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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

L`ANTOINETTE, UMA RAINHA AUSTRÍACA SEM NOÇÃO?


Maria Antonieta, ou Marie Antoinette, era uma rainha a caminho de um fim trágico, dsejado por todo o país que governava. Contudo, inesperadamente, foi enterrada com uma pontinha de admiração pelos mesmos que a odiavam. Admiração pela coragem e pela dignidade demonstrados no momento mais difícil que ela teria de enfrentar.

Maria Antonia Josephe Johanna era a filha mais nova da imperatriz Maria Teresa. Seguiu o famoso lema da família Habsburg: “Deixa que os outros façam a guerra, tu, feliz Áustria, casa-te!”

Estando a França desejosa de estabelecer aliança com a Áustria, o ministro francês Choiseul arranjou o casamento de Antonieta com o delfim e futuro rei Luís XVI. Foi eleita com apenas 14 anos. Sua educação, até aquele momento, foi absolutamente descuidada. Embora tenha aprendido os rituais cortesãos de Versalhes, pessoalmente era famosa reconhecida como: bela, caprichosa, atrevida, superficial e distraída. Também era amante de música e chegou a tocar com o jovem Mozart. Com o tempos, foi acusada de esbanjar com diversões e jogos de azar.  

Chegou à França em 1770. O delfim tinha, à época, 15 anos. Era gorducho, impertinente e sabidamente bonachão. Em 1774, o casal assumiu a coroa francesa.

Em princípio, ficou patente que Antonieta influenciava diretamente em diversas decisões do rei. Audiências com ela muitas vezes terminavam em humilhação pública. Tornou-se comum referir-se a ela como a austríaca – L`Autrichienne. Para completar, o aguardado futuro herdeiro não nascia, fato que só ocorreu após sete anos do casamento. Problemas em seu crepúsculo faziam com que o ato sexual fosse um sofrimento para Luís XVI, o que levou a rainha a buscar a satisfação com seus prediletos da corte.
A primeira gravidez deu nascimento a uma menina. Em 1781, nasceu o delfim Louis Joseph Alexander. Antonieta mudou completamente. Passou a se dedicar apenas aos filhos, sendo vista como mãe atenciosa. Afastou-se da politicagem da corte.

Em 1785, ocorreu um episódio que a marcou negativamente. Um joalheiro, de nome Bohmer, em 1785, reclamou o pagamento de 1,5 milhões de libras por um colar de diamantes encomendado pelo Cardeal Ruão em nome da rainha. Ela negou tudo e chegou a pedir a prisão do cardeal. O rei enviou o assunto ao Parlamento, para que este decidisse. Após investigar o caso, concluiu-se pela inocência de Antonieta e do cardeal. Um casal de aventureiros foi o responsável. Entretanto, após o episódio a população passou a tratá-la com ainda mais desprezo.

O país estava à beira da falência, mas os grupos de maior força eram o clero e a nobreza, que impunham sua vontade no Parlamento e se opunham a qualquer tentativa de conter privilégios e reformar o Estado.
O rei convocou os Estados Gerais, assembléia a que acudiam representantes da nobreza, do clero e do terceiro estado (seriam as pessoas comuns mas, de fato, apenas burgueses). Foi a primeira convocação desde 1614. Clero e nobreza se uniram contra os terceiro estado. Questões de ordem travaram todo o debate.

Em 20 de junho, soldados foram postos na porta da sala de reuniões. O clima esquentava e o rei não aceitava a idéia de uma Constituição e de igualdade entre todos. A explosão de ânimos ocorreu em 14 de julho de 1789, quando o povo de Paris assaltou a fortaleza da Bastilha, cujos canhões estavam apontados para os bairros operários. Tomaram-na e cortaram a cabeça de seu administrador, Bernard de Launay, cuja cabeça desfilou por toda a cidade.

