O período de expansão marítima
européia conviveu com uma transformação marcante e futura ocorrida no mundo
islâmico.
Essa transformação foi motivada
por alguns fatores, como o impacto que a pólvora provocou sobre as guerras
nômades, praticadas até então. Nesse período também houve a expansão em direção
ao sudeste da Europa, África Subsaariana, sul da Índia e Sudeste asiático. A
parte ocidental desta expansão islâmica era o Império Otomano.
Esse Império foi coroado em sua
expansão pela conquista de Constantinopla, em 1453, capital do império até 1924.
Maomé II, o Conquistador, estabeleceu domínio otomano sobre: sul da Grécia, em
1458; Sérvia, em 1459; Bósnia, em 1463; Albânia, em 1479; Herzegovina, em 1483.
Em 1504, seus sucessores anexaram a Romênia; Belgrado, em 1520. Solimão, o
Magnífico, anexou a Hungria. Falham apenas ao tentarem conquista Viena, em 1529.
De 1450 a 1530, os Otomanos mais que duplicam seus territórios europeus. De
1516 a 1517 exterminaram os domínios mamelucos no Egito e atual Arábia Saudita.
Após derrotarem os iranianos safávidas, conquistam o atual Iraque e o Golfo
Pérsico. Seguem-se Iêmen e as terras que se estendem do Marrocos à Líbia.
Parecia que seu objetivo era
reproduzir o Império bizantino. Ao lado das instituições islâmicas, os otomanos
se notabilizaram pela tolerância religiosa. O sistema “millet” procurou
conciliar as minorias religiosas, cristãos e judeus, concedendo-lhes uma
relativa autonomia, administrada por representantes religiosos. A administração
pública seguia o sistema de “devshirme”, que eliminava a necessidade de laços
locais e garantia o recrutamento de funcionários por critérios de mérito.
Em grande medida, os otomanos não
conquistaram os estados europeus que desafiaram em razão da custosa guerra
contra os Safávidas, que controlavam o atual Irã – essa guerra durou mais de
cem anos. Foi essa guerra que forçou os otomanos a se retirarem da Hungria e da
Croácia.
O império Safávida foi fundado
por Ismail I, de descendência islâmica xiita. Eram conhecidos por Qizilbash, ou
cabeças vermelhas, em referência ao turbante clássico que usavam.
Vale comentar sobre as tendências
do islamismo. Os xiitas se opõem aos islâmicos ortodoxos (ou sunitas). Essa oposição
nasceu na sucessão de Maomé, no nascimento do califado islâmico. Essa sucessão
terminou em conflito, no qual Hussein, o grande imã xiita, derrotado e morto
por forças sunitas e celebrado todos os anos no mês do Muharram. Os locais
sagrados dos xiitas são: Najaf e Karbala, ambas no Iraque.
Os sunitas costumam ser mais seculares.
Os xiitas tendem a ser mais milenaristas: crêem no Imã Oculto e seguem o mulá.
Ismail I juntou essas crenças numa guerra santa, conquistando assim o poder
dinástico. Conquistou o Irã, o Azerbaijão, o mar Cáspio, Hamadã, grande parte
do atual Iraque, Anatólia e parte da atual Turquia. Derrotou também os uzbeques
e integrou o atual Afeganistão. Porém, na Batalha de Chaldiran, foi derrotado
pelos otomanos.
O xá Abbas I, em 1587, iniciou a
modernização da administração do império safávida pela criação qullars,
escravos recrutados na Geórgia e na Transcaucásia, totalmente leais e fiéis ao
xá, cuja finalidade do recrutamento era criar administradores de Províncias.
Chegaram a governar mais da metade delas.
Escolheu-se a cidade de Ispaan
como capital do império. Abbas iniciou um grandioso projeto de arquitetura, foi
regiamente ornamentada e criaram escolas de filosofia. Surgiu uma alta cultura
persa, que influenciaria a língua e o pensamento das elites tão dispersas, ao
longo de um território enorme.
O império safávida foi
reconhecido por defender e beneficiar rotas comerciais e pela construção de
caravançarais (locais seguros para descanso de comerciantes). Durante o governo
de Abbas, o principal produto de exportação iraniano era a seda crua, que se
tornou monopólio estatal – comerciantes armênios as comercializavam. Em uma
importante cidade comercial, Nova Julfa, havia mais de 20 mil comerciantes
indianos, no século XVII.
Segundo o testemunho do viajante
inglês John Fryer, que esteve na cidade em 1677, seu mercado de tecidos era
maior que o Blackwell Hall, em Londres. Ele viu também quatro igrejas católicas
na cidade – o xá autorizou a construção das igrekas e pagou pela decoração
delas.
Abbas também mandou destruir a
comunidade portuguesa em Ormuz, em 1622.
Em termos históricos, o mundo indiano
havia sido conquistado pelos mongóis, saídos do norte da China e tão famosos em
suas conquistas que foram apelidados de “construtores de impérios” – tinham uma
facilidade incrível para construí-los, não para mantê-los.
A elite turco-mongol do norte da
Índia enriquecia e se tornava cada vez mais ambiciosa. Em 1519, Babur, um
príncipe da cidade de Samarcanda, liderou 1500 homens para conquistar as
planícies do norte da Índia. Derrotou os sultanatos de Lodi de Deli, de religião
muçulmana. Em pouco tempo ele dominava as rotas comerciais que ligavam a Índia
ao Oriente Médio.
Babur ficou bem impressionado com
as riquezas matérias, contudo ficou decepcionado pela falta de confortos
civilizados. Construiu um jardim ao estilo iraniano em Agra. Segundo Abbas: “Depois,
naquele Indostão desordenado e sem
graça, canteiros de jardim foram ... delineados com ordem e simetria ... e em
cada canteiro, rosas e narcisos em perfeita harmonia”.
Em 1500, o subcontinente indiano
estava dividido em sultanatos: Deli, Bengala, Gujarate, Decão, Kandesh, Mutan e
Caxemira. Os hindus resistiram em: Mewa e Vijayanagar.
A elite muçulmana construiu
mesquitas, universidades, santuários e monumentos ostentosos.
O neto de Babur, Akbar (1555 a
1605), consolidou o império mongol dos timúridas. No século XVII, só o extremo
sul da Índia ainda não estava sob seu domínio. Sob seu governo, os emires, a
elite militar e administrativa, era quase toda de origem iraniana.
Akbar era um mais monarca
absoluto que um rei-guerreiro muçulmano.
A corte mongol instituiu o darshan (aparecimento diário numa plataforma
elevada, denominada jaroka. A corte também era centro de um mecenato literário:
promovia o estudo de ciências e de poesia.
Akbar também se notabilizou por
rejeitar a distinção entre umma (todos os fiéis muçulmanos) e os não
muçulmanos. Inclusive extinguiu a jizya (imposto específico para não
muçulmanos).
A Índia mongol virou uma potência
comercial que exportava: alimentos, tecidos de algodão, tabaco, açúcar, índigo.
Sua fabricação de têxteis superava toda a Europa da época.
A proteção ao comércio e às rotas
comerciais criada pelo governo ficou conhecida como “pax mongol”.
A conquista de Bengala, pelos
ingleses, em 1757, conferiu todo esse império aos europeus, muito bem
impressionados com tudo o que puderam testemunhar ...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Ascensão e queda
dos impérios globais”.
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