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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O PLANETA GRÁVIDO DE VIDA E SEUS OS ABORTOS ESPONTÂNEOS POSTERIORES


Voltando no tempo 4 bilhões de anos, o que se poderia observar? Bom, por alguns 600 milhões de anos, o que existia foi compreensivelmente batizado de Éon Hadeano (na mitologia grega, Hades guarnecia a entrada do inferno). A Terra sofreu nesse período bombardeios incessantes de asteróides e impactos de outros cometas, além de ter se chocado com pelo menos um Paneta do tamanho de Marte (esse último episódio conferiu densidade à Terra, o que explica sua gravidade relativamente forte).

Quando as coisas se acalmaram, criou-se um ambiente que favorecia o surgimento da vida. Na Groenlândia e na Austrália foram achados, em rochas muito antigas, carbonatos: minerais formados pela ação de microrganismos.

A vida é composta de moléculas orgânicas, cujo elemento mais importante é o carbono. Essas moléculas se desenvolvem nos ambientes os mais diversos. Em nuvens cósmicas existem moléculas como a do etanol – ou álcool etílico. O universo está cheio de aminoácidos, que compõem as proteínas.

Porém, o grande salto evolucionário, partindo dessas moléculas e chegando aos primeiros seres unicelulares, ainda é um mistérios a ser desvendado. Existem duas hipóteses principais: “replicadores primeiro” ou “metabolismo primeiro”. O melhor exemplo de replicador conhecido é o DNA. O detalhe é que essa molécula é complexa e instável; não poderia ter surgido de maneira inédita, sem dar alguns passos antes.
Os replicadores são elementos com capacidade de se multiplicar e transmitir informação genética à geração seguinte, com relativa fidelidade. É muito importante que haja algum grau de alteração no herdeiro das informações genéticas, embora mantenham-se as características principais do elemento-pai. Assim ocorre o grosso da evolução.

O modelo “metabolismo primeiro” argumenta que as moléculas replicadoras necessitariam, antes de qualquer coisa, de um ambiente em que se formassem e que as protegesse. O primeiro passo seria, portanto, a geração de uma vesícula ou membrana – lembrando uma célula, mesmo – que controlasse a passagem de substâncias por meio de si, em ambos os sentidos. Em seu interior, moléculas desenvolveram a capacidade de executar a “autopoiese” – gerar cópias de si mesmas. Esse ser primitivo já possuía a capacidade de eliminar as substâncias que poderiam ser prejudiciais ao seu metabolismo, mantendo seu interior saudável para o desenvolvimento da vida.

Existe um elo entre ambas as hipóteses: o RNA. Esta molécula quimicamente semelhante ao DNA seria capaz de agir como replicador e de iniciar o metabolismo celular. Embora ainda seja um fato envolto em mistérios, sabe-se que 3,5 bilhões de anos a Terra já era um celeiro de bactérias, seres unicelulares sem núcleo que abrigue seu material genético (procariontes).

Aliás, deixe-se claro que a Terra ainda é o “reino das bactérias” por excelência. Em nós mesmos, há mais bactérias do que células humanas.

Esses seres podem se organizar em colônias que, em conjunto, pode realizar tarefas bem mais complexas. Podem trocar genes entre si, apenas pelo contato físico. Esse comportamento gera variedade genética que lembra aquela realizada por meio de reprodução sexuada.

Então, há cerca de 1,5 bilhão de anos, houve uma fusão entre duas bactérias. Assim surgiram os seres eucariontes, organismos que possuem um núcleo que abriga seu material genético. Deste processo surgiram funções básicas como respirar oxigênio ou fazer fotossíntese. Antigas bactérias fundidas aos eucariontes deram surgimento a essas capacidades.

Relacionar exatamente quais fatores desequilibraram o desenvolvimento da vida em favor de seres cada vez mais complexos ainda é uma tarefa inconclusa. Supõe-se que uma série de eras glaciais, entre 750 e 600 milhões de anos atrás, hipótese conhecida como “Snowball Earth” – ou “Terra Bola de Neve” – ajude a explicar. Nesse período, o gelo se estendia até o Equador.

O crescimento exponencial da variedade da vida animal na Terra ocorreu no período Cambriano: a Explosão Cambriana, a partir de 650 milhões de anos atrás. Foi quando surgiram os ancestrais de todos os grupos modernos de bichos: artrópodes, moluscos, vertebrados etc. Até então a vida complexa ficou restrita aos mares.

Nas centenas de milhões seguintes, a vida chegou a ambientes até então virgens (de vida), o que garantiu uma diversidade espetacular: adaptação à terra firme; invenção dos ovos; insetos voadores; répteis; aves.

Mas nem tudo são flores no Planeta Terra. Os períodos de explosão de vida foram seguidos pelas temíveis extinções em massa. Os paleontólogos apontam cinco: as Big Five. A menor delas levou mais da metade das espécies existentes, mas outras superaram em muito esse número -  a do período Permiano extinguiu mais de 90% delas, há 251 milhões de anos. A extinção do fim do Cretáceo levou consigo os dinossauros (e vários mamíferos também) e ocorreu há 65 milhões de anos, causada pela queda de um asteroide. 

Contudo, diga-se, a grande maioria foi provocada por eventos terráqueos, sem influência externa ao planeta.
Essas extinções mudaram completamente o ambiente na Terra, levando animais bem adaptados à completa extinção em um pequeno espaço de tempo (portanto, sem tempo para se readaptarem). Foram equivalentes a um “reboot” no mundo. O único meio de resistir a esses eventos é a ampla distribuição geográfica, já que seria quase impossível que fossem atingidos em todos os lugares do mundo simultaneamente.

A recomposição das espécies terráqueas levada a cabo no encalço das grandes extinções é definitiva. Após a extinção do Cretáceo, os mamíferos dominaram a natureza e, há uns 6 milhões de anos, uns chimpanzés africanos começaram a caminhar sobre duas pernas nas savanas ao seu redor.

Vendo a história sob essa perspectiva, conclui-se que o fato de estarmos aqui deve-se a... muita sorte.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: Livro “Além de Darwin: o que sabemos sobre a vida ...”          

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