmão ... Peço perdão a todos aqueles que conheço ... Por qualquer mal que, sem
o saber, lhes tenha causado ... Adieu, boa e doce irmã! ... Envio-vos um abraço
de todo o meu coração para vós e para todos os vossos queridos filhos!”
Elisabeth, que não recebeu esta carta, também foi guilhotinada.
Em 16 de outubro de 1793, fora
levada ao cadafalso, em carruagem, de mão atadas e cabelo cortados, já
grisalhos, cabeça coberta por um gorro. A procissão inteira durou uma hora.
Subiu as escadas do estrado, postou-se frente à guilhotina. Quatro minutos
depois, a lâmina finalmente caiu. O verdugo mostrou a cabeça à multidão. Todos
gritaram: “Viva a revolução!”
O jornalista Hébert escreveu: “Finalmente
a maldita cabeça foi separada do corpo da puta! Mas tenho de admitir: o cadáver
foi até ao fim ousado e atrevido!” Seis meses após, ele próprio viu-se no
cadafalso.
Rubem L. de F. Auto
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