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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PL DA TERCEIRIZAÇÃO, PAÍSES DE BAIXO CUSTO E PORQUE SEREMOS O PRÓXIMO CAMBODJA


Firmas de consultoria especializadas em outsourcing, ou terceirização de atividades produtivas em escala global, utilizam a expressão Low Cost Countries (LCC), ou Países de Baixo Custo para se referirem a locais onde os custos de produção são mais atrativos, em geral por lá existirem baixos salários e/ou baixos impostos.

O processo de Low Cost Countries Sourcing é a estratégia pela qual uma empresa procura fornecedores de materiais que contam com custos reduzidos, portanto pratica preços menores. A essa estratégia praticada em escala global chama-se Global Sourcing.

Países como EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália, Europa Ocidental são considerados países de alto custo (HCC), enquanto que países ricos em recursos naturais e cujos trabalhadores contam com salários regulados por lei, como China, Índia, Indonésia, Bolívia, Brasil, Rússia, México e países da Europa Oriental são considerados países de baixo custo – LCC.

O princípio básico que rege a procura por LCCs é obter eficiência produtiva por meio da identificação de diferenças de custos, que permita a arbitragem entre regiões geográficas diferentes.

Não basta a um país ser de baixo custo. Somente aqueles que contam com ambiente político e econômico estável, infraestrutura moderna e sistema legal seguro.

Os custos trabalhistas têm crescido muito na Ásia e os fornecedores asiáticos estão cobrando preços maiores pelos seus produtos e serviços. Muitos desses lugares viram um rápido aumento de salários desde os anos 2000. Um fator que contribuiu para o aumento de salários foi o próprio deslocamento de trabalhadores do campo para as fábricas, onde a produtividade do trabalho é superior. Demanda de trabalhadores por melhores salários tem ocorrido em Cingapura, por exemplo, onde os salários e o custo de vida são crescentes. As empresas vêem o estreitamento de suas margens de lucro e repassam para seus custos.

Custos trabalhistas na China e na Índia têm crescido ao longo dos anos. A China era inicialmente um dos países com menores custos trabalhistas. Entretanto, devido à crescente demanda por trabalhadores e o conseqüente aumento dos custos de produção, o país já não é o que conta com os menores custos de produção fabris. A China é considerada atualmente menos competitiva nesses critérios. Os custos trabalhistas crescentes resultaram na saída de firmas estrangeiras em direção à Tailândia e às Filipinas.

O fenômeno pelo qual a rápida industrialização perde o ritmo quando o estoque de trabalhadores em áreas rurais, que contam com menores produtividade e salário, reduz-se rapidamente, levando a aumentos de salários e, consequentemente, aumentos de custos de produção, é conhecido como a “armadilha da classe média”, ou Lewis Turning Point, observado no Japão. Nesses casos, o sucesso do processo de industrialização, por si só, decreta seu fim, caso não seja encontrado outro diferencial competitivo.

No caso da China, embora ainda haja 320 milhões de trabalhadores nas áreas rurais, apenas 20 milhões têm potencial para migrar para as cidades. O cenário desenhado Lewis era bem próximo deste, em que os trabalhadores dedicados a atividades de subsistência estariam plenamente absorvido pelo setor econômico moderno e em que a acumulação de capital adiante seria acompanhada por aumentos de salários. Desde 2004, os salários médios fabris mais que quintuplicaram, em termos nominais e em moeda local.

Até aqui, falou-se em custos trabalhistas e fiscais. Contudo, muitos outros são levados em conta por empresários que estejam planejando a abertura de novas fábricas. Custos com matérias primas, energia, transporte, dentre outros. Não se olvidem os custos de movimentação de capitais, também. A valorização da moeda local, quando significativa, também pode absorver todos os ganhos de produtividade, haja vista que o mercado que costumam focar é internacional.

Uma surpresa observada desde 2004 é o papel cada vez mais competitivo dos EUA em comparação aos demais países. Desde aquele ano, observaram-se maiores restrições a aumentos de salários nos EUA e uma redução expressiva no preço da energia. No caso do México, os salários subiram menos de 50% em dólares em mais de uma década. Com isso, os trabalhadores mexicanos ficaram 13% mais baratos que os chineses. Com a redução em anos recentes dos custos da energia, a competitividade do país alçou vôo.

Por seu turno, países historicamente considerados de baixo custo, como o Brasil, além de outros até recentemente classificados nessa categoria, como China, Rússia, Polônia e República Tcheca estão sob pressão por aumentos dos custos. Brasil e Rússia nunca foram muito celebrados entre os países de baixo custo – corrupção e ambiente político instável tornavam-nos relativamente refratários a investimentos externos.

