Pesquisar as postagens

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

RETRODIAGNÓSTICOS: O QUE REALMENTE MATOU ALGUMAS DAS PESSOAS MAIS FAMOSAS DA HISTÓRIA? --- PARTE 1


Não ficarão curados. Mas o que realmente matou, digamos, Chopin? Fibrose cística? E quanto a Dostoievski? Epilepsia. Edgard Poe? Raiva? Jane Austen? Catapora na idade adulta, talvez. E Vincent van Gogh? DTS, ao menos em parte.

Médicos já decretaram que Ebenezer Scrooge sofria de transtorno obsessivo compulsivo (OCD). Sherlock Holmes deve ter sofrido de autismo, a julgar pelos sintomas. Darth Vader deve ter sofrido de disfunção limítrofe da personalidade.

Ao elaborar tais diagnósticos, surgem algumas curiosidades: Teria a hemofilia derrubado a Rússia Czarista? E a Revolução Americana, teria sido influenciada pela gota? Charles Darwin teria sido ajudado em sua teoria por mordidas de mosquitos?

O “paciente” histórico mais antigo a ser sujeito de tais diagnósticos, digamos, um tanto tardios, foi o faraó egípcio Amenhotep IV (Akhenaton). Praticou heresias, em vida, que lhe custaram a dinastia mas garantiram sua imortalidade histórica.

No seu quarto ano de governo, Amenhotep decidiu mudar de nome: seria agora Akhenaton (significava Espírito do Deus Sol Amon-Rá). Também decidiu extinguir o politeísmo no Egito: o Deus seria agora Aton, para quem construiu uma nova cidade. Não fez por menos, e anunciou que era um filho perdido do Deus Aton. Convenientemente, mandou suas tropas destruírem todos os símbolos religiosos que não fossem a veneração de seu “pai”. Para completar, eliminou o plural de “Deus”, “Deuses”, da gramática egípcia – só havia 1 Deus, agora.

Após, transferiu a realização de todos os serviços religiosos para o dia – eram todos noturnos.
Akhenaton governou por dezessete anos. Em seu período, as representações artísticas em pinturas passaram a adquirir um caráter mais realistas, mas apenas nos elementos que não representassem o rei e sua família. Pássaros, peixes, árvores tudo parecia bastante realista. Contudo, o Rei, sua esposa Nefertiti e seu filho Tutankamon, mesmo em cenas domésticas, eram representados por linhas grosseiras, às vezes até mesmo grotescas, que lembravam pessoas com membros deformados.

Até o reinado de Akhenaton, o modelo físico dos faraós era Adônis, deus do Norte da África, de ombros largos e em formato quadrado. Após Akhenaton, os egípcios de sangue-azul pareciam seres alienígenas. Arqueólogos não economizaram nos adjetivos a Akhenaton, em suas representações artísticas: louva-seus humanóide, cabeça de amêndoa, braços de aranha, pernas de galinha, lábios de botox etc. Às vezes ele parecia ter seios. Em outra, sua virilha é como a de um boneco, andrógino.

A exemplo de diversas famílias reais ao longo da história, as famílias de faraós casavam-se entre si. Apesar de Nefertiti ter sido a esposa preferida de Akhenaton, para gerar herdeiros ele usou sua irmã. Não seria difícil crer em deformidades hereditárias, muitas delas com conseqüências na aparência física. Inclusive Akhenaton teria sido excluído de cerimônias na Corte por causa de sua aparência. Na tumba de seu filho Tutankamon foram encontradas 130 bengalas, muitas devem ter sido usadas desde a adolescência. Em geral, os médicos identificam as doenças como Síndrome de Marfan e Elefantíase.

Em 2007, o governo do Egito permitiu a colheita de DNA de cinco gerações de múmias, incluindo os faraós citados. Ao fim dos trabalhos, foram essas as conclusões: não foram encontradas grandes deformidades em Akhenaton e em sua família. Portanto as “deformidades” em seus retratos eram, na verdade, propaganda pela qual ele era retratado de maneira distinta de todos os mortais e faziam referência a deuses da mitologia egípcia.

As deformidades genéticas encontradas eram muito sutis: Tutankamon herdou pés chatos e lábio leporino. Provavelmente tinha ossos enfraquecidos. Após quebrar o fêmur, certa feita, os ossos de seus pés gangrenaram, o que demonstra problemas na circulação sanguínea. Tutankamon assumiu o trono aos nove anos de idade e restaurou a crença nos deuses antigos, na tentativa de resolver os problemas que o Egito enfrentava.

Foram encontrados DNA de malária nos ossos de Tutankamon. Embora antepassados de Tutankamon tenham tido malária e sobrevivido, no jovem rei ela foi fatal, em razão dos diversos problemas de saúde de que sofria, e levou-o aos dezenove anos.

Pelo desconhecimento da causa de tantos problemas genéticos, Tutankamon se casou com uma meia-irmã. Os dois filhos que tiveram morreram aos cinco e aos sete meses de vida.

A linhagem de Tutankamon foi bastante odiada no Egito. Após sua morte, Ramsés, um general, assumiu o trono e procurou extirpar toda e qualquer referência a Tutankamon e toda a sua linhagem.

Em 1962, um médico publicou um trabalho sobre porfiria. Trata-se de uma disfunção das células sanguíneas. Essa doença leva ao acúmulo de resíduos tóxicos que causam o descamamento da pele, nascimento de pelos pelo corpo ou alcançar os nervos, levando à psicose. Com o tempo, descobriu-se que ela também estava associada à geração de bolhas na pele e à falta de substâncias químicas no corpo, em alguns casos. Porém, foram tão poucos os casos conhecidos para se ter idéia de todo o seu potencial.

