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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O QI DOS GOLFINHOS


Perguntinha bem fácil: qual o animal mais inteligente da Terra? Humanos? Parece ser a resposta mais lógica. Mas, que tal questioná-la um pouco mais?

O órgão sede da inteligência é o cérebro. Nossa vantagem como animais mais inteligentes se reflete em alguns dados, como massa encefálica proporcionalmente muito grande em relação à massa corporal. Também temos um cérebro bem complexo, com dobras que aumentam bastante sua área, o que, em tese, reflete uma estrutura maior do que aquela que teria se fosse um órgão liso, sem rugas.

Contudo, apenas as informações acima dariam como resposta à pergunta lá em cima uma resposta diferente: os animais mais inteligentes da Terra seriam os odontocetos! Fazem parte deste grupo os golfinhos, orcas e outros parentes da baleia, porém com dentes (daí o “odonto” no nome deles). O cérebro deles supera o nosso em tamanho absoluto, tamanho relativo e quantidade de dobras na região córtex (responsável pelos nossos pensamentos mais complexos e abstratos).

Mas, quais seriam as capacidades fenomenais adquiridas por esses animais ao contarem com uma massa cinzenta tão massiva? A resposta necessita de uma análise regressiva, primeiramente. OS primeiros cetáceos – seres ancestrais das baleias – foram mamíferos terrestres (com cascos) que retornaram aos mares. Esse retorno se deu há cerca de 55 milhões de anos. Como mamíferos terrestres, eram primos próximos de hipopótamos e porcos.

Até aqui temos uma evidência do motivo para terem desenvolvidos cérebros tão grandes: a passagem de seres terrestres para o formato de peixe, certamente envolve uma metamorfose intensa, que exige o desenvolvimento de habilidades que fazem uso de funções cerebrais importantes. As próprias questões ambientais podem ter influenciado. Há cerca de 34 milhões de anos houve uma Era do Gelo que abaixou sobremaneira as temperaturas dos oceanos, o que pode ter levado à criação de células cerebrais com a função única de gerar calor para o organismo não congelar.

Nessa época também surgiu a moderna arquitetura de seus cérebros, com áreas específicas para cada função. Também nesse período os cetáceos desenvolveram uma das suas ferramentas mais importantes: o sonar. É como eles conseguem se localizar em seu ambiente, usando o eco dos sons que emitem para mapear a natureza ao redor. Tal mecanismo, associado ao uma vida social significativa pode ser a explicação para sua massa encefálica supercrescida.

O neurocientista americano R. Douglas Fields compilou alguns dados: ao se desdobrar o cérebro, como se alisássemos uma folha de papel amassado, o córtex humano atingiria 2,275 centímetros quadrados, a área de um guardanapo; o dos golfinhos chega a 3,475 centímetros quadrados, a área de uma folha de jornal. E o cérebro deles tem 50% mais dobras (ou circunvoluções).

Ao se apelar para informações mais concretas acerca de evidências de inteligência nos odontocetos (e mesmo nos misticetos, baleias com dentes), podemos apontar: formação de alianças, uso de sinais sonoros distintos para comunicação, capacidade de imitar sons, comportamentos culturalmente distintos entre grupos separados.

Quer mais? Os golfinhos se reconhecem no espelho, o que aponta para a autoconsciência, ou a capacidade de se identificar em meio a outros seres muito semelhantes; traço típico de humanos. E isso é complementado pela capacidade que possuem de emitirem sons diferentes, dependendo de com quem desejem se comunicar. É como se possuíssem identidade única.

Por outro lado, seus cérebros contam com apenas cinco camadas especializadas de neurônios, enquanto nossos cérebros contam com seis.

Bom, para você que não entende por que chamaríamos de inteligentes seres incapazes de fazer contas ou de escrever poesias: ele não têm mãos, não podem manipular objetos, e isso está na raiz de tudo o que fizemos até hoje.

Além disso, não podemos nos deixar trair. Seres tão complexos também possuem suas idiossincrasias, e algumas são repugnantes: golfinhos praticam estupro grupal, infanticídio, orcas comem baleias, seres da mesma espécie.

Concluindo: se lhes faltaram mãos para criar tecnologias, tais membros também lhes faltaram para desenvolver maldades.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Além de Darwin: o que sabemos sobre a vida ...”

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