A Escola Austríaca de Economia
foi fundada em 1871 com a publicação de “Princípios de Economia”, de Carl
Menger. Menger, ao lado de William Stanley Jevons e Leon Walras, desenvolveu a
revolução marginalista em análise econômica. Menger dedicou seu trabalho a seu
amigo alemão William Roscher, figura de liderança na escola histórica alemã, a
qual dominou o pensamento econômico em países de língua lema.
Em seu livro, Menger argumenta
que a análise econômica é aplicável universalmente e que a unidade adequada da
análise é o homem e suas escolhas. Essas escolhas, argui, são determinadas
pelas preferências subjetivas individuais e pela margem sobre as quais as
escolhas são feitas (marginalismo). A lógica da escolha, cria, é o alicerce para
o desenvolvimento de uma teoria econômica universalmente válida.
A ideia de uma teoria econômica
aplicável a diversas realidades era considerada impossível segundo as análises
econômicas em bases históricas. Por outro lado, economistas clássicos ingleses
de períodos anteriores chegaram a investir nessa possibilidade. A obra “Princípios
...”, de Menger, resgatava a tese de princípios econômicos universais e o fez
por meio da análise marginalista.
Apesar do nome pelo qual ficaram
conhecidos mundialmente, desde a década de 1930 nenhum economista austríaco (da
Universidade de Viena ou de qualquer outra da Áustria) tornou-se figura de proa
da Escola Austríaca de Economia. Nas décadas de 1930/40, a Escola mudou-se para
a Grã Bretanha e para os EUA e os professores a ela filiados eram,
principalmente, da London School of Economics, NY University, Auburn University
e George Mason University.
Muitas das idéias dos principais economistas
austríacos de meados do séc. XX, como Ludwig Mises e F. Hayek, estavam
enraizadas nas idéias de economistas clássicos como Adam Smith e David Hume, ou
em economistas anteriores, do início do séc. XX, como Knut Wicksell, assim como
Menger, Bohm-Bawerk e Friedrich Von Wieser.
Essa mistura diversificada de
tradições intelectuais em ciência econômica é ainda mais óbvia em economistas
da Escola Austríaca contemporânea, que foi influenciada por figuras modernas em
economia. Incluem-se Armen Alchian, James Buchanan, Ronald Coase, Harold
Demsetz, Douglas North, Mancur Olson, Vernon Smith, Israel Kirzner e Murray
Rothbard.
A Escola Austríaca de Economia
possui algumas proposições, alguns princípios sobre os quais ergue seus
conhecimentos edificados. Ei-las em dez apontamentos:
1 – Apenas escolhas individuais:
a análise econômica inicia-se no homem. Entidades coletivas não fazem escolhas,
apenas o homem. A tarefa primeira da economia é fazer tais escolhas inteligíveis,
baseando-as nas finalidades e nos planos das pessoas; a tarefa segunda da
economia é traçar as conseqüências não intencionais das escolhas individuais.
2 – O estudo das trocas nos
mercados trata fundamentalmente de mudanças comportamentais e de instituições
que participam nessas trocas: esse ponto trata das negociações e barganhas que
precedem a fixação de termos de trocas comerciais no mercado.
3 – As pessoas crêem e pensam em
cima dos fatos, em ciências sociais: pelo fato de se comportar diferente das ciências
naturais, em que há verdades e leis absolutas, as ciências sociais devem se
preocupar em entender o comportamento humano, sua finalidade e os planos
envolvidos nas ações das pessoas.
4 – Utilidades e custos são subjetivos:
desde 1870, os economistas concordam que valor é subjetivo, mas, conforme
Alfred Marshall, muitos entendem que o lado do custo da equação é determinado
por fatores objetivos. O preço seria determinado por essas duas condições, uma
subjetiva e outra objetiva. Contudo, como o custo também é determinado em
termos relativos a outro custo de oportunidade, o custo também é subjetivo.
Portanto toda a oferta é determinada por valorações subjetivas individuais.
5 – O sistema baseado em preço
carrega as informações de que as pessoas necessitam para processar a tomada de
decisões: o preço resume todos os termos para a troca no mercado.
