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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

JAPÃO, CHINA E A EXPERIÊNCIA ASIÁTICA PREPARATÓRIA PARA O IMPERIALISMO EUROPEU


O século XVI na Ásia Oriental, região que abriga China, Japão, Coréia e parte das estes da Eurásia foi de um dinamismo marcante.

Iniciando com a China. Os imperadores Ming vieram a substituir os imperadores Yuan, de origem mongol. Os primeiros dessa nova dinastia restauraram o Estado burocrático e o sistema de exames para escolha de administradores públicos. Fizeram retornar a ortodoxia confuciana e ordenaram a impressão de diversos livros dessa ideologia. Em 1420, Pequim voltou a ser capital imperial. Também concluíra a construção do Grande Canal, que assegurou o fornecimento de cereais vindos do Vale do rio Yang-Tzé.

Esse foi o sistema que vigiu na China até 1911. Os Ming visavam a aniquilar o que viam como herança mongol: corrupção, opressão e tributação excessiva. O resultado foi uma relutância muito grande em tributar, a despeito dos enormes gastos com defesa das fronteiras. As décadas seguintes viram uma burocracia com falta de pessoal, mal paga e insuficiente. Criou-se, portanto, uma Crise Fiscal.

Os imperadores Ming, a despeito das viagens do almirante Zheng-he, determinaram o fechamento das fronteiras. As viagens marítimas de finalidade diplomática foram suspensas. As viagens particulares para fora do país e o comércio exterior foram proibidos. A estratégia militar nas fronteiras norte foi substituída pelas Grandes Muralhas – sua construção foi retomada após 1470 e concluída nos séculos seguintes, a despeito de ainda estar sendo concluída quando da derrubada da dinastia Ming, em 1644.

A proibição do comércio exterior criou problemas para o país. Os nômades do norte passaram a praticar roubos nas regiões de fronteira, para ter acesso aos bens que os chineses estavam proibidos de comerciar. Contrabando e pirataria passaram a se tornar comuns.

Por fim, o Japão também passava por transformações importantes.

A partir do século XII, o Japão passou a ser governado por uma aliança: o imperador era a autoridade maior, mas era governado efetivamente pelo Shogun, uma espécie de vice-rei ou Regente da Corte. O Shogun, em geral, era escolhido dentre os generais.

Abaixo do Shogun, e sustentando sua autoridade, encontravam-se os senhores feudais e os samurais (ou bushis), a classe de guerreiros.

Entre os séculos XV e XVI, esse sistema entrou em colapso, com a perda de poder da autoridade central. Por outro lado, esse período testemunhou o renascimento da expansão comercial: surgiram novas culturas agrícolas, exportava-se cobre, enxofre e espadas. Esses produtos entravam na China pelas mãos de piratas e contrabandistas, haja vista as proibições ao comércio exterior. Em meados do século XVI, os comerciantes japoneses chegaram à Tailândia, Birmânia e Índia.

A exportação de prata japonesa transformou o país numa espécie de México oriental. Tornou-se o principal parceiro comercial de portugueses e espanhóis, após a chegada ao Pacífico.

Em 1578, os Ming chineses desistiram de proibir o comércio exterior e abriram Cantão ao comércio estrangeiro. Por sua vez, o Japão permitiu o estabelecimento de comerciantes portugueses em Nagasaki, em 1571.

Após conseguir o monopólio comercial extra-europeu pelas mãos do Papa, sob a condição de levar a fé cristã a outras paragens, os portugueses se estabeleceram em Goa, capital do Estado Português da Índia. Uma das pessoas a usarem essa porta de entrada para a Ásia foi o missionário São Francisco Xavier, cofundador da Companhia de Jesus. Desembarcou em 1542, descalço e esfarrapado. Morreu dez anos depois, na China. Seu corpo foi devolvido a Goa e, desde então, é exibido uma vez por ano, “milagrosamente” preservado. Em razão de seu prestígio, o papa exigiu que pelo menos um braço fosse enviado a Roma.

Alguns jesuítas conseguiram entrar na Corte mongol. Um deles foi Roberto di Nobili. Passou anos no sul da Índia, tentando fazer os brâmanes aceitarem o credo cristão. Outro jesuíta, o mais famoso provavelmente, foi Matteo Ricci. Chegou à China por volta de 1580. Depois de uma peregrinação, conseguiu autorização para entrar em Pequim, em 1601. Pela erudição digna de um sábio confuciano, teve acesso à Corte. Seus conhecimentos em cartografia, astronomia e medicina garantiram prestígio à missão jesuíta na Ásia.

Até a chegada definitiva de potência européias, com sua larga superioridade militar, após 1750, essas missões eram a principal fonte de informações diplomáticas asiáticas dos governos europeus.

No caso do Japão, após o sucesso comercial, o poder se deslocou para os governantes locais, os Dáimios. No final do século XVI, seguiu-se uma luta implacável pelo controle do país. Um dos contendores era Hideoshy, que invadiu a Coréia, com 200 mil soldados. Ao cabo, após intervenção chinesa, o Japão foi obrigado a recuar.

Ainda no final do século XVI, Nurhaci, um general nômade que lembrava bastante Gengis Khan, estabelecera um governo de etnia Manchu, a nordeste de Pequim. Em 1618, após alguns desentendimentos com os Ming, declarou a intenção de derrubar o imperador chinês. Os sucessores de Nurhaci realizaram seu desejo. Em 1644, inauguraram a nova dinastia chinesa, após a queda de Pequim: os Manchus, (ou Qing, ou Ch’ing, há várias versões do nome desse clã).

A chegada dos Manchu ao poder na China e o fechamento do Japão, após o restabelecimento do poder central, pôs fim a uma experiência bastante enriquecedora no sudeste asiático: chineses e japoneses estabeleceram-se no sudeste da Ásia; europeus chegaram ao Japão e à China; novos mercados externos para a porcelana chinesa surgiram, estimulando o crescimento das cidades; a prata japonesa e americana monetizou diversas economias.

O Japão tinha à época 12 milhões de habitantes, três vezes mais que a Grã Bretanha. Seus portos comerciais a sudoeste serviram como base para a expansão do cristianismo, por meio dos jesuítas, após 1580.

Contudo, o Shogunato Tokugawa pôs fim a esses progressos. O cristianismo foi considerado culpado pelos descontroles sociais que o Japão enfrentou. O cristianismo foi banido do Japão em 1640. O comércio externo foi desestimulado e a presença dos europeus, banida. Os espanhóis foram expulsos em 1624. Os ingleses já tinham se despedido anteriormente. Os portugueses ficaram confinados à ilha de Deshima, em Nagasaki. Partiram em 1639. Em 1635, os japoneses foram proibidos de sair do Japão.
Os novos governantes da dinastia Tokugawa patrocinaram a ideologia confuciana. Pregavam a busca pela harmonia social e natural.

Na China Ch’ing, adotou-se a mesma medida.

No entanto, a abertura comercial e o crescimento na troca de bens e idéias, vista nos séculos anteriores, anterior teria de esperar mais alguns séculos para se restabelecer, agora sob a denominação de globalização.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Ascensão e queda dos impérios globais”.

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