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terça-feira, 8 de novembro de 2016

A SINFONIA DO DNA



Os filamentos do DNA possuem metros e ficam pressionados dentro do núcleo das células. Nós e emaranhados são formados por diversas razões: comprimento, atividade química e espaço bastante reduzido.

Todos nós conhecemos esse processo: guarde os fones de ouvido dentro do bolso da mochila e tente desenrolar depois. Essa é uma boa simulação do comportamento do DNA dentro do núcleo.

Esses nós e entrelaçamentos podem provocar um efeito de descarrilamento, pois a célula precisa de pistas para copiar e transcrever o DNA. Para copiar, é necessário separar os dois filamentos. Caso haja um nó, o processo fica inviabilizado. No caso de entrelaçamento, se os fios não conseguirem se desembaraçar, as células se suicidam.

O mecanismo que nosso organismo possui para evitar que torções, contorções e nós ocorridos no nosso DNA possam causar lesões sérias são proteínas chamadas topoisomerases. Algumas desprendem cadeias de DNA. Outras rotacionam uma fita inteira em torno da outra. Outras, mais fantásticas, cortam a fita, desfazem o nó e religam as pontas.

Um lingüista de nome George Kingsley Zipf desenvolveu uma teoria, após analisar as palavras e a freqüência de sua ocorrência em textos clássicos. Ela dizia que a palavra mais comuns num idioma aparece cerca de duas vezes mais que a segunda; três vezes mais que a terceira e assim por diante. Cem vezes mais que a centésima palavra mais comum, por exemplo. Ficou conhecida como Lei de Zipf.

Essa lei foi aplicada à “linguagem do DNA”. Difícil imaginar uma sequência de bases químicas como um texto escrito numa língua ocidental. Seria um texto sem espaços, pontuação etc. Entretanto, as bases estão organizadas em pequenas sequências relacionadas funcionamente chamadas códons. Cada códon codifica um aminoácido. Para trabalhar com um conceito próximo ao de “palavra”, os cientistas passarm a trabalhar com grupos de códons. Qual não foi a surpresa ao perceber que o mecanismo de funcionamento imaginado se assemelhava ao idioma chinês!

Mecanismos de buscas baseados no idioma inglês foram a base técnica para o desenvolvimento de técnicas de leitura do DNA. Ao fim da análise, descobriu-se que o DNA obedece À Lei de Zipf. A língua do DNa seria baseada grupos de mais ou menos doze bases. Descobriu-se que a menor unidade do DNA são quatro códons trabalhando juntos. A freqüência de genes, conforme Zipf, reflete-se na freqüência de proteínas no nosso organismo.

E não só. O DNA também já foi estudado em termos musicais. Músicos traduziram a sequência A-C-G-T da serotonina em canção. Cada letra tornou-se a nota correspondente, exceto pelo T, que virou E (portanto, Lá, Dó, Sol, Mi). Que tal atribuir notas harmônicas aos aminoácidos mais frequentes ? Assim o DNa tornou-se uma música bem complexa. Será que nossa pecepção musical tem relação direta com nosso DNA?

Que tal inverter a ordem dos experimentos? Traduziram notas de um noturno de Chopin em DNA. Chegaram a um esquema quase semelhante ao RNA da polimerase. Esta proteína está presente em todos os seres vivos e forma o RNA a partir do DNA.

Percebeu o processo da natureza? A polimerase usa DNA e cria RNA; RNA cria proteínas; proteínas formam células; células constituem pessoas ... como Chopin; que cria músicas harmoniosas; que são decodificadas em polimerases. Musicologia com oncologia!

Astrônomos, da Grécia antiga a Kepler, acreditavam que, ao percorrer seu trajeto pelo céu, os planetas criavam uma “musica universalis”. Talvez ela esteja mesmo é no nosso DNA.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro "O polegar do violinista".  

     

  

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