O sequenciamento do DNA em estudos de paleontologia pode
gerar resultados fantásticos. Basicamente, os cientistas determinam a sequência
de bases A-C-G-T de cada fragmento individual de DNA, depois usam um
sofisticado equipamento para juntar os infindáveis fragmentos. Os
paleontologeneticistas têm aplicado essa técnica a tecidos de zebras, lã de mamutes,
abelhas em âmbar etc. Mas o trabalho mais espetacular foi com o DNA de
neardertais.
Depois de descoberto, numa caverna na Alemanha, o neandertalenses
foi classificado como o elo perdido. Foi considerado meio tosco, rude. Porém,
como o tempo, sua inteligência surpreendeu. Usava ferramentas de pedra,
dominava o fogo, enterrava seus mortos. Poderia ser por imitação dos humanos.
Não tinha como saber.
Em 1987, descobriu-se que o DNA mitocondrial dos
neandertalenses mostrou que não eram nossos ancestrais diretos. Depois, em
2003, descobriu-se que seus cromossomos eram 99% semelhantes aos nossos. Por
essa análise, provavelmente tinham cabelos ruivos e eram brancos; tipo
sanguíneo O, o mais comum do mundo. Também, como a maioria dos humanos, não
digeriam leite depois de adultos. E tinham genes relacionados à capacidade para
linguagem.
Os neandertalenses digeriam carne melhor do que nós.
Provavelmente praticavam o canibalismo, o que não surpreenderia, por ter sido
uma prática bastante disseminada ente os humanos. Assinaturas em nossos genes
mostram funções relacionadas a combater doenças relacionadas ao canibalismo. A
doença da vaca louca era relacionada a comer cérebros humanos.
Uma coisa surpreendente no nosso DNA é que ele varia pouco.
Os 150 mil gorilas do mundo têm mais variedade genética dos que os 7 bilhões de
humanos. Isso é sinal de diversos gargalos biológicos que enfrentamos, como o
vulcão de Toba, na Indonésia, que entrou em erupção 70 mil aos atrás. Quase
eliminou o homo sapiens do planeta.
O gargalo do DNA foi resultado de um período de seis anos
sem sol. Foi suficiente para radicalizar a era do gelo que já tinha se iniciado
e provocar quedas de temperatura de até 20 graus célsius em alguns pontos. Já
estivemos na lista de animais em extinção.
Depois de adquirimos o aspecto mais moderno, devemos ter
passado por outro gargalo 200 mil anos atrás.
A pesquisa genética provou que os humanos surgiram na África
por lá ter sido encontrada a maior diversidade genética. O que é resultado
lógico de estarem mais próximos da origem da espécie. Por volta de 200 mil anos
atrás surgiram os genes APOE, que nos tornaram comedores de carne. 20 mil anos
após, surgiu a mutação que faz nossos cabelos crescerem indefinidamente. 30 mil
anos depois, pesquisas com piolhos confirmaram que passamos a usar roupas de pele.
Cerca de 130 mil anos atrás migramos em direção ao Oriente
Médio. No entanto algo deteve essa marcha. Passamos pelo gargalo provocado pela
erupção de Toba. Resistimos e nos recuperamos. Cerca de 60 mil anos atrás,
outro movimento migratório ocorreu, porém de maneira mais decidida. Eram alguns
milhares, que conseguiram atravessar o Mar Vermelho, em um período de estiagem.
O isolamento dos diversos clãs permitiu que pequenas mutações gerassem as
características físicas que distinguem europeus, asiáticos, africanos etc.
Na Ásia, correntes migratórias levaram à Austrália. Eram os
aborígenes. Uma onda posterior levou ao Oriente. Eram os asiáticos. Há 10 mil
anos, os primeiros americanos apareceram na Península de Bering. Na Ilha de
Páscoa, foram achados genes MHC, relacionados a nosso sistema imunológico, em
ameríndios. Isso indica viagens marítimas de ida e volta às Américas no início
do ano 1000.
A relação achada entre variedade de DNA e variedade de linguagens
foi confirmada com pessoas do sudeste da África, capazes de produzir uma
variedade enorme de sons em suas falas.
Já os neandentalenses, depois de prosperarem na Europa,
desapareceram cerca de 35 mil anos atrás. Porém, análises genéticas mostram que
carregamos genes deles em nossas células. Os humanos vagaram por terras do
Levante, habitadas por neandertalenses, após nosso surgimento, 60 mil anos
atrás. Ocorreram cruzamentos, relações sexuais entre machos e fêmeas de ambas
as espécies e o inevitável cruzamento genético ocorreu. Herdamos genes que
combatem doenças específicas, porém não há registros de genes nossos em neandertalenses.
Na verdade, a concentração e genes de homens de Neandertal é
mais em europeus e asiáticos os têm em maior monta. Africanos, por questões
geográficas, praticamente não os carregam. No entanto, em 2011 surgiram
evidências de que os africanos também tiveram ligação com outras espécies de
humanos. Humanos arcaicos e já extintos.
Parece que ainda há uma história de romance com outros humanos
ainda por ser descoberta.
Rubem L. de F. Auto
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