Antonieta chegou a propor ao seu marido a fuga, mas Luís se recusou. Contudo, a teimosia de Luís em não extinguir todos os privilégios aristocráticos de raiz feudal foi interpretada, pelo povo, como má influência de sua esposa. Daí surgiu a anedota: Maria Antonieta teria perguntado a seu cocheiro, durante um passeio por que as pessoas pareciam tão desgraçadas. Respondeu o homem: “Majestade, não há pão para comer.” Ao que Antonieta respondeu: “Se não tem pão, comam brioches.”

Provavelmente ela não disse essa frase. Ela consta de um livro de Rousseau, Confissões, citada por uma princesa, ao ver o povo faminto. Provavelmente a princesa em questão era Maria Teresa de Espanha. Mas Antonieta era odiada, costumava ser insultada em panfletos e peças de teatro, tendo sido ainda acusada de incesto com seu filho.

Em junho de 1791, houve a tentativa desesperada de fuga da família real. Foram reconhecidos e detidos em Paris, no palácio das Tulherias. Em 1792, as Tulherias foram assaltadas e a família real transferida para a prisão do Temple. Luís XVI foi deposto: seria agora Luís Capet, apenas um cidadão.

A punição à família real poderia ter parado nesse momento, porém foi achado um plano escondido, em posse de Luís, para instaurar um contrarrevolução. O processo contra si tornou-se inevitável.

O medo por parte dos Revolucionários era grande. As Casas Reais européias (Áustria, Piemonte, Prússia, Grã Bretanha e Espanha) eram claramente contra a substituição da Monarquia francesa por uma República. Em 1792, houve a batalha de Valmy, em que os revolucionários saíram-se vitoriosos. Foi um ponto de inflexão e renovou os ânimos em favor dos revolucionários. A vitória foi tão surpreendente que levou Goethe a exclamar: “Hoje e aqui começa uma nova época da história universal, e podereis dizer que haveis sido testemunhas disso.”

No dia 21 de janeiro de 1793, Luís foi decapitado, após ser condenado na Convençaõ Nacional por 361 votos a favor e 360 contra. O ato foi realizado na Place de La Révolution (atualmente Place de La Concorde).

L`Antoinette, agora viúva Capet, impressionou pela dignidade. Ficou presa na Conciergerie ao lado de 2.500 detentos. Ficava sob constante vigilância. Fora separada de seu filho, que morreu aos 10 anos de idade, na prisão. Depois, fora separada de sua filha, a única sobrevivente da família real.

Em 14 de outubro de 1793, o acusador público Fouquier-Tinville iniciou o processo contra Antonieta. Foram 15 horas de depoimentos, com participação de inúmeras testemunhas. Uma delas foi o jornalista Jacques-René Hébert, relembrou as acusações por incesto com o filho mais novo. Também foi acusada de vazar informações que ajudariam a Áustria contra a França. Nada foi demonstrado.

Foi condenada. Porém, antes escreveu uma carta a sua cunhada, ainda mantida presa: “Acabam de me condenar, não a uma morte desonrosa, só o seria a um criminoso, mas a reunir-me a vosso irmão ... Peço perdão a todos aqueles que conheço ... Por qualquer mal que, sem o saber, lhes tenha causado ... Adieu, boa e doce irmã! ... Envio-vos um abraço de todo o meu coração para vós e para todos os vossos queridos filhos!” Elisabeth, que não recebeu esta carta, também foi guilhotinada.

Em 16 de outubro de 1793, fora levada ao cadafalso, em carruagem, de mão atadas e cabelo cortados, já grisalhos, cabeça coberta por um gorro. A procissão inteira durou uma hora. Subiu as escadas do estrado, postou-se frente à guilhotina. Quatro minutos depois, a lâmina finalmente caiu. O verdugo mostrou a cabeça à multidão. Todos gritaram: “Viva a revolução!”

O jornalista Hébert escreveu: “Finalmente a maldita cabeça foi separada do corpo da puta! Mas tenho de admitir: o cadáver foi até ao fim ousado e atrevido!” Seis meses após, ele próprio viu-se no cadafalso.


Rubem L. de F. Auto     

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