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quinta-feira, 2 de março de 2017

CAVALOS E CARRUAGENS: COMO AS GUERRAS FICARAM MAIS SANGRENTAS


Um dos maiores saltos tecnológicos relacionados aos jogos de guerra se deu na região onde hoje é a Ucrânia. Conhecida por suas amplas estepes, os caçadores que lá habitavam conseguiram domesticar cavalos selvagens por volta de 4.000 a.C.

Inicialmente, aqueles animais serviam apenas como alimentação. Mas, por volta de 3.300 a.C., passaram a usá-los como meio de transporte, atrelando-os a carroças.

Por volta de 2.100 a.C., os pastores da região onde hoje é o Cazaquistão criavam cavalos maiores, de pernas mais compridas, embora ainda fossem menores que as raças atuais, que puxavam carroças mais leves (chamados carros de guerra). Comerciantes e outras pessoas levaram tais progressos até a região do Crescente Fértil por volta de 1.900 a.C.

Inicialmente serviam como meio de transporte, mas logo foram adaptadas com fins militares. Ao acrescentarem o elemento velocidade às guerras, homens a pé passaram a ser alvos de flechas, cuja quantidade lançada se adensava no céu de tal forma que “o sol desapareceu diante das flechas disparadas de ambos os lados”, nas palavras do clássico indiano Mahabharata.

A invenção do arco composto, em algum local ainda não mapeado do Cresscente Fértil, por volta de 1.600 a.C., proveu um salto evolutivo aos arqueiros, então limitados a seus arcos simples com alcance de meros 100 metros. Agora o alcance das flechas superava os 400 metros. As pontas só não perfuravam armaduras de metal.

O citado Mahabharata afirma que as guerras passaram as ser decididas pelos “guerreiros dos carros de guerra que se circundavam mutuamente em seus carros, arremessando flechas com a mesma prodigalidade que as nuvens disparam seu jorros de água”.

Pelos 3.500 anos que se seguiram, a cena de campos de batalha por toda a Eurásia seria a mesma: toneladas de carne de cavalo ensangüentadas, tanto quanto de humanos esvaindo-se em sangue, aos berros”.

Os preços dos carros de guerra eram bastante elevados. A Bíblia cita o rei Salomão, que teria pago 600 shekels de prata por uma, quando o preço de um escravo girava em torno de 30 shekels. O Império Hitita, do século XIV a.C., relata que dia a dia um programa de treinamento de sete meses para os cavalos de guerra.

A agricultura de expandiu rapidamente, do Crescente Fértil até grande parte da Europa, chegando ali por volta de 4.500 a.C. Nos 3 milênios seguintes, viu-se uma explosão populacional e uma evolução importante na “arte” da guerra. Por volta de 1450 a.C., ferreiros localizados no que é hoje o norte da Itália e a Áustria tiraram o continente da era do arco e da adaga.

O bronze até então produzido servi bem à finalidade de produzir adagas e espadas curtas. Mas, então, os trabalhadores de bronze já produziam um metal resistente, capaz de fundir espadas longas, retas, uma peça única que fundia cabo e lâmina, evitando assim o seu desprendimento. Em poucos séculos, tais espadas eram vistas comumente em toda a Europa.

As regiões que se espalhavam pela Europa eram a periferia do Crescente Fértil. Dominado pelo Egito, os faraós desdenharam do poder das lâminas em detrimento dos poderosos carros de guerra. Por volta de 1.200 a.C., espadachins começaram a se espalhar pelo Mediterrâneo.

Quando o enfrentamento entre os exércitos egípcios em carruagens passaram a enfrentar exércitos invasores portando inúmeras espadas modernas, perceberam que era bastante desvantajoso ver cavalos caros sendo mortos por dardos e espadas baratas.  

Por volta de 1.100 a.C., migrantes já dominavam o delta do Nilo.

O impacto sobre o império dos faraós foi imediato. A burocracia se desintegrou, a alfabetização declinou. O sistema tributário se desfez, descontinuando o pagamento dos soldados. Isso deu ainda mais fôlego às invasões. A pobreza aumentou e a população despencou.

Era a era do terror grassando no nascedouro da civilização...


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

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