Quando o monge budista Yang Xuanzhi visitou a antiga capital
chinesa, Luoyang, em 547, sua descrição foi desoladora: “Os muros da cidade
haviam desabado, os palácios e casas estavam em ruínas”. Apenas 13 anos antes,
a cidade vivera uma grande rebelião. Continuou o monge: “animais dos campos
haviam feito suas tocas nos degraus cheios de mato do palácio e pássaros da
montanha montavam seus ninhos nas árvores do pátio. Pastores itinerantes vagavam
pelas estradas, e agricultores plantavam painço entre as torres cerimoniais.”
De todos os impérios cadentes do período em foco, apenas os
persas conseguiram evitar uma decadência profunda. Por volta do ano 1080, as
palavras de um príncipe persa, aconselhando seu filho em assuntos de Estado dão
uma idéia do porquê: “Entenda essa verdade. O reino pode ser mantido pelo
exército, e o exército pelo ouro; e o ouro é adquirido por meio do
desenvolvimento agrícola; e o desenvolvimento agrícola por meio da justiça e
equidade. Portanto, seja justo e equitativo.”
Quem pôs o império chinês no caminho do progresso, após o
caos dos séculos VI e VII foi a dinastia Tang, vencedores da guerra civil terminada
recentemente. Um conselho dado por um de seus governantes, Taizong, foi: “O
governante depende do Estado e o Estado depende de seu povo. Oprimir o povo
para fazê-lo servir o governante é como alguém cortar a própria carne para
alimentar o estômago. O estômago dica satisfeito, mas o corpo fica ferido: o
governante enriquece, mas o Estado é destruído.”
A dinastia Tang imprimiu reformas modernizadoras importantes
em todos os setores da administração pública.
Mas o sucesso não durou muito tempo. Após enriquecer
novamente, o império chinês voltou a ser atacado por bandidos nômades, que
puseram o império, novamente, de joelhos.
A equação somente pendeu desfavoravelmente aos nômades
quando os chineses fizeram uma grande invenção: a pólvora. A referência mais
antiga a essa invenção data do século IX, quando monges taoistas chineses
investigavam elixires da imortalidade. Puseram fogo numa mistura de enxofre e
salitre e viram uma queima divertida, diferente. Os usos imediatos foram para produzir
fogos de artifício e, claro, armas de fogo (que serviu para encurtar o tempo de
vida de alguns...).
A receita de pólvora mais antiga é de 1044 que, no entanto,
pecava pela pouca concentração de salitre. Até o século XIV a pólvora ainda não
tinha sido capaz de suplantar os povos bárbaros totalmente.
As táticas utilizadas por Gêngis Khan incluíam a utilização
de prisioneiros de guerra, cavar túneis, desviar cursos de rios, construção de
catapultas aríetes, torres, além das odosas chuvas de pólvora incandescente. Em
dado episódio, segundo um testemunho italiano: “Eles chegavam a tirar a gordura
das pessoas que matavam e, derretendo-a, atiravam-na sobre as casas, e o fogo
que caía sobre a gordura tornava-se praticamente inextinguível.”
Foi assim que derrubaram o califado de Bagdá em apenas 3
dias. Em 1279, Kublai Khan expulsou o último imperador Song e usurpou o trono
chinês para si.
Quando viajantes-comerciantes, como Marco Polo, passaram a
realizar trocas comerciais com o oriente, permitiram a chegada da pólvora à Europa,
após atravessar e revolucionar as guerras na região do Oriente Médio. As
guerras constantes, envolvendo reinos europeus, criaram a demanda que ajudou a
revolucionar essa invenção.
Passo seguinte, canhões e canhões em navios (os galeões
inventados pelos portugueses), renderam a liderança bélica que abriria as
portas do futuro para o mundo à moda européia.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
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