No ano de 293, o imperador
Diocleciano fundou a tetrarquia: quatro imperadores passariam a governar todo o
Império Romano. Sua intenção era evitar o desmoronamento de todo o império. Ao
menos temporariamente, foi bem sucedido ao reformá-lo econômica e administrativamente.
Como não poderia deixar de ser,
não tardaram a estourar os conflitos, que levariam ao restabelecimento do
imperador único. Um desses conflitos envolvia os imperadores Constantino I e
Maxêncio, aparentados mas ainda assim inimigos.
O conflito entre ambos ocorreu em
312 d.C.: a Batalha da Ponte Mílvia. Antes do conflito, Maxêncio consultara o
oráculo, que garantira que seu exército de 40.000 homens derrotaria o de
Constantino.
Constantino tinha consciência de
sua inferioridade militar. Ainda que não desistisse da batalha, sabia que
precisava de algo que motivasse seus homens a lutarem como nunca. Constantino
postou-se defronte de seus homens e contou-lhes que havia visto no céu o símbolo de Jesus Cristo, acompanhado da frase “Com este símbolo vencerás!”.
O símbolo, que depois mandara
pintar nos escudos de seus soldados, era o monograma XP – equivalente a CHR. A
frase que ouvira foi gravada nas moedas romanas: “Sob este signo serás
vencedor.”
Importante notar que Maxêncio
representava o oposto de tudo o que Constantino defendia. Desde que era
imperador, Maxêncio tentava ressuscitar as antigas tradições romanas, com seus
deuses.
Seria ingênuo não crer no uso de
algo muito caro a seus soldados como motivação para a batalha. Mesmo no mundo
moderno pode-se visualizar o uso de símbolos religiosos, combustível perfeito
para o fanatismo.
Ao fim da batalha, Maxêncio
restara derrotado, afogando-se nas águas do Tibre. Com a vitória, Constantino
passava à condição de imperador de todo o Império Romano do Ocidente.
Passados 12 anos desse episódio,
Constantino derrotava Licínio, imperador único da parte Oriental do império,
condição que passara a ocupar após derrotar Maximino Daia. Com isso,
Constantino era agora Imperador único de todo o Império Romano.
No ano de 330 d.C., Constantino
tomava uma decisão muito polêmica. Decidiu-se por transferir a Capital da
cidade de Roma, nascedouro de todo o Império e cidade caprichosa, local do
Senado e de toda sua obstinação por conter o poder imperial, para a cidade grega
de Bizâncio, que Constantino rebatizara para Nova Roma – depois, seria novamente
rebatizada, agora para Constantinopla. Seu brasão era a águia bicéfala.
Com Constantino, o cristianismo
foi tomando o status de religião estatal. Construiu igrejas e concedeu poder
judicial aos bispos. Estabeleceu o domingo como dia de descanso. Certamente o
poder expansivo do cristianismo parecia-lhe instrumento perfeito para
garantir-se no poder. No entanto, sabia que seus planos só teriam sucesso se
conseguisse ter influência sobre a Igreja. Para tanto, participou ativamente da
constituição decorrentes cristãs, orientou-as conforme suas conveniências.
Conduziu pessoalmente o Concílio de Nicea e foi o responsável por incorporar a
Santíssima Trindade aos dogmas cristãos.
Embora tenha garantido uma
sobrevida de alguns séculos ao Império, culturalmente o que florescia era o
cristianismo, enquanto a cultura romana entrava em decadência. Entretanto era
difícil dizer se Constantino era, de fato, cristão.
Em homenagem à sua vitória em
Mílvia, mandara construir um Arco do Triunfo (inspirou o homônimo francês). Nesse,
não há qualquer menção a simbologias cristãs e há gravuras de dois deuses
romanos. Na parte ocidental do império, de raiz pagã, praticamente não se
declarava cristão. Somente o fazia na parte oriental, de maioria cristã.
Impossível disfarçar um interesse político.
Constantino faleceu em 337 d.C. O
imperador requisitou Eusébio de Nicomédia, patriarca de Constantinopla, para
batizá-lo. Constantino tinha muito do que se arrepender, muitos pecados a
expiar, entre eles o assassinato de sua mulher e de seu filho.
Contudo, a Igreja romana usou o
episódio para espalhar uma lenda, que teria papel fundamental no mundo nos seus
mil anos seguintes: o Testamento de Constantino. Por essa lenda, Constantino na
verdade fora batizado pelo Papa Silvestre I. Em retribuição, Constantino havia o
proclamado, a ele e a todos os bispos de Roma que o sucedessem, soberanos sobre
a cidade de Roma e toda a metade ocidental do Império.
No século XV, Nicolau de Cusa demonstrou
que tal documento era falsificado, mas já se haviam passado mais de mil anos. Foi
essa lenda que permitiu aos bispos de Roma serem proclamados Papas. Se a metade
oriental do Império tinha Constantinopla, a metade ocidental, no período do
Renascimento e com alguns séculos de diferença, ergueu a Cidade Vaticana.
No ano de 1054, ocorreu o cisma
do Oriente, pelo qual ficou definida a cisão entre a Igreja católica romana e a
Igreja oriental ortodoxa. Surgiu a excomunhão recíproca entre o Papa de Roma e
o Patriarca de Constantinopla. Mais uma herança de Constantino.
Interessante notar que Constantino
é considerado santo para a Igreja ortodoxa, porém apenas foi digno de ter um
dia em sua homenagem pela Igreja romana.
E tudo teve início com um irrefreável
desejo pelo poder ...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: “A história do mundo em 50
frases.”
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