Entretanto, Polônia e República Tcheca pagam pelos aumentos substanciais de salários e pela valorização monetária de correntes do fortalecimento de suas economias.

Deve-se ter em mente que os custos importam de maneiras diferentes, a depender do tipo de companhia que se analise. Custos trabalhistas reduzidos são importantes para fabricantes de roupas, enquanto que energia barata é importante para indústrias químicas. Existem também fatores que não podem ser simplesmente calculados e expostos em uma planilha: proximidade dos mercados europeus, por exemplo, continua sendo um diferencial competitivo para a Polônia e a República Tcheca. O custo dos investimentos não levados para a Rússia por fatores político também é difícil de quantificar.

Uma vez estabelecidos, aglomerados locais de investimentos – trabalhadores especializados, infraestrutura e know-how – tornam-se ganhos perenes, como no caso da China. Conforme as vantagens calculáveis tornam-se menos significativas, desvantagens não calculáveis tornam-se mais importantes.

A propósito, em recente relatório da KPMG, Nick Debnam escreveu que a procura por novos fornecedores asiáticos  em lugar da China tem como causas: custos trabalhistas crescentes e o envelhecimento da força de trabalho. A média etária está em 34 anos no país.

Cada vez mais companhias estão se deslocando para a Indonésia e o Vietnã, como fabricantes de sapatos e tênis. A Índia atrai cada vez mais fabricantes de tecidos costurados à mão e metalúrgicas, como opção à China. Cambodja e Bangladesh estão experimentando crescimento nas exportações como resultado positivo de Tratados comerciais com a União Européia.

Entre os países que poderão substituir a China como LCCs estão também Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka, Malásia, Tailândia.

As atividade afetadas pelo citado aumento de custos trabalhistas chineses são bastante diversas: desde fabricantes de roupas a indústrias de alta tecnologia. A gigante japonesa Panasonic anunciou que fecharia sua fábrica de baterias íon-lítio em Pequim, cortando 1.300 empregos. A taiwanesa Foxconn, fornecedora de empresas como Apple e uma das maiores exportadoras chinesas, comunicou que investiria numa nova fábrica na Índia, ao custo de 5 bilhões de dólares. Nessa mesma época, a sul-coreana Samsung investiria adicionais 3 bilhões de dólares no Vietnã, visando a aumentar sua produção.

Em pesquisa realizada pela Associação de Indústrias de Moda dos EUA, a China apareceu na última colocação entre 27 destinos em termos de tendência das marcas de moda americanas para aumentar a procura por fornecedores externos nos dois anos seguintes, enquanto que Vietnã e Índia ficaram nos primeiros lugares. O aumento de custos trabalhistas na China, para o setor, sofreu aumento de custos anualmente na ordem de 10%.

Em Shengzhen, onde a Foxconn tem uma fábrica “campus” onde trabalham mais de 200.000 pessoas, o menor salário mensal subiu mais de 50% em quatro anos. O salário médio saltou para 2.030 yuans.

Com a redução da demanda mundial, descartou-se a possibilidade de aumento de preços, o que força a redução de custos.

Outro fator que tem levado a aumentos de custos de produção na China é o fortalecimento do Yuan, a moeda local. O governo é constantemente obrigado a desvalorizar o Yuan e a demonstrar compromisso nesse sentido, para evitar a debandada de mais companhias.

No momento da pesquisa, os custos de produção de produtos de baixa qualidade no Vietnã eram 30% menores que na China. Os menores salários do Vietnã estavam em 145 dólares. A entrada do país no Tratado Transpacífico deverá torná-lo ainda mais atraente.

Por seu lado, a China parece ter aproveitado o momento para fortalecer políticas que pensem no futuro. O foco parece estar saindo da produção de produtos low-end para outros, de maior valor agregado, como computadores e aviões.

O maior impacto deve ocorrer nas cidades que se especializaram em atrair companhias intensivas em mão de obra. Por outro lado, o desafio de dar um passo à frente, estabelecendo indústrias mais modernas e eficientes também vem se revelando um grande desafio. É necessário criar uma cadeia de fornecedores robusta, uma base de trabalhadores especializados e uma excelente logística, comparável à dos melhores do Sudeste asiático.

Bom. Considerando as promessas de Trump, voltadas para o trabalhador, prometendo reanimar a economia americana, ele pretende “elevar” o país ao status de uma China ou de um Vietnã? Os trabalhadores imigrantes poderão voltar para casa, para ganhar melhor?

Por fim, com a perspectiva da aprovação do PLC "da terceirização", que trará mais flexibilidade para que companhias achem fornecedores que achatem seus custos até o limite da prudência, aproveite para fazer seu curso de corte e costura. 


Rubem L. de F. Auto   

Fontes:

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