Um dos fenômenos mais difíceis de
entender no comportamento humano é a dependência. Quando nosso corpo reage com
prazer a acontecimentos que nos causariam, normalmente, dor e sofrimento,
têm-se aí uma patologia que precisa ser investigada.
Só há pouco tempo os cientistas
começaram a estabelecer as bases químicas e genéticas da dependência. O
parasita Toxoplasma gondii é a causa de diversas dessas dependências. O Toxo
(para facilitar, chamaremos assim), é um protozoário unicelular, parente de
algas e amebas. Originalmente é um patógeno felino (ataca gatos, tigres etc)
mas atualmente ataca macacos, morcegos, baleias e outros. A infecção, em geral,
ocorre por contato com fezes infectadas.
Supõe-se que um terço da
população mundial tenha contraído Toxo. Quando invade mamíferos, nada até o
cérebro, forma minúsculos cistos, especialmente na amígdala, região responsável
por processar as emoções, prazer e ansiedade. Tais cistos podem provocar
comportamentos como ciúme ou agressividade nas pessoas. Também altera o olfato.
Habitando o cérebro, Toxo pode se
clonar, como qualquer micróbio. No intestino de gatos pode, inclusive,
reproduzir-se sexuadamente. Dos 8 mil genes de Toxo o fazem produzir dopamina.
A dopamina ajuda a ativar os circuitos de gratificação do cérebro, inundando o
organismo de boas sensações. Cocaína, ecstasy e outras drogas também agem dessa
maneira, dando a sensação do barato.
Como Toxo, muitos outros
micróbios na natureza levam organismos complexos a agirem de maneira quase
descerebrada, controlado por suas emoções, que foram manipuladas por
substâncias produzidas pelo organismo, quando sob controle de tais micróbios.
Para uma espécie como os humanos,
que valorizam a inteligência e a
autonomia, os casos como o de Toxo tornam-se desconfortáveis de ouvir e
aceitar. A capacidade que Toxo tem de produzir dopamina foi “roubada” de nossos
genes, por meio de trocas de material genético ocorrida após milhares de anos
de convivência entre humanos e vírus e bactérias. Desde então, tornou-se capaz
de alterar o comportamento do organismo hospedeiro em seu favor, muitas vezes
custando a própria sobrevivência do organismo que habita.
Alguns médicos de centro de
atendimento de emergência relatam que motociclistas vítimas de acidentes
apresentam um grande número de cistos de Toxo no cérebro. São aquelas pessoas
que sentem um enorme prazer em realizar manobras arriscadas, de trafegar em
alta velocidade e acham isso o maior barato. Na verdade seus cérebros estão
carregados de microorganismos que geram essas sensações de prazer quando estão arriscando
suas vidas. E é a morte do organismo que leva à disseminação de Toxo, pois
assim este terá a oportunidade de infectar outros organismos.
Um neurocientista de Stanford
disse: “É meio assustador. O medo é algo básico e natural. Mas existe alguma coisa
que não apenas pode eliminar esse medo, como também transformá-lo num fascínio.
A fascinação pode ser manipulada de forma a nos atrair para o nosso pior
inimigo”.
Por tudo o que se sabe sobre este
microorganismo, ele mereceu o seu apelido de “micróbio maquiavélico”. Não
apenas nos manipula, como ainda nos faz sentir prazer com isso ...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro "O polegar do violinista".
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