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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

ESCOLA AUSTRÍACA DE ECONOMIA EM 10 PASSOS


A Escola Austríaca de Economia foi fundada em 1871 com a publicação de “Princípios de Economia”, de Carl Menger. Menger, ao lado de William Stanley Jevons e Leon Walras, desenvolveu a revolução marginalista em análise econômica. Menger dedicou seu trabalho a seu amigo alemão William Roscher, figura de liderança na escola histórica alemã, a qual dominou o pensamento econômico em países de língua lema.

Em seu livro, Menger argumenta que a análise econômica é aplicável universalmente e que a unidade adequada da análise é o homem e suas escolhas. Essas escolhas, argui, são determinadas pelas preferências subjetivas individuais e pela margem sobre as quais as escolhas são feitas (marginalismo). A lógica da escolha, cria, é o alicerce para o desenvolvimento de uma teoria econômica universalmente válida.

A ideia de uma teoria econômica aplicável a diversas realidades era considerada impossível segundo as análises econômicas em bases históricas. Por outro lado, economistas clássicos ingleses de períodos anteriores chegaram a investir nessa possibilidade. A obra “Princípios ...”, de Menger, resgatava a tese de princípios econômicos universais e o fez por meio da análise marginalista.

Apesar do nome pelo qual ficaram conhecidos mundialmente, desde a década de 1930 nenhum economista austríaco (da Universidade de Viena ou de qualquer outra da Áustria) tornou-se figura de proa da Escola Austríaca de Economia. Nas décadas de 1930/40, a Escola mudou-se para a Grã Bretanha e para os EUA e os professores a ela filiados eram, principalmente, da London School of Economics, NY University, Auburn University e George Mason University.

Muitas das idéias dos principais economistas austríacos de meados do séc. XX, como Ludwig Mises e F. Hayek, estavam enraizadas nas idéias de economistas clássicos como Adam Smith e David Hume, ou em economistas anteriores, do início do séc. XX, como Knut Wicksell, assim como Menger, Bohm-Bawerk e Friedrich Von Wieser.

Essa mistura diversificada de tradições intelectuais em ciência econômica é ainda mais óbvia em economistas da Escola Austríaca contemporânea, que foi influenciada por figuras modernas em economia. Incluem-se Armen Alchian, James Buchanan, Ronald Coase, Harold Demsetz, Douglas North, Mancur Olson, Vernon Smith, Israel Kirzner e Murray Rothbard.


A Escola Austríaca de Economia possui algumas proposições, alguns princípios sobre os quais ergue seus conhecimentos edificados. Ei-las em dez apontamentos:

1 – Apenas escolhas individuais: a análise econômica inicia-se no homem. Entidades coletivas não fazem escolhas, apenas o homem. A tarefa primeira da economia é fazer tais escolhas inteligíveis, baseando-as nas finalidades e nos planos das pessoas; a tarefa segunda da economia é traçar as conseqüências não intencionais das escolhas individuais.

2 – O estudo das trocas nos mercados trata fundamentalmente de mudanças comportamentais e de instituições que participam nessas trocas: esse ponto trata das negociações e barganhas que precedem a fixação de termos de trocas comerciais no mercado.

3 – As pessoas crêem e pensam em cima dos fatos, em ciências sociais: pelo fato de se comportar diferente das ciências naturais, em que há verdades e leis absolutas, as ciências sociais devem se preocupar em entender o comportamento humano, sua finalidade e os planos envolvidos nas ações das pessoas.

4 – Utilidades e custos são subjetivos: desde 1870, os economistas concordam que valor é subjetivo, mas, conforme Alfred Marshall, muitos entendem que o lado do custo da equação é determinado por fatores objetivos. O preço seria determinado por essas duas condições, uma subjetiva e outra objetiva. Contudo, como o custo também é determinado em termos relativos a outro custo de oportunidade, o custo também é subjetivo. Portanto toda a oferta é determinada por valorações subjetivas individuais.