Um paciente bem famoso de porfiria foi o rei britânico Jorge III. Ele não se queimava se fosse exposto ao sol. Sua urina era avermelhada. Sofria de constipação e de olhos amarelados. Também sofria de acessos de insanidade, ou dizia não conseguir mirar seu reflexo no espelho.

O rei teve seu primeiro acesso de porfiria em 1765. O caso foi tão marcante que o Parlamento britânico fez questão de deixar claro quem assumiria a coroa caso o rei enlouquecesse completamente. Como vingança pela atitude, o rei demitiu seu primeiro-ministro.

Nessa época, a Grã Bretanha fez passar a Lei do Selo, o que revoltou suas treze colônias na América. William Pitt, estadista britânico, foi o responsável  por restabelecer o entendimento entre a GB e as colônias. No entanto, por sofrer de gota, ficou acamado e sem condições psicológicas de lidar de maneira adequada com o problema. Tanto Pitt quanto Jorge pressionaram demais os habitantes e se iniciou assim a Guerra que levaria à independência dos EUA.

Embora longe das insanidades dinástico-hereditárias das realezas européias, os EUA também tiveram seus males. John F. Kennedy passou dois terços da infância adoentado. Chegou a ser diagnosticado com hepatite e leucemia. Na idade adulta, tomava injeção de hormônios. Sofreu diversos desmaios, a ponto de receber extrema unção por algumas vezes.

Sabe-se hoje que ele sofria de doença de Addison. Ela destrói as glândulas suprarrenais e impede a produção de cortisona. Um dos efeitos colaterais da doença é a pele bronzeada, o que foi marcante na imagem de Kennedy.

Seus adversários não entenderam muito bem qual era a doença de Kennedy, mas faziam questão de alertar ao país que ele poderia morrer durante o mandato ... o que de fato ocorreu, mas por outro motivo.
A doença de Addison foi descoberta em 1800. Era a destruição tuberculosa da suprarrenal, efeito colateral clássico da tuberculose. Mas existe também a originada de causas inatas. Como a irmã de Kennedy, Eunice, sofria dessa mal, provavelmente a sua tinha causas genéticas.

Em 1959, um médico alertou que Abraham Lincoln poderia ter sofrido de síndrome de Marfan. O físico esquelético do ex-presidente e seus “membros de aranha” evidenciam aquilo que é explicado como uma mutação genética dominante, que ocorre nas famílias. O gene alterado leva à interrupção da produção de fibroína, proteína com funções estruturais no organismo. Em geral, os pacientes enxergam mal. Vítimas da síndrome também costumam morrer cedo, por desgaste rápido e excessivo das artérias. Por mais de um século, o exame desses tecidos era o que fornecia o diagnóstico da síndrome de Marfan.

Lincoln foi assassinado aos 56 anos, já reeleito para um segundo mandato. Contudo era visível o rápido deterioramento de sua saúde. Era fácil supor que eram os problemas advindos dos anos de guerra, mas pode ter sido um tipo diferente de síndrome de Marfan. Os seus modos um tanto taciturnos já foram apontados como tendência à depressão.

Os testes genéticos também já foram usados com um dos fundadores da América: Thomas Jefferson. Em Paris, onde era representante dos norte-americanos, Jefferson contava com os cuidados de Sally, que trabalhava para ele. Era negra e tinha laços sanguíneos com ele, pois o padrasto de Jefferson tinha uma amante escrava. Seus inimigos políticos diziam que Sally era amante de Jefferson e a chamavam de Vênus Africana. Jornais diziam que os dois filhos de Sally pareciam a cópia em tom escuro de Jefferson.

Sendo verdade ou não, Jefferson emancipou os dois quando atingiram a maioridade, o que não fez com nenhum outro de seus escravos. Essa paternidade era negada por Jefferson, mas os dois jovens se vangloriavam de serem filhos de quem eram.

Em 1990, iniciou-se a leitura dos genes de Jefferson. Como o cromossomo Y não se combina ou cruza com outros cromossomos, ele é transmitido integralmente aos descendentes. Jefferson não tinha filhos reconhecidos, mas parentes próximos dele tiveram. Depois, rastrearam os genes de um dos que supunham ser seu filho. Combinavam perfeitamente.

Algumas constatações são intrigantes e incompreensíveis. Jefferson se opunha publicamente ao casamento entre brancos e negros e chegou a produzir uma lei nesse sentido. Parece bem hipócrita.
Testes genéticos revelaram que Gêngis Khan foi o homem mais insaciável da história: seus descendentes chegam a 16 milhões atualmente (1 em cada 200 pessoas do mundo).

Ao seguir as castas sacerdotais do judaísmo, os geneticistas notaram que os cohanim (sacerdotes e descendentes de Abrãao, irmão de Moisés) de todo o mundo têm cromossomos Y bem semelhantes. Isso indica apenas uma linhagem patriarcal.


Também foram os testes genéticos que constataram que a tribo do Lemba, na África, que desde tempos imemoriais se dizem descendentes dos judeus – hebreus negros -, que ratificaram suas raízes judaicas: 10% dos homens têm assinatura cohanim nos cromossomos Y.

(CONTINUA)


Nenhum comentário:

Postar um comentário