No reino animal, a placenta é praticamente o aspecto que nos
define como mamíferos. Alguns que se apartaram de nossa linhagem há muito
tempo, como os ornitorrincos, ainda põem ovos – assim como peixes, répteis,
pássaros, insetos etc. Mas, das 2.150 espécies de mamíferos, 2 mil têm
placenta. Isso indica vantagem em termos de sobrevivência.
A placenta propicia à mãe mamífera ter a cria viva e se
desenvolvendo dentro dela. Os fetos têm mais tempo para desenvolver órgãos,
cérebro. A placenta expulsa toxinas, coisa que os ovos não fazem. A extensão longa
de tempo de alimentação conjunta forma laços familiares que perduram após o
nascimento. Outra característica dos mamíferos. O nome mamífero deriva
justamente de mamma, amamentação.
Além de fornecer
alimentação, o leite do seio ativa dezenas de genes nos bebês aleitados, a maioria
nos intestinos, mas também no cérebro.
Outras características dos mamíferos incluem pelos,
estrutura interna dos ouvidos e da mandíbula, além do hábito da mastigação.
No início da gravidez, os genes mais ativos são os que os
mamíferos herdaram de nossos ancestrais répteis, que punham ovos. Nosso início
é bem parecido com o de aves, lagartos, peixes. Com direito a caudas, guelras.
Depois de algumas semanas, o feto altera os genes reptilianos e reúne um
entourage de genes específicos de mamíferos. Nesse momento, atavismos
(regressões genéticas) podem ocorrer, levando ao nascimento de peitos de
leitoas, corpo coberto de pelos, pelos de macacos ou de cães etc. Outro caso
que ocorre é o nascimento de crianças com caudas. Em geral, podem ser
excisadas.
Nos fetos, a cauda cai entre a sexta e a oitava semanas.
Um atavismo que nos acompanha a todos é o órgão vomeronasal
(OVN). É usado para sentirmos o mundo a nosso redor, na medida em que detEcta
feromônios, aromas velados que se assemelham a hormônios. Ele nos dá certas
instruções a respeito de certos membros da nossa espécie.
Os seres humanos dependem menos do aroma do que outros
mamíferos. Ao longo da evolução, perdemos 600 genes olfativos. Entretanto, por
alguma razão, nós ainda desenvolvemos um OVN.
Existe um certo fetiche sobre a eficácia de feromônios
despertarem apetite sexual em humanos. Existem perfumes de feromônios e já
existiu um projeto das Forças Armadas americanas de desenvolverem uma bomba
gay, carregada de feromônios, que fariam os soldados inimigos largarem as armas
e praticarem sexo no campo de batalha, levado à sua derrota.
À parte essas divagações, os feromônios podem influenciar
nosso comportamento. São eles que levam à simultaneidade dos ciclos menstruais de
mulheres que vivem juntas. Em sociedades que não desenvolveram o hábito de
beijar, os pretendentes se cheiram. Experimentos envolvendo suor e orientação
sexual confluíram para mostrar o forte componente cheiro na aproximação sexual.
No nosso corpo, a resposta aos feromônios está ligada ao MHC
– um conjunto de genes relacionados a nosso sistema imunológico. Isso significa
que, quando levantamos o braço, junto com o odor natural são carregados
feromônios que o sexo oposto usa para cogitar acerca da nossa saúde e de nossa
resistência a doenças. Isso levanta até elocubrações sobre o potencial de ter
filhos saudáveis.
Em geral, nosso cérebro reage melhor a pessoas com MHC
diferente do nosso, pois aumenta a potencialidade de que nossos filhos herdem
um sistema imunológico resistente contra um maior espectro de doenças. Essa
também é uma explicação para acharmos naturalmente repugnante ter relações
sexuais com nossos irmãos.
São apenas algumas evoluções surgidas após milhões e milhões
de anos.
Rubem L. de F. Auto
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