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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

ROUSSEAU E A LUTA CONTRA A DESIGUALDADE


Ao lado de Voltaire, Jean-Jacques Rousseau é destaque do iluminismo francês. Mas não se imagine que fosse um ser da razão. Foi o mais emocional dos grandes pensadores.

Nasceu em Genebra, em 1712. Trabalhou como relojoeiro. Depois, como mestre gravador. Fugiu de sua cidade e conheceu uma mulher mais velha e endinheirada. Abandonou-a. Escreveu um texto sobre teoria musical. Depois foi secretário do embaixador francês em Veneza, quando já fazia parte dos círculos intelectuais de Paris. Terminou por casar-se com uma lavadeira, com quem teve cinco filhos ... que entregou ao orfanato. Este foi o autor de “Émile”, que revolucionaria a pedagogia e o ensino.

Em 1750, a Academia de Dijon publicou um concurso em que perguntava: “Em que medida a arte e a ciência contribuíram para a melhoria dos costumes ?” A resposta de Rousseau dizia que ambas não haviam contribuído em nada para a melhoria dos costumes. Para ele, as artes e as ciências serviam apenas para mascarar a injustiça da sociedade. Se todos os homens fossem livres, então todos seriam iguais, como o é a natureza, então ninguém necessitaria nem de artes nem de ciências. Segundo Rousseau, a simplicidade, a inocência e a pobreza são as únicas fontes de felicidade. Seu texto ficou em primeiro lugar.

Aqui, já ficava patente seu lema: retorno à natureza. Lugar de convivência em liberdade, da simplicidade. Estado de harmonia que os homens abandonaram há tempos. Não havia línguas nem opressão, só amor.  

Seu texto foi bastante comentado. A Academia abriu um segundo concurso. A pergunta: “Como surgiu a desigualdade ?” Rousseau escreveu um segundo tratado. Ele diferenciou dois tipos de desigualdade: a físico-natural e a político-moral. A físico-natural se relaciona a saúde, força física, psique, idade ... A político-moral é criada pelos homens.     

Como? Disse Rousseau: “O primeiro homem que, ao marcar um terreno, afirmou isto é meu, encontrando gente tão simples que acreditou nisso, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil”. A propriedade da terra era a origem do mal. O passo seguinte foi a criação das leis e dos governos. A partir de então, foi tomada naturalmente a existência de pobres e ricos.

Poderia essa realidade ser superada? A resposta de Rousseau vem em “O Contrato Social”, publicado em 1762. Esta obra se inicia assim: “O homem nasce livre, porém, em todos os lados está acorrentado”. Está aí sua pretensão de superar a desigualdade. Cria que a violência estatal deveria se conformar às liberdades naturais. O contrato social seria estabelecido em votações.

As críticas diziam respeito à inexistência de limites às decisões da maioria. A chamada “vontade geral”, inclusive, costuma ser a justificativa para abusos de governos autoritários. Entretanto, segundo a teoria de Rousseau, os indivíduos cediam seus direitos ao Estado, segundo uma lei comum, o que reduzia o espaço para arbitrariedades.

No mesmo ano de publicação de “O Contrato Social”, foi publicado “Emílio, ou da educação”. Também foi um sucesso. Propugnava que os educandos deveriam ficar o máximo de tempo afastados do mundo desnaturalizado dos adultos. O Parlamento de Paris mandou que fossem queimados publicamente. Rousseau teve de fugir. Foi para a Inglaterra, onde se hospedou na casa de seu amigo, David Hume.

Infelizmente, nesse momento, passou a se indispor com as pessoas. Disse sobre Voltaire “Odeio-o !”, já há alguns anos. Teve problemas com Hume. Acreditava que havia uma conspiração contra si. Morreu doente, pobre e amargurado.

Após sua morte, foi publicado “Confissões”. Ali, dá testemunho detalhado de toda a sua vida.

Immanuel Kant somente tinha um quadro: o retrato de Rousseau. Lembrava-o, talvez, de que os homens têm razão, mas têm coração também. Disse Kant: “Sou investigador por inclinação e sinto desejo de conhecer. Houve um tempo em que acreditava que só isso podeia constituir a honra da humanidade. Rousseau corrigiu-me. Esta preferência imaginária desapareceu. Aprendi, então, a honrar o ser humano”.

É considerado um dos pais do romantismo.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “História do mundo em 50 frases.”
         




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