O século XVI na Ásia Oriental,
região que abriga China, Japão, Coréia e parte das estes da Eurásia foi de um
dinamismo marcante.
Iniciando com a China. Os imperadores
Ming vieram a substituir os imperadores Yuan, de origem mongol. Os primeiros
dessa nova dinastia restauraram o Estado burocrático e o sistema de exames para
escolha de administradores públicos. Fizeram retornar a ortodoxia confuciana e ordenaram
a impressão de diversos livros dessa ideologia. Em 1420, Pequim voltou a ser
capital imperial. Também concluíra a construção do Grande Canal, que assegurou
o fornecimento de cereais vindos do Vale do rio Yang-Tzé.
Esse foi o sistema que vigiu na
China até 1911. Os Ming visavam a aniquilar o que viam como herança mongol:
corrupção, opressão e tributação excessiva. O resultado foi uma relutância
muito grande em tributar, a despeito dos enormes gastos com defesa das
fronteiras. As décadas seguintes viram uma burocracia com falta de pessoal, mal
paga e insuficiente. Criou-se, portanto, uma Crise Fiscal.
Os imperadores Ming, a despeito
das viagens do almirante Zheng-he, determinaram o fechamento das fronteiras. As
viagens marítimas de finalidade diplomática foram suspensas. As viagens
particulares para fora do país e o comércio exterior foram proibidos. A
estratégia militar nas fronteiras norte foi substituída pelas Grandes Muralhas –
sua construção foi retomada após 1470 e concluída nos séculos seguintes, a
despeito de ainda estar sendo concluída quando da derrubada da dinastia Ming,
em 1644.
A proibição do comércio exterior
criou problemas para o país. Os nômades do norte passaram a praticar roubos nas
regiões de fronteira, para ter acesso aos bens que os chineses estavam
proibidos de comerciar. Contrabando e pirataria passaram a se tornar comuns.
Por fim, o Japão também passava
por transformações importantes.
A partir do século XII, o Japão
passou a ser governado por uma aliança: o imperador era a autoridade maior, mas
era governado efetivamente pelo Shogun, uma espécie de vice-rei ou Regente da
Corte. O Shogun, em geral, era escolhido dentre os generais.
Abaixo do Shogun, e sustentando
sua autoridade, encontravam-se os senhores feudais e os samurais (ou bushis), a
classe de guerreiros.
Entre os séculos XV e XVI, esse
sistema entrou em colapso, com a perda de poder da autoridade central. Por
outro lado, esse período testemunhou o renascimento da expansão comercial:
surgiram novas culturas agrícolas, exportava-se cobre, enxofre e espadas. Esses
produtos entravam na China pelas mãos de piratas e contrabandistas, haja vista
as proibições ao comércio exterior. Em meados do século XVI, os comerciantes
japoneses chegaram à Tailândia, Birmânia e Índia.
A exportação de prata japonesa
transformou o país numa espécie de México oriental. Tornou-se o principal parceiro
comercial de portugueses e espanhóis, após a chegada ao Pacífico.
Em 1578, os Ming chineses
desistiram de proibir o comércio exterior e abriram Cantão ao comércio
estrangeiro. Por sua vez, o Japão permitiu o estabelecimento de comerciantes portugueses
em Nagasaki, em 1571.
Após conseguir o monopólio
comercial extra-europeu pelas mãos do Papa, sob a condição de levar a fé cristã
a outras paragens, os portugueses se estabeleceram em Goa, capital do Estado Português
da Índia. Uma das pessoas a usarem essa porta de entrada para a Ásia foi o
missionário São Francisco Xavier, cofundador da Companhia de Jesus. Desembarcou
em 1542, descalço e esfarrapado. Morreu dez anos depois, na China. Seu corpo
foi devolvido a Goa e, desde então, é exibido uma vez por ano, “milagrosamente”
preservado. Em razão de seu prestígio, o papa exigiu que pelo menos um braço
fosse enviado a Roma.
Alguns jesuítas conseguiram
entrar na Corte mongol. Um deles foi Roberto di Nobili. Passou anos no sul da
Índia, tentando fazer os brâmanes aceitarem o credo cristão. Outro jesuíta, o
mais famoso provavelmente, foi Matteo Ricci. Chegou à China por volta de 1580.
Depois de uma peregrinação, conseguiu autorização para entrar em Pequim, em
1601. Pela erudição digna de um sábio confuciano, teve acesso à Corte. Seus
conhecimentos em cartografia, astronomia e medicina garantiram prestígio à
missão jesuíta na Ásia.
Até a chegada definitiva de
potência européias, com sua larga superioridade militar, após 1750, essas
missões eram a principal fonte de informações diplomáticas asiáticas dos governos
europeus.
No caso do Japão, após o sucesso
comercial, o poder se deslocou para os governantes locais, os Dáimios. No final
do século XVI, seguiu-se uma luta implacável pelo controle do país. Um dos
contendores era Hideoshy, que invadiu a Coréia, com 200 mil soldados. Ao cabo,
após intervenção chinesa, o Japão foi obrigado a recuar.
Ainda no final do século XVI, Nurhaci,
um general nômade que lembrava bastante Gengis Khan, estabelecera um governo de
etnia Manchu, a nordeste de Pequim. Em 1618, após alguns desentendimentos com
os Ming, declarou a intenção de derrubar o imperador chinês. Os sucessores de
Nurhaci realizaram seu desejo. Em 1644, inauguraram a nova dinastia chinesa,
após a queda de Pequim: os Manchus, (ou Qing, ou Ch’ing, há várias versões do
nome desse clã).
A chegada dos Manchu ao poder na
China e o fechamento do Japão, após o restabelecimento do poder central, pôs
fim a uma experiência bastante enriquecedora no sudeste asiático: chineses e
japoneses estabeleceram-se no sudeste da Ásia; europeus chegaram ao Japão e à
China; novos mercados externos para a porcelana chinesa surgiram, estimulando o
crescimento das cidades; a prata japonesa e americana monetizou diversas
economias.
O Japão tinha à época 12 milhões
de habitantes, três vezes mais que a Grã Bretanha. Seus portos comerciais a sudoeste
serviram como base para a expansão do cristianismo, por meio dos jesuítas, após
1580.
Contudo, o Shogunato Tokugawa pôs
fim a esses progressos. O cristianismo foi considerado culpado pelos descontroles
sociais que o Japão enfrentou. O cristianismo foi banido do Japão em 1640. O
comércio externo foi desestimulado e a presença dos europeus, banida. Os espanhóis
foram expulsos em 1624. Os ingleses já tinham se despedido anteriormente. Os portugueses
ficaram confinados à ilha de Deshima, em Nagasaki. Partiram em 1639. Em 1635,
os japoneses foram proibidos de sair do Japão.
Os novos governantes da dinastia
Tokugawa patrocinaram a ideologia confuciana. Pregavam a busca pela harmonia
social e natural.
Na China Ch’ing, adotou-se a
mesma medida.
No entanto, a abertura comercial e
o crescimento na troca de bens e idéias, vista nos séculos anteriores, anterior
teria de esperar mais alguns séculos para se restabelecer, agora sob a
denominação de globalização.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Ascensão e queda
dos impérios globais”.
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