O sucesso alcançado pela Europa
na Idade moderna foi uma construção lenta e, muitas vezes, encarada com
descrença. Ainda anos século XVII e XVIII, os avanços em organização política,
militar e comercial era igualados, no máximo, aos dos otomanos, safávidas,
mongóis, Ming ou Tokugawa (dinastia japonesa).
Na África Ocidental, os
comerciantes europeus tinham de ter cuidado para não ofender os governantes
locais, que prontamente os castigavam por má conduta. No caso do Brasil, apenas
após a descoberta de ouro em Minas, imigrantes e bandeirantes resolveram explorar
o interior do continente.
Na América espanhola, a afluência
de imigrantes se reduziu após 1625. A imigração inglesa nas Américas foi lenta.
Só se acelerou quando direcionada para as Antilhas inglesas, pois as expectativas
de lucros eram maiores. Os europeus na Jamaica eram dez vezes mais ricos do que
aqueles que se instalaram no continente.
O obstáculo que viam era climático:
doenças dizimavam pessoa s com muita velocidade. Por volta de 1700 havia talvez
250 mil colonos brancos nos territórios britânicos nas Américas.
Na Nova França, atual Québec,
Nova Escócia e Lusiana o número de colonos franceses girava em torno de 60 mil em
1750.
No continente inteiro, o número
de colonos europeus no século XVIII chegou a 3 ou 4 milhões – cerca de 5% da
população européia, incluindo a Rússia.
No entanto a maioria dos
imigrantes eram escravos africanos. Estima-se que, por volta de 1820, haviam chegado
quatro vezes mais escravos do que colonos europeus – 8 milhões contra 2
milhões. A escravidão, por um lado, liberou a mão de obra livre das plantações
insalubres; por outro, trouxe doenças africanas contra as quais os europeus não
tinham imunidade.
A mão de obra escrava garantia a
lucratividade de algumas poucas culturas exploradas no continente. Tais culturas de exportação garantiram o
surgimento de um mercado local para produtos europeus, que se tornou nicho de
imigrantes que não paravam de chegar. A partir de meados do século XVII, o
açúcar ganhou a pauta de exportações – mas o mais lucrativo ainda era prata,
inicialmente peruana, depois mexicana. Cacau e chocolate vinham atrás.
Note-se que, no caso do açúcar,
excetuando-se as terras, nada mais era originário do continente. Tudo vinha de
fora – capital e gestão europeus, mão de obra africana e a própria planta,
trazida das ilhas Canárias.
Outra característica bizarra da
cultura do açúcar era o sentimento que ela enraizou nos habitantes locais: o
medo ! Medo de tudo, tanto por proprietários quanto por escravos: medo de
ataques de europeus rivais; medo dos castigos e torturas infligidos pelos
brancos desumanos; medo de doenças que mais pareciam pragas; medo do clima,
estranho e distante do clima de casa.
Muitos proprietários de terras nas
ilhas britânicas fingiam, quase doentiamente, viver na Inglaterra. Estivessem
na Jamaica ou em Barbados, usavam perucas e roupas sufocantes de lã. Bebiam
muito, certamente para esquecer o sofrimento e a saudade de casa. Outro efeito
que as Américas e seus vícios causaram foi a “luxúria contranatural e monstruosa”,
que passou a ser prática constante dos
habitantes. Administradores locais chegaram a roubar a prata das igrejas.
Quando, em 1692, a capital da Jamaica, Port Royal, foi destruída por um
terremoto e pelas cheias que se seguiram, a causa apontada pelos próprios
moradores locais foi: descontentamento divino. Segundo um inglês da época: “A vilania
é inerente a este clima”. Era a Sodoma e Gomorra das Américas.
Os produtos principais do
comércio transatlântico eram: tabaco, açúcar, prata e ouro. Seus preços eram
elevados o suficiente para garantir a lucratividade. No caso do açúcar, sua
demanda cresceu exponencialmente após 1750. A prata e o ouro monetizaram a
economia européia, embora grande parte da prata fosse reexportada para o
Oriente, objetivando pagar pela compra de têxteis, seda, porcelana, chá e
especiarias diversas. A Índia era o destino principal das exportações de ouro.
Portanto, o tesouro achado no
continente, inicialmente, não estimulou o desenvolvimento de manufaturas, mas a
aquisição de manufaturados asiáticos. Por outro lado, as economias americanas
que prosperavam à base das culturas de exportação geraram demanda por produtos
europeus, que atraíram exportações britânicas principalmente no século XVIII.
Uma classe que se beneficiou por
séculos desse comércio foram os funcionários estatais das economias
mercantilistas. O aparato burocrático criado para garantir o monopólio real
sobre as trocas comerciais foi fonte de sustento de milhares de aristocratas,
funcionários ou pensionistas.
Um problema que afligiu a Europa
e, por conseqüência, desacelerou o comércio transatlântico foi a chamada “Época
de Crise”, no século XVII. A estagnação do crescimento populacional, provocada
por uma sequência insana de conflitos de matriz religiosa; além do crescimento
bastante lento após 1700. O comércio, sem a demanda necessária, definhava. O
mercado de cereais, atendido pela produção do leste da Europa, encolheu. Até o
século XIX, a fome era um perigo que grassava constantemente na Europa. A
servidão era adotada largamente no leste da Europa e na Rússia.
Por sua proximidade com vias de
comunicação (canais navegáveis) e pela sua participação no comércio, que
permitia ganhos de eficiência pela especialização, as nações marítimas eram as
que apresentavam melhores condições de prosperidade. Nesse contexto surgiram as
famosas cidades portuárias: Londres, Hamburgo e Amsterdam. A frota mercante
inglesa duplicou entre 1660 e 1690. Nessas cidades, os padrões de consumo
mudavam rapidamente e a procura por alimentos, drogas, bebidas, têxteis e
artigos domésticos importados era frenética.
A despeito do sucesso dessas
nações marítimas, muitas também tiveram histórias de fracasso. Exemplos de Companhias
mal sucedidas fundadas por elas, foram: Royal Africa Company e South Seas
Company. A concorrência comercial e a infraestrutura de fortalezas, escoltas e
regulação mercantil impunham-lhes custos de transação estratosféricos.
Somente alguns anos depois seria
possível antever alguma supremacia das Nações acima.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Ascensão e queda
dos impérios globais”
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