Pesquisar as postagens

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

KNUT: O URSINHO-POLAR PEDOMÓRFICO QUE DERRETEU CORAÇÕES


No começo de 2007, Knut era um filhote recém-nascido de urso polar, órfão de pai e abandonado pela mãe. Foi criado no Zoológico de Berlim. Até aqui, nada de anormal. Porém, um grupo de ativistas alemães defensores dos direitos dos animais fez uma proposta que causou comoção no mundo todo: sacrificar o bichano! Argumentavam que sua criação não seria natural e a separação futura de seu criador causaria imenso sofrimento no animalzinho.

Independente do que se pense sobre os métodos mais aconselháveis de criação de ursos-polares, parece ser algo desumano sacrificar um ursinho-polar. O mesmo vale para filhotes de mamíferos em geral: eles simplesmente parecem demais com bebês. A mente humana é pré-programada para se derreter diante de bichinhos fofinhos.

Segundo pesquisas, a preferência que nutrimos por traços de recém-nascidos serviu como motivo para a seleção da aparência de animais domésticos e mesmo de espécies na natureza, tudo realizado por nós, humanos.

O processo que será descrito a seguir tem um nome grego: pedomorfose, que chamaria de “cara de bebê”. Esta descreve a persistência de características infantis ao longo do processo de crescimento.

O que podemos perceber em comum entre bebês de mamíferos (e vertebrados em geral) e bebês humanos, especificamente? Cabeça desproporcionalmente grande em relação ao resto do corpo, olhos grandes, nariz ou focinho curto. No caso dos mamíferos, pelos ou pele macios e aquelas gordurinhas no queixo que deixam o rosto com aquele aspecto fofinho.

Mas qual seria a função dessa aparência? É claramente uma chantagem emocional direcionada aos adultos. A aparência de bebê sinaliza necessidades de cuidados, vulnerabilidades. As espécies que souberam melhor usar essa aparência, ao longo da evolução, foram mais paparicados pela mamãe e sobreviveram mais saudáveis. E assim esse aspecto físico persistiu nas gerações seguintes.

O mesmo ocorre nos cães. Contudo, nesse caso, o responsável por selecionar os mais fofos fomos nós, humanos. A pedomorfia é um aspecto presente nas raças de cães que mais se multiplicaram ao longo do tempo – evidentemente isso só ocorreu porque nós permitimos. Quais as características presentes nos cães que mais favoreceram sua evolução? Orlhas caídas, rabinhos que abanam, pelos com manchinhas, e que latem (em vez de uivar, como faziam seus ancestrais lobos).

Uma experiência, ainda em curso, na Rússia tenta explicar como ocorreu esse processo: cientistas passaram a selecionar raposas pelo critério de docilidade - as mais mansas tinham a preferência na hora da reprodução. Após algumas gerações, selecionaram-se basicamente raposas de orelhas caídas e de pelo manchado, aparentemente quase cachorros.

Por fim, alguns sustentam que nós mesmos somos versões “pedomorfisadas” de chimpanzés. Sustenta-se que aspectos, como os poucos pelos que temos, é resultado apenas de nossa preferência e resultou nessa pedomorfose.

O famoso paleontólogo Stephen Jay Gould realizou essa análise num famoso ratinho: Mickey Mouse. Ao pôr diversas imagens que Mickey foi tomando ao longo dos anos, analisando as diferenças nos desenhos do ratinho, desde seu nascimento quase adulto, Gould demonstrou que, inconscientemente, os desenhistas da Disney faziam uma espécie de pedomorfose.

A explicação metabólica para a pedomorfose é a redução no ritmo de desenvolvimento, um atraso nas mudanças morfológicas que levam à aparência adulta. Qual a causa da seleção de quem tem a cara mais infantil? Seleção sexual: traços de quem “precisa de carinho e proteção” devem ter sido considerados mais atraentes na hora de conseguir um parceiro sexual. Caso tenham se revelado vantajosas nesse sentido, tais características fatalmente persistiram nas gerações seguintes.

Entendeu porque tantas pessoas queriam espancar uns alemães “defensores” dos animais?


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Além de Darwin: o que sabemos sobre a vida ...”

http://img.timeinc.net/time/photoessays/2008/flocke/flocke_01.jpg


Nenhum comentário:

Postar um comentário