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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

DE OTOMANOS A MONGÓIS: A CONSTRUÇÃO DA ÍNDIA MUÇULMANA A PARTIR DO ORIENTE MÉDIO


O período de expansão marítima européia conviveu com uma transformação marcante e futura ocorrida no mundo islâmico.

Essa transformação foi motivada por alguns fatores, como o impacto que a pólvora provocou sobre as guerras nômades, praticadas até então. Nesse período também houve a expansão em direção ao sudeste da Europa, África Subsaariana, sul da Índia e Sudeste asiático. A parte ocidental desta expansão islâmica era o Império Otomano.

Esse Império foi coroado em sua expansão pela conquista de Constantinopla, em 1453, capital do império até 1924. Maomé II, o Conquistador, estabeleceu domínio otomano sobre: sul da Grécia, em 1458; Sérvia, em 1459; Bósnia, em 1463; Albânia, em 1479; Herzegovina, em 1483. Em 1504, seus sucessores anexaram a Romênia; Belgrado, em 1520. Solimão, o Magnífico, anexou a Hungria. Falham apenas ao tentarem conquista Viena, em 1529. De 1450 a 1530, os Otomanos mais que duplicam seus territórios europeus. De 1516 a 1517 exterminaram os domínios mamelucos no Egito e atual Arábia Saudita. Após derrotarem os iranianos safávidas, conquistam o atual Iraque e o Golfo Pérsico. Seguem-se Iêmen e as terras que se estendem do Marrocos à Líbia.

Parecia que seu objetivo era reproduzir o Império bizantino. Ao lado das instituições islâmicas, os otomanos se notabilizaram pela tolerância religiosa. O sistema “millet” procurou conciliar as minorias religiosas, cristãos e judeus, concedendo-lhes uma relativa autonomia, administrada por representantes religiosos. A administração pública seguia o sistema de “devshirme”, que eliminava a necessidade de laços locais e garantia o recrutamento de funcionários por critérios de mérito.

Em grande medida, os otomanos não conquistaram os estados europeus que desafiaram em razão da custosa guerra contra os Safávidas, que controlavam o atual Irã – essa guerra durou mais de cem anos. Foi essa guerra que forçou os otomanos a se retirarem da Hungria e da Croácia.

O império Safávida foi fundado por Ismail I, de descendência islâmica xiita. Eram conhecidos por Qizilbash, ou cabeças vermelhas, em referência ao turbante clássico que usavam.

Vale comentar sobre as tendências do islamismo. Os xiitas se opõem aos islâmicos ortodoxos (ou sunitas). Essa oposição nasceu na sucessão de Maomé, no nascimento do califado islâmico. Essa sucessão terminou em conflito, no qual Hussein, o grande imã xiita, derrotado e morto por forças sunitas e celebrado todos os anos no mês do Muharram. Os locais sagrados dos xiitas são: Najaf e Karbala, ambas no Iraque.

Os sunitas costumam ser mais seculares. Os xiitas tendem a ser mais milenaristas: crêem no Imã Oculto e seguem o mulá. Ismail I juntou essas crenças numa guerra santa, conquistando assim o poder dinástico. Conquistou o Irã, o Azerbaijão, o mar Cáspio, Hamadã, grande parte do atual Iraque, Anatólia e parte da atual Turquia. Derrotou também os uzbeques e integrou o atual Afeganistão. Porém, na Batalha de Chaldiran, foi derrotado pelos otomanos.

O xá Abbas I, em 1587, iniciou a modernização da administração do império safávida pela criação qullars, escravos recrutados na Geórgia e na Transcaucásia, totalmente leais e fiéis ao xá, cuja finalidade do recrutamento era criar administradores de Províncias. Chegaram a governar mais da metade delas.

Escolheu-se a cidade de Ispaan como capital do império. Abbas iniciou um grandioso projeto de arquitetura, foi regiamente ornamentada e criaram escolas de filosofia. Surgiu uma alta cultura persa, que influenciaria a língua e o pensamento das elites tão dispersas, ao longo de um território enorme.

O império safávida foi reconhecido por defender e beneficiar rotas comerciais e pela construção de caravançarais (locais seguros para descanso de comerciantes). Durante o governo de Abbas, o principal produto de exportação iraniano era a seda crua, que se tornou monopólio estatal – comerciantes armênios as comercializavam. Em uma importante cidade comercial, Nova Julfa, havia mais de 20 mil comerciantes indianos, no século XVII.

Segundo o testemunho do viajante inglês John Fryer, que esteve na cidade em 1677, seu mercado de tecidos era maior que o Blackwell Hall, em Londres. Ele viu também quatro igrejas católicas na cidade – o xá autorizou a construção das igrekas e pagou pela decoração delas.

Abbas também mandou destruir a comunidade portuguesa em Ormuz, em 1622.

Em termos históricos, o mundo indiano havia sido conquistado pelos mongóis, saídos do norte da China e tão famosos em suas conquistas que foram apelidados de “construtores de impérios” – tinham uma facilidade incrível para construí-los, não para mantê-los.

A elite turco-mongol do norte da Índia enriquecia e se tornava cada vez mais ambiciosa. Em 1519, Babur, um príncipe da cidade de Samarcanda, liderou 1500 homens para conquistar as planícies do norte da Índia. Derrotou os sultanatos de Lodi de Deli, de religião muçulmana. Em pouco tempo ele dominava as rotas comerciais que ligavam a Índia ao Oriente Médio.

Babur ficou bem impressionado com as riquezas matérias, contudo ficou decepcionado pela falta de confortos civilizados. Construiu um jardim ao estilo iraniano em Agra. Segundo Abbas: “Depois, naquele Indostão desordenado  e sem graça, canteiros de jardim foram ... delineados com ordem e simetria ... e em cada canteiro, rosas e narcisos em perfeita harmonia”.

Em 1500, o subcontinente indiano estava dividido em sultanatos: Deli, Bengala, Gujarate, Decão, Kandesh, Mutan e Caxemira. Os hindus resistiram em: Mewa e Vijayanagar.

A elite muçulmana construiu mesquitas, universidades, santuários e monumentos ostentosos.

O neto de Babur, Akbar (1555 a 1605), consolidou o império mongol dos timúridas. No século XVII, só o extremo sul da Índia ainda não estava sob seu domínio. Sob seu governo, os emires, a elite militar e administrativa, era quase toda de origem iraniana.

Akbar era um mais monarca absoluto  que um rei-guerreiro muçulmano. A corte mongol instituiu o darshan (aparecimento diário numa plataforma elevada, denominada jaroka. A corte também era centro de um mecenato literário: promovia o estudo de ciências e de poesia.

Akbar também se notabilizou por rejeitar a distinção entre umma (todos os fiéis muçulmanos) e os não muçulmanos. Inclusive extinguiu a jizya (imposto específico para não muçulmanos).

A Índia mongol virou uma potência comercial que exportava: alimentos, tecidos de algodão, tabaco, açúcar, índigo. Sua fabricação de têxteis superava toda a Europa da época.

A proteção ao comércio e às rotas comerciais criada pelo governo ficou conhecida como “pax mongol”.

A conquista de Bengala, pelos ingleses, em 1757, conferiu todo esse império aos europeus, muito bem impressionados com tudo o que puderam testemunhar ...  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Ascensão e queda dos impérios globais”.

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