Perguntinha bem fácil: qual o
animal mais inteligente da Terra? Humanos? Parece ser a resposta mais lógica.
Mas, que tal questioná-la um pouco mais?
O órgão sede da inteligência é o
cérebro. Nossa vantagem como animais mais inteligentes se reflete em alguns
dados, como massa encefálica proporcionalmente muito grande em relação à massa
corporal. Também temos um cérebro bem complexo, com dobras que aumentam
bastante sua área, o que, em tese, reflete uma estrutura maior do que aquela
que teria se fosse um órgão liso, sem rugas.
Contudo, apenas as informações
acima dariam como resposta à pergunta lá em cima uma resposta diferente: os
animais mais inteligentes da Terra seriam os odontocetos! Fazem parte deste
grupo os golfinhos, orcas e outros parentes da baleia, porém com dentes (daí o “odonto”
no nome deles). O cérebro deles supera o nosso em tamanho absoluto, tamanho
relativo e quantidade de dobras na região córtex (responsável pelos nossos
pensamentos mais complexos e abstratos).
Mas, quais seriam as capacidades
fenomenais adquiridas por esses animais ao contarem com uma massa cinzenta tão
massiva? A resposta necessita de uma análise regressiva, primeiramente. OS
primeiros cetáceos – seres ancestrais das baleias – foram mamíferos terrestres
(com cascos) que retornaram aos mares. Esse retorno se deu há cerca de 55
milhões de anos. Como mamíferos terrestres, eram primos próximos de hipopótamos
e porcos.
Até aqui temos uma evidência do
motivo para terem desenvolvidos cérebros tão grandes: a passagem de seres
terrestres para o formato de peixe, certamente envolve uma metamorfose intensa,
que exige o desenvolvimento de habilidades que fazem uso de funções cerebrais
importantes. As próprias questões ambientais podem ter influenciado. Há cerca
de 34 milhões de anos houve uma Era do Gelo que abaixou sobremaneira as
temperaturas dos oceanos, o que pode ter levado à criação de células cerebrais
com a função única de gerar calor para o organismo não congelar.
Nessa época também surgiu a
moderna arquitetura de seus cérebros, com áreas específicas para cada função.
Também nesse período os cetáceos desenvolveram uma das suas ferramentas mais
importantes: o sonar. É como eles conseguem se localizar em seu ambiente,
usando o eco dos sons que emitem para mapear a natureza ao redor. Tal mecanismo,
associado ao uma vida social significativa pode ser a explicação para sua massa
encefálica supercrescida.
O neurocientista americano R.
Douglas Fields compilou alguns dados: ao se desdobrar o cérebro, como se alisássemos
uma folha de papel amassado, o córtex humano atingiria 2,275 centímetros
quadrados, a área de um guardanapo; o dos golfinhos chega a 3,475 centímetros
quadrados, a área de uma folha de jornal. E o cérebro deles tem 50% mais dobras
(ou circunvoluções).
Ao se apelar para informações
mais concretas acerca de evidências de inteligência nos odontocetos (e mesmo
nos misticetos, baleias com dentes), podemos apontar: formação de alianças, uso
de sinais sonoros distintos para comunicação, capacidade de imitar sons,
comportamentos culturalmente distintos entre grupos separados.
Quer mais? Os golfinhos se
reconhecem no espelho, o que aponta para a autoconsciência, ou a capacidade de
se identificar em meio a outros seres muito semelhantes; traço típico de
humanos. E isso é complementado pela capacidade que possuem de emitirem sons
diferentes, dependendo de com quem desejem se comunicar. É como se possuíssem
identidade única.
Por outro lado, seus cérebros
contam com apenas cinco camadas especializadas de neurônios, enquanto nossos
cérebros contam com seis.
Bom, para você que não entende
por que chamaríamos de inteligentes seres incapazes de fazer contas ou de
escrever poesias: ele não têm mãos, não podem manipular objetos, e isso está na
raiz de tudo o que fizemos até hoje.
Além disso, não podemos nos
deixar trair. Seres tão complexos também possuem suas idiossincrasias, e
algumas são repugnantes: golfinhos praticam estupro grupal, infanticídio, orcas
comem baleias, seres da mesma espécie.
Concluindo: se lhes faltaram mãos
para criar tecnologias, tais membros também lhes faltaram para desenvolver
maldades.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Além de Darwin: o
que sabemos sobre a vida ...”
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