5 – O sistema baseado em preço carrega as informações de que as pessoas necessitam para processar a tomada de decisões: o preço resume todos os termos para a troca no mercado.

6 – A propriedade privada dos meios de produção é condição necessária para o cálculo econômico racional: essa escola reconhece na propriedade privada incentivos poderosos para a alocação eficiente de recursos escassos. Mises cria que a capacidade de planejamento dos administradores públicos era muito limitada frente à quantidade de fatores que deveriam ser levados em conta na hora de decidir onde alocar os recursos da sociedade, em regra, escassos.

7 – O mercado competitivo é um processo de descobertas do empreendedorismo: a competição no mercado é uma atividade e o empreendedor tem um papel de mudança que leva o mercado a novas direções. O empreendedor tem lucro quando reconhece uma oportunidade de ganhos. O aprendizado mútuo (do empreendedor e do mercado), produto da descoberta da oportunidade de ganhos, leva o mercado a alocar recursos de maneira cada vez mais eficiente. O “mercado livre” seria aquele que incentiva a busca constante por novas oportunidades e se move em direção à maior eficiência alocativa. Segundo membros de escola econômica, as imperfeições de hoje representam oportunidades de ganhos futuros.

8 – O dinheiro não é neutro: Se o governo distorcer o valor unitário da moeda, a troca comercial também será distorcida. O objetivo da política monetária deveria ser minimizar tais distorções. Qualquer emissão de moeda desacompanhada de maior demanda por moeda somente gerará inflação. Contudo, os aumentos de preços dos diversos bens não ocorre simultaneamente. Haverá alteração nos preços relativos. Tais alterações gerarão alteração no padrão de consumo e de produção.

9 – A estrutura de capital consiste de bens heterogêneos que têm utilidades variadas que precisam estar alinhadas: Nesse momento, pessoas em Detroit, Stuttgart e Tokio estão desenhando carros que serão vendidos apenas daqui a mais de uma década. Como sabem onde alocar melhor seus recursos? A produção varia de acordo com um futuro incerto, e o processo produtivo requer diferentes estágios de investimento, variando do mais remoto (minérios de ferro) ao mais próximo (a venda dos carros). Os valores de todos os bens de produção em cada estágio da produção derivam dos valores que os consumidores percebem naquele bem que está sendo produzido. O planejamento da produção alinha vários bens dentro de uma estrutura de capital que produz bens finais na maneira mais eficiente possível, deseja-se.

Se o capital fosse homogêneo, a má alocação de algum em dado setor seria seguida de uma realocação posterior, para outro setor mais eficiente, elevando a eficiência alocativa daquela economia. No entanto o capital é heterogêneo – uma fábrica de automóveis nunca produzirá computadores, por exemplo.
O que guia esse processo de alocação são os preços e pelo cálculo prudente dos investidores. Preços distorcidos podem levar a tomada de decisões igualmente distorcida. E isso leva a perda (desperdício) de recursos.

10 – Instituições sociais frequentemente são o resultado de ações humanas, mas não de desejos humanos: Os diversos elementos que conformam o mercado e a economia não foram criados com a finalidade de exercerem o papel que de fato exercem; foram apenas fruto de decisões humanas que, em conjunto, criaram sistemas e mecanismos econômicos que influenciam a sociedade. Preços, dinheiro, leis, linguagem, ciência e outros são fenômenos sociais que podem traçar suas origens na procura humana por alcançar seus objetivos, suas finalidades individuais. Contudo, trazem benefícios sociais em seu funcionamento. Não foram planejadas e criadas apenas pelo desejo das pessoas, em conjunto.

A Escola Austríaca também aponta que o economista, em suas análises, deve ser frio, deve-se manter distante das paixões inerentes às escolhas econômicas, devendo se prender apenas às implicações econômicas, à viabilidade de tais escolhas.

Após todo esse “approach” em relação à Escola Austríaca, resta um questionamento: é possível traçar políticas públicas e orientar o futuro de uma sociedade apenas usando a Escola Austríaca?


Rubem L. de F. Auto



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