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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

HOMOSSEXUALIDADE: A EXPLICAÇÃO É A GENÉTICA DA TARADA?


Embora a reprodução seja uma maneira de deixarmos um pouco de nós mesmos nesse Planeta, após partirmos, o resultado prático desse raciocínio pode ser desanimador. A divisão de DNA pela metade, a cada geração dilui a presença de genes de dada pessoa. Após seis gerações, a proporção de genes legados por uma pessoa a qualquer de seus descendentes fica em torno de 1%.

Pois bem, a homossexualidade é uma característica bem presente nos vertebrados. O que intriga é que esse tipo de comportamento é contrário à seleção natural das espécies. Os seres vivos tendem a se preocupar com o que pode aumentar suas oportunidades de sobrevivência e de reprodução. É isso que pode ajudar a gerar mais galhos na nossa árvore genealógica.

Então o que explicaria a atração por uma sexualidade que consome recursos energéticos relevantes, mas que não gera descendentes? A homossexualidade entre as diversas espécies é minoritária. Fica em torno de 10% dos indivíduos. Mas também não é irrelevante. Se pensarmos que características recessivas tendem a desaparecer, caso não se revelem adequadas à adaptação dos indivíduos ao meio, torna-se ainda mais difícil explicar a persistência desse comportamento. Afinal, se a heterossexualidade favorece tão mais a reprodução, a homossexualidade deveria já ter desaparecido há muito tempo.

Uma saída para esse questionamento seria apelar a razões culturais: faz-se por motivos recreativos, por pura diversão; em muitos casos, eventualmente, vez ou outra; intercalando com relações com o sexo oposto. O que ocorreria se o preconceito contra relações homossexuais desaparecesse? Talvez pudéssemos ver nessa situação pessoas se comportando exclusivamente de acordo com seus desejos sexuais mais íntimos, não de acordo com o que a sociedade espera.

Note-se que o componente genético não pode ser descartado. Se um indivíduo tiver um irmão gêmeo idêntico (seus DNA seriam 100% iguais) gay, suas chances de ser homossexual seriam de 50%. Essa probabilidade é maior do que se apenas o acaso estivesse agindo; mas não é de 100%, que seria o número caso apenas a genética fosse o fator determinante na orientação sexual.

Cientistas mapearam o cérebro de homossexuais masculinos e femininos. Suas imagens cerebrais mostram que eles se comportam de maneira idêntica ao cérebro de heterossexuais do sexo oposto, fisiológica e anatomicamente, diante de estímulos sexuais.

Explicações como a que apela a diferenças observadas no ambiente uterino também vêem se mostrando insuficientes. Esta hipótese aponta para variações nos hormônios sexuais no ambiente que abriga o feto. Tais variações conduziriam a mudanças no comportamento sexual do indivíduo. No entanto, não explica a persistência da homossexualidade ao longo do tempo.

Quem parece estar trazendo esclarecimentos reveladores a esse respeito é o italiano Andrea Camperio Ciani, da Universidade de Pádua. Sua hipótese: se a seleção natural não podou a homossexualidade, pode ser que componentes genéticos revelem algum tipo de vantagem evolutiva.

Aqui vale fazer uma observação: alguns genes, também chamados “genes egoístas” simplificadamente, não se preocupam com a reprodução do indivíduo, mas na sua própria sobrevivência. Ainda que o custo da persistência do gene na espécie seja a morte do indivíduo, para o gene esse custo é aceitável. Podem-se observar traços desse comportamento em homossexuais: caso sejam estritamente homossexuais, não se reproduzirão. No entanto, os genes ligados à “atração gay” não se encontram apenas no organismo de homossexuais; estão presentes também em seus parentes héteros. Portanto o comportamento evolutivo desses genes não segue uma estratégia definida apenas para indivíduos homossexuais, mas para todos. O comportamento homossexual seria uma espécie de efeito colateral desses genes, sendo essa manifestação uma exceção.

Por exemplo: as mães e tias de homossexuais masculinos pesquisados mostravam-se bem mais férteis que a média das mulheres. Esse fato não se repetiu com relação às tias paternas. Observou-se o mesmo em relação a homens bissexuais. Ao seqüenciar os genes, chegou-se á possibilidade de que a causa esteja em dois genes, sendo que um deles estaria no cromossomo X, daquela fatia herdada das mães. Portanto afeta a todos, incluindo os homens.

Segundo os pesquisadores, os “genes gays” não promovem fertilidade, mas hiperheterossexualidade. Trata-se de uma excessiva atração pelo sexo oposto, que se manifesta faticamente no maior número de filhos. A contraparte dessa síndrome seria a homossexualidade, ou bissexualidade, num indivíduo do sexo masculino.

Em conclusão:  os genes são entidades interessados exclusivamente na transmissão de suas características por gerações, ao longo do tempo. Os indivíduos homossexuais representariam pequenas “derrotas” que acompanham grandes “vitórias”. O sucesso evolucionário observado em pessoas hiperheterossexuais compensaria a “derrota” observada nos poucos casos em que a homossexualidade se manifestou.

As pesquisas não terminaram, nem essas conclusões são definitivas ... mas não deixaria de ser “hiperinteressante” saber que a homossexualidade é efeito, justamento, do “hipersucesso” da heterossexualidade.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Além de Darwin: o que sabemos sobre a história e o destino da vida na Terra”

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