6 – A propriedade privada dos
meios de produção é condição necessária para o cálculo econômico racional: essa
escola reconhece na propriedade privada incentivos poderosos para a alocação
eficiente de recursos escassos. Mises cria que a capacidade de planejamento dos
administradores públicos era muito limitada frente à quantidade de fatores que
deveriam ser levados em conta na hora de decidir onde alocar os recursos da
sociedade, em regra, escassos.
7 – O mercado competitivo é um
processo de descobertas do empreendedorismo: a competição no mercado é uma
atividade e o empreendedor tem um papel de mudança que leva o mercado a novas
direções. O empreendedor tem lucro quando reconhece uma oportunidade de ganhos.
O aprendizado mútuo (do empreendedor e do mercado), produto da descoberta da
oportunidade de ganhos, leva o mercado a alocar recursos de maneira cada vez
mais eficiente. O “mercado livre” seria aquele que incentiva a busca constante
por novas oportunidades e se move em direção à maior eficiência alocativa. Segundo
membros de escola econômica, as imperfeições de hoje representam oportunidades
de ganhos futuros.
8 – O dinheiro não é neutro: Se o
governo distorcer o valor unitário da moeda, a troca comercial também será
distorcida. O objetivo da política monetária deveria ser minimizar tais
distorções. Qualquer emissão de moeda desacompanhada de maior demanda por moeda
somente gerará inflação. Contudo, os aumentos de preços dos diversos bens não
ocorre simultaneamente. Haverá alteração nos preços relativos. Tais alterações
gerarão alteração no padrão de consumo e de produção.
9 – A estrutura de capital
consiste de bens heterogêneos que têm utilidades variadas que precisam estar
alinhadas: Nesse momento, pessoas em Detroit, Stuttgart e Tokio estão
desenhando carros que serão vendidos apenas daqui a mais de uma década. Como
sabem onde alocar melhor seus recursos? A produção varia de acordo com um
futuro incerto, e o processo produtivo requer diferentes estágios de
investimento, variando do mais remoto (minérios de ferro) ao mais próximo (a
venda dos carros). Os valores de todos os bens de produção em cada estágio da
produção derivam dos valores que os consumidores percebem naquele bem que está
sendo produzido. O planejamento da produção alinha vários bens dentro de uma
estrutura de capital que produz bens finais na maneira mais eficiente possível,
deseja-se.
Se o capital fosse homogêneo, a
má alocação de algum em dado setor seria seguida de uma realocação posterior, para
outro setor mais eficiente, elevando a eficiência alocativa daquela economia. No
entanto o capital é heterogêneo – uma fábrica de automóveis nunca produzirá
computadores, por exemplo.
O que guia esse processo de
alocação são os preços e pelo cálculo prudente dos investidores. Preços
distorcidos podem levar a tomada de decisões igualmente distorcida. E isso leva
a perda (desperdício) de recursos.
10 – Instituições sociais
frequentemente são o resultado de ações humanas, mas não de desejos humanos: Os
diversos elementos que conformam o mercado e a economia não foram criados com a
finalidade de exercerem o papel que de fato exercem; foram apenas fruto de
decisões humanas que, em conjunto, criaram sistemas e mecanismos econômicos que
influenciam a sociedade. Preços, dinheiro, leis, linguagem, ciência e outros
são fenômenos sociais que podem traçar suas origens na procura humana por alcançar
seus objetivos, suas finalidades individuais. Contudo, trazem benefícios
sociais em seu funcionamento. Não foram planejadas e criadas apenas pelo desejo
das pessoas, em conjunto.
A Escola Austríaca também aponta
que o economista, em suas análises, deve ser frio, deve-se manter distante das
paixões inerentes às escolhas econômicas, devendo se prender apenas às
implicações econômicas, à viabilidade de tais escolhas.
Após todo esse “approach” em
relação à Escola Austríaca, resta um questionamento: é possível traçar
políticas públicas e orientar o futuro de uma sociedade apenas usando a Escola
Austríaca?
Rubem L. de F. Auto
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