Ao lado de Voltaire, Jean-Jacques
Rousseau é destaque do iluminismo francês. Mas não se imagine que fosse um ser
da razão. Foi o mais emocional dos grandes pensadores.
Nasceu em Genebra, em 1712. Trabalhou
como relojoeiro. Depois, como mestre gravador. Fugiu de sua cidade e conheceu
uma mulher mais velha e endinheirada. Abandonou-a. Escreveu um texto sobre
teoria musical. Depois foi secretário do embaixador francês em Veneza, quando
já fazia parte dos círculos intelectuais de Paris. Terminou por casar-se com
uma lavadeira, com quem teve cinco filhos ... que entregou ao orfanato. Este
foi o autor de “Émile”, que revolucionaria a pedagogia e o ensino.
Em 1750, a Academia de Dijon
publicou um concurso em que perguntava: “Em que medida a arte e a ciência
contribuíram para a melhoria dos costumes ?” A resposta de Rousseau dizia que
ambas não haviam contribuído em nada para a melhoria dos costumes. Para ele, as
artes e as ciências serviam apenas para mascarar a injustiça da sociedade. Se
todos os homens fossem livres, então todos seriam iguais, como o é a natureza,
então ninguém necessitaria nem de artes nem de ciências. Segundo Rousseau, a
simplicidade, a inocência e a pobreza são as únicas fontes de felicidade. Seu
texto ficou em primeiro lugar.
Aqui, já ficava patente seu lema:
retorno à natureza. Lugar de convivência em liberdade, da simplicidade. Estado
de harmonia que os homens abandonaram há tempos. Não havia línguas nem
opressão, só amor.
Seu texto foi bastante comentado.
A Academia abriu um segundo concurso. A pergunta: “Como surgiu a desigualdade ?”
Rousseau escreveu um segundo tratado. Ele diferenciou dois tipos de desigualdade:
a físico-natural e a político-moral. A físico-natural se relaciona a saúde,
força física, psique, idade ... A político-moral é criada pelos homens.
Como? Disse Rousseau: “O primeiro
homem que, ao marcar um terreno, afirmou isto é meu, encontrando gente tão
simples que acreditou nisso, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil”. A propriedade
da terra era a origem do mal. O passo seguinte foi a criação das leis e dos
governos. A partir de então, foi tomada naturalmente a existência de pobres e
ricos.
Poderia essa realidade ser superada?
A resposta de Rousseau vem em “O Contrato Social”, publicado em 1762. Esta obra
se inicia assim: “O homem nasce livre, porém, em todos os lados está
acorrentado”. Está aí sua pretensão de superar a desigualdade. Cria que a
violência estatal deveria se conformar às liberdades naturais. O contrato
social seria estabelecido em votações.
As críticas diziam respeito à
inexistência de limites às decisões da maioria. A chamada “vontade geral”,
inclusive, costuma ser a justificativa para abusos de governos autoritários.
Entretanto, segundo a teoria de Rousseau, os indivíduos cediam seus direitos ao
Estado, segundo uma lei comum, o que reduzia o espaço para arbitrariedades.
No mesmo ano de publicação de “O
Contrato Social”, foi publicado “Emílio, ou da educação”. Também foi um
sucesso. Propugnava que os educandos deveriam ficar o máximo de tempo afastados
do mundo desnaturalizado dos adultos. O Parlamento de Paris mandou que fossem
queimados publicamente. Rousseau teve de fugir. Foi para a Inglaterra, onde se
hospedou na casa de seu amigo, David Hume.
Infelizmente, nesse momento,
passou a se indispor com as pessoas. Disse sobre Voltaire “Odeio-o !”, já há alguns
anos. Teve problemas com Hume. Acreditava que havia uma conspiração contra si.
Morreu doente, pobre e amargurado.
Após sua morte, foi publicado “Confissões”.
Ali, dá testemunho detalhado de toda a sua vida.
Immanuel Kant somente tinha um
quadro: o retrato de Rousseau. Lembrava-o, talvez, de que os homens têm razão, mas
têm coração também. Disse Kant: “Sou investigador por inclinação e sinto desejo
de conhecer. Houve um tempo em que acreditava que só isso podeia constituir a
honra da humanidade. Rousseau corrigiu-me. Esta preferência imaginária
desapareceu. Aprendi, então, a honrar o ser humano”.
É considerado um dos pais do
romantismo.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “História do mundo
em 50 frases.”
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