Firmas de consultoria
especializadas em outsourcing, ou terceirização de atividades produtivas em
escala global, utilizam a expressão Low Cost Countries (LCC), ou Países de
Baixo Custo para se referirem a locais onde os custos de produção são mais atrativos,
em geral por lá existirem baixos salários e/ou baixos impostos.
O processo de Low Cost Countries Sourcing
é a estratégia pela qual uma empresa procura fornecedores de materiais que
contam com custos reduzidos, portanto pratica preços menores. A essa estratégia
praticada em escala global chama-se Global Sourcing.
Países como EUA, Reino Unido, Canadá,
Austrália, Europa Ocidental são considerados países de alto custo (HCC),
enquanto que países ricos em recursos naturais e cujos trabalhadores contam com
salários regulados por lei, como China, Índia, Indonésia, Bolívia, Brasil,
Rússia, México e países da Europa Oriental são considerados países de baixo
custo – LCC.
O princípio básico que rege a
procura por LCCs é obter eficiência produtiva por meio da identificação de
diferenças de custos, que permita a arbitragem entre regiões geográficas
diferentes.
Não basta a um país ser de baixo
custo. Somente aqueles que contam com ambiente político e econômico estável,
infraestrutura moderna e sistema legal seguro.
Os custos trabalhistas têm
crescido muito na Ásia e os fornecedores asiáticos estão cobrando preços
maiores pelos seus produtos e serviços. Muitos desses lugares viram um rápido
aumento de salários desde os anos 2000. Um fator que contribuiu para o aumento
de salários foi o próprio deslocamento de trabalhadores do campo para as
fábricas, onde a produtividade do trabalho é superior. Demanda de trabalhadores
por melhores salários tem ocorrido em Cingapura, por exemplo, onde os salários
e o custo de vida são crescentes. As empresas vêem o estreitamento de suas
margens de lucro e repassam para seus custos.
Custos trabalhistas na China e na
Índia têm crescido ao longo dos anos. A China era inicialmente um dos países
com menores custos trabalhistas. Entretanto, devido à crescente demanda por trabalhadores
e o conseqüente aumento dos custos de produção, o país já não é o que conta com
os menores custos de produção fabris. A China é considerada atualmente menos
competitiva nesses critérios. Os custos trabalhistas crescentes resultaram na
saída de firmas estrangeiras em direção à Tailândia e às Filipinas.
O fenômeno pelo qual a rápida
industrialização perde o ritmo quando o estoque de trabalhadores em áreas rurais,
que contam com menores produtividade e salário, reduz-se rapidamente, levando a
aumentos de salários e, consequentemente, aumentos de custos de produção, é
conhecido como a “armadilha da classe média”, ou Lewis Turning Point, observado
no Japão. Nesses casos, o sucesso do processo de industrialização, por si só, decreta
seu fim, caso não seja encontrado outro diferencial competitivo.
No caso da China, embora ainda
haja 320 milhões de trabalhadores nas áreas rurais, apenas 20 milhões têm
potencial para migrar para as cidades. O cenário desenhado Lewis era bem
próximo deste, em que os trabalhadores dedicados a atividades de subsistência
estariam plenamente absorvido pelo setor econômico moderno e em que a
acumulação de capital adiante seria acompanhada por aumentos de salários. Desde
2004, os salários médios fabris mais que quintuplicaram, em termos nominais e
em moeda local.
Até aqui, falou-se em custos
trabalhistas e fiscais. Contudo, muitos outros são levados em conta por
empresários que estejam planejando a abertura de novas fábricas. Custos com
matérias primas, energia, transporte, dentre outros. Não se olvidem os custos
de movimentação de capitais, também. A valorização da moeda local, quando
significativa, também pode absorver todos os ganhos de produtividade, haja
vista que o mercado que costumam focar é internacional.
Uma surpresa observada desde 2004
é o papel cada vez mais competitivo dos EUA em comparação aos demais países.
Desde aquele ano, observaram-se maiores restrições a aumentos de salários nos
EUA e uma redução expressiva no preço da energia. No caso do México, os
salários subiram menos de 50% em dólares em mais de uma década. Com isso, os
trabalhadores mexicanos ficaram 13% mais baratos que os chineses. Com a redução
em anos recentes dos custos da energia, a competitividade do país alçou vôo.
Por seu turno, países historicamente
considerados de baixo custo, como o Brasil, além de outros até recentemente
classificados nessa categoria, como China, Rússia, Polônia e República Tcheca
estão sob pressão por aumentos dos custos. Brasil e Rússia nunca foram muito celebrados
entre os países de baixo custo – corrupção e ambiente político instável
tornavam-nos relativamente refratários a investimentos externos.
Entretanto, Polônia e República
Tcheca pagam pelos aumentos substanciais de salários e pela valorização
monetária de correntes do fortalecimento de suas economias.
