Por volta de 1500, na época do
descobrimento da América – e do Brasil, claro -, tem início um processo
acelerado se transformação do continente europeu. Normalmente lemos sobre a
vertente ocidental desse processo, que envolve a América e o noroeste da
Europa. Contudo, houve também a vertente oriental, envolvendo a Eurásia e os
seus reflexos sobre a história da Europa.
Em pouco mais d um século, o
principado de Moscou se transformou num imenso império. Até 1480, esse
principado era um estado tributário da Horda de Ouro mongol. Esta Horda reunia
diversos Estados fundados por conquistadores mongóis, que se organizavam em
torno de códigos morais e de conduta próprios. No seu avanço em direção ao mar
Cáspio, criou um império, financiado por comerciantes de peles do norte, das
florestas da Sibéria. Chegou ao Pacífico em 1639.
A Horda do Ouro mongol foi
destruída por Tamerlão, no séc. XIV, e se dividiu em: Criméia, Astracã, Kazan e
Sibir.
As origens da Rus’ encontram-se
nas migrações para leste de povos eslavos em direção às florestas. Na sua
expansão, enfrentaram povos nômades, a quem chamavam Tártaros. O primeiro
estado Russo tinha sede em Kiev. Esta cidade foi fundada por Vikings, como um
entreposto para explorar as rotas comerciais fluviais, que se estendiam de
Bizâncio (atual Istambul) aos estados europeus do mar Báltico, passando pelo
Oriente Médio.
Com o tempo, Kiev foi contagiada
pelo cristianismo ortodoxo dos bizantinos, em oposição aos poloneses e
lituanos, que praticavam o catolicismo romano. Grande parte da história russa
gira em torno do equilíbrio entre o legado cultural bizantino e a necessidade
de absorver os progressos políticos e econômicos da Europa Ocidental.
O primeiro rei totalmente
independente da Rússia dói Basílio II de Moscou. Foi sucedido por Ivan III, de
1462 a 1505, que manteve a independência do Estado russo e suas fronteiras
resguardadas.
Um dos grandes adversários da
expansão dos estados russos era a associação de monarquias entre Polônia e
Lituânia, cujos domínios de estendiam entre o Mar Negro e o Mar Báltico. Esses
estados passavam por um rápido progresso no século XV. O primeiro livro foi
impresso em Cracóvia, em 1423.
A maneira pela qual os russos se
consolidaram foi criando um Estado Dinástico, à maneira européia da época. Em
1492, Ivan III proclamou-se Grão-Duque de Moscou e de todas as Rússias.
Modificou totalmente a cidade de Moscou, convidando à mesma artesãos, construtores
e arquitetos italianos. Reorganizou toda a administração e burocracia estatais.
O sucessor Ivan IV, o Terrível, abriu a Rússia a alemães, ingleses e
holandeses, que vinham como soldados, comerciantes, colonos e engenheiros.
Contudo, as animosidades com o Latinstvo, ou Mundo Latino, permaneciam em
relação à Polônia e Lituânia. O século XVI testemunhou uma série de conflitos
entre esses atores.
A partir de 1550, a família
Stroganoves já tinha construído um império comercial de peles na Sibéria, onde
povos indígenas das florestas lhes forneciam o produto. A necessidade de
controlar esse comércio levou o estado russo a conquistar toda a Sibéria
ocidental, em 1585. A organização monárquica do estado russo o pôs à frente de
todos os povos os cercavam, levando à rápida conquista de territórios. Os
antigos membros da Horda de Ouro, como Kazan ou Astrakan , tornaram-se
protetorados russos, incapazes de reagir diante do poder muito superior da
monarquia russa.
Porém, os problemas como seus
vizinhos não pararam. Os tártaros invadiram Moscou, em 1592, e incendiaram toda
a cidade.
A defesa do Estado exigiu muito
esforço. Foram construídas linhas de defesa – uma delas se estendia por mais de
800 km bem guarnecidos – e realizadas alianças – como a que realizaram com a
Suécia para vencer a Polônia. Transformaram o exército de camponeses mal
armados num exército armado com pólvora, mosquetes e artilharia. No fim do
século XVI, a Rússia contava com mais de 100 mil soldados.
A manutenção de um Estado tão
extenso foi conseguida apenas pelo instituto da servidão, que usavam para conquistar
a lealdade da nobreza. A base da servidão era: autoridade estatal, domínio dos
nobres e influência da Igreja Ortodoxa.
A consolidação do Império Russo
teve que esperar mais algum tempo. Houve o período de terrorismo interno (a
cargo de Ivan, o Terrível) e pelo período de instabilidade política que levou
os Romanov ao poder, em 1613. Moscou ainda foi invadida pelos polacos em 1605 e
em 1610.
Portanto, ao se analisar o
desenvolvimento da Europa, não se pode olvidar a metade oriental de sua
expansão.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Ascensão e queda
dos impérios globais”
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