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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

AS BACTÉRIAS QUE TRANSFORMAM SOFRIMENTO EM PRAZER


Um dos fenômenos mais difíceis de entender no comportamento humano é a dependência. Quando nosso corpo reage com prazer a acontecimentos que nos causariam, normalmente, dor e sofrimento, têm-se aí uma patologia que precisa ser investigada.

Só há pouco tempo os cientistas começaram a estabelecer as bases químicas e genéticas da dependência. O parasita Toxoplasma gondii é a causa de diversas dessas dependências. O Toxo (para facilitar, chamaremos assim), é um protozoário unicelular, parente de algas e amebas. Originalmente é um patógeno felino (ataca gatos, tigres etc) mas atualmente ataca macacos, morcegos, baleias e outros. A infecção, em geral, ocorre por contato com fezes infectadas.

Supõe-se que um terço da população mundial tenha contraído Toxo. Quando invade mamíferos, nada até o cérebro, forma minúsculos cistos, especialmente na amígdala, região responsável por processar as emoções, prazer e ansiedade. Tais cistos podem provocar comportamentos como ciúme ou agressividade nas pessoas. Também altera o olfato.

Habitando o cérebro, Toxo pode se clonar, como qualquer micróbio. No intestino de gatos pode, inclusive, reproduzir-se sexuadamente. Dos 8 mil genes de Toxo o fazem produzir dopamina. A dopamina ajuda a ativar os circuitos de gratificação do cérebro, inundando o organismo de boas sensações. Cocaína, ecstasy e outras drogas também agem dessa maneira, dando a sensação do barato.

Como Toxo, muitos outros micróbios na natureza levam organismos complexos a agirem de maneira quase descerebrada, controlado por suas emoções, que foram manipuladas por substâncias produzidas pelo organismo, quando sob controle de tais micróbios.

Para uma espécie como os humanos, que valorizam a inteligência e a  autonomia, os casos como o de Toxo tornam-se desconfortáveis de ouvir e aceitar. A capacidade que Toxo tem de produzir dopamina foi “roubada” de nossos genes, por meio de trocas de material genético ocorrida após milhares de anos de convivência entre humanos e vírus e bactérias. Desde então, tornou-se capaz de alterar o comportamento do organismo hospedeiro em seu favor, muitas vezes custando a própria sobrevivência do organismo que habita.

Alguns médicos de centro de atendimento de emergência relatam que motociclistas vítimas de acidentes apresentam um grande número de cistos de Toxo no cérebro. São aquelas pessoas que sentem um enorme prazer em realizar manobras arriscadas, de trafegar em alta velocidade e acham isso o maior barato. Na verdade seus cérebros estão carregados de microorganismos que geram essas sensações de prazer quando estão arriscando suas vidas. E é a morte do organismo que leva à disseminação de Toxo, pois assim este terá a oportunidade de infectar outros organismos.

Um neurocientista de Stanford disse: “É meio assustador. O medo é algo básico e natural. Mas existe alguma coisa que não apenas pode eliminar esse medo, como também transformá-lo num fascínio. A fascinação pode ser manipulada de forma a nos atrair para o nosso pior inimigo”.

Por tudo o que se sabe sobre este microorganismo, ele mereceu o seu apelido de “micróbio maquiavélico”. Não apenas nos manipula, como ainda nos faz sentir prazer com isso ...



Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro "O polegar do violinista".

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