Deve-se ter em mente que os custos
importam de maneiras diferentes, a depender do tipo de companhia que se
analise. Custos trabalhistas reduzidos são importantes para fabricantes de
roupas, enquanto que energia barata é importante para indústrias químicas.
Existem também fatores que não podem ser simplesmente calculados e expostos em
uma planilha: proximidade dos mercados europeus, por exemplo, continua sendo um
diferencial competitivo para a Polônia e a República Tcheca. O custo dos
investimentos não levados para a Rússia por fatores político também é difícil
de quantificar.
Uma vez estabelecidos,
aglomerados locais de investimentos – trabalhadores especializados,
infraestrutura e know-how – tornam-se ganhos perenes, como no caso da China.
Conforme as vantagens calculáveis tornam-se menos significativas, desvantagens
não calculáveis tornam-se mais importantes.
A propósito, em recente relatório
da KPMG, Nick Debnam escreveu que a procura por novos fornecedores asiáticos em lugar da China tem como causas: custos
trabalhistas crescentes e o envelhecimento da força de trabalho. A média etária
está em 34 anos no país.
Cada vez mais companhias estão se
deslocando para a Indonésia e o Vietnã, como fabricantes de sapatos e tênis. A
Índia atrai cada vez mais fabricantes de tecidos costurados à mão e
metalúrgicas, como opção à China. Cambodja e Bangladesh estão experimentando
crescimento nas exportações como resultado positivo de Tratados comerciais com
a União Européia.
Entre os países que poderão
substituir a China como LCCs estão também Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka,
Malásia, Tailândia.
As atividade afetadas pelo citado
aumento de custos trabalhistas chineses são bastante diversas: desde
fabricantes de roupas a indústrias de alta tecnologia. A gigante japonesa
Panasonic anunciou que fecharia sua fábrica de baterias íon-lítio em Pequim, cortando
1.300 empregos. A taiwanesa Foxconn, fornecedora de empresas como Apple e uma
das maiores exportadoras chinesas, comunicou que investiria numa nova fábrica
na Índia, ao custo de 5 bilhões de dólares. Nessa mesma época, a sul-coreana Samsung
investiria adicionais 3 bilhões de dólares no Vietnã, visando a aumentar sua produção.
Em pesquisa realizada pela
Associação de Indústrias de Moda dos EUA, a China apareceu na última colocação
entre 27 destinos em termos de tendência das marcas de moda americanas para aumentar
a procura por fornecedores externos nos dois anos seguintes, enquanto que
Vietnã e Índia ficaram nos primeiros lugares. O aumento de custos trabalhistas
na China, para o setor, sofreu aumento de custos anualmente na ordem de 10%.
Em Shengzhen, onde a Foxconn tem
uma fábrica “campus” onde trabalham mais de 200.000 pessoas, o menor salário
mensal subiu mais de 50% em quatro anos. O salário médio saltou para 2.030
yuans.
Com a redução da demanda mundial,
descartou-se a possibilidade de aumento de preços, o que força a redução de
custos.
Outro fator que tem levado a
aumentos de custos de produção na China é o fortalecimento do Yuan, a moeda
local. O governo é constantemente obrigado a desvalorizar o Yuan e a demonstrar
compromisso nesse sentido, para evitar a debandada de mais companhias.
No momento da pesquisa, os custos
de produção de produtos de baixa qualidade no Vietnã eram 30% menores que na
China. Os menores salários do Vietnã estavam em 145 dólares. A entrada do país
no Tratado Transpacífico deverá torná-lo ainda mais atraente.
Por seu lado, a China parece ter
aproveitado o momento para fortalecer políticas que pensem no futuro. O foco
parece estar saindo da produção de produtos low-end para outros, de maior valor
agregado, como computadores e aviões.
O maior impacto deve ocorrer nas
cidades que se especializaram em atrair companhias intensivas em mão de obra.
Por outro lado, o desafio de dar um passo à frente, estabelecendo indústrias
mais modernas e eficientes também vem se revelando um grande desafio. É
necessário criar uma cadeia de fornecedores robusta, uma base de trabalhadores
especializados e uma excelente logística, comparável à dos melhores do Sudeste
asiático.
Bom. Considerando as promessas de
Trump, voltadas para o trabalhador, prometendo reanimar a economia americana,
ele pretende “elevar” o país ao status de uma China ou de um Vietnã? Os
trabalhadores imigrantes poderão voltar para casa, para ganhar melhor?
Por fim, com a perspectiva da aprovação do PLC "da terceirização", que trará mais flexibilidade para que companhias achem fornecedores que achatem seus custos até o limite da prudência, aproveite para fazer seu curso de corte e costura.
Por fim, com a perspectiva da aprovação do PLC "da terceirização", que trará mais flexibilidade para que companhias achem fornecedores que achatem seus custos até o limite da prudência, aproveite para fazer seu curso de corte e costura.
Rubem L. de F. Auto
Fontes:
Nenhum comentário:
Postar um comentário