Um dos maiores saltos tecnológicos relacionados aos jogos de
guerra se deu na região onde hoje é a Ucrânia. Conhecida por suas amplas estepes,
os caçadores que lá habitavam conseguiram domesticar cavalos selvagens por
volta de 4.000 a.C.
Inicialmente, aqueles animais serviam apenas como
alimentação. Mas, por volta de 3.300 a.C., passaram a usá-los como meio de
transporte, atrelando-os a carroças.
Por volta de 2.100 a.C., os pastores da região onde hoje é o
Cazaquistão criavam cavalos maiores, de pernas mais compridas, embora ainda
fossem menores que as raças atuais, que puxavam carroças mais leves (chamados
carros de guerra). Comerciantes e outras pessoas levaram tais progressos até a
região do Crescente Fértil por volta de 1.900 a.C.
Inicialmente serviam como meio de transporte, mas logo foram
adaptadas com fins militares. Ao acrescentarem o elemento velocidade às
guerras, homens a pé passaram a ser alvos de flechas, cuja quantidade lançada
se adensava no céu de tal forma que “o sol desapareceu diante das flechas
disparadas de ambos os lados”, nas palavras do clássico indiano Mahabharata.
A invenção do arco composto, em algum local ainda não
mapeado do Cresscente Fértil, por volta de 1.600 a.C., proveu um salto evolutivo
aos arqueiros, então limitados a seus arcos simples com alcance de meros 100
metros. Agora o alcance das flechas superava os 400 metros. As pontas só não
perfuravam armaduras de metal.
O citado Mahabharata afirma que as guerras passaram as ser
decididas pelos “guerreiros dos carros de guerra que se circundavam mutuamente
em seus carros, arremessando flechas com a mesma prodigalidade que as nuvens
disparam seu jorros de água”.
Pelos 3.500 anos que se seguiram, a cena de campos de
batalha por toda a Eurásia seria a mesma: toneladas de carne de cavalo ensangüentadas,
tanto quanto de humanos esvaindo-se em sangue, aos berros”.
Os preços dos carros de guerra eram bastante elevados. A
Bíblia cita o rei Salomão, que teria pago 600 shekels de prata por uma, quando
o preço de um escravo girava em torno de 30 shekels. O Império Hitita, do
século XIV a.C., relata que dia a dia um programa de treinamento de sete meses
para os cavalos de guerra.
A agricultura de expandiu rapidamente, do Crescente Fértil
até grande parte da Europa, chegando ali por volta de 4.500 a.C. Nos 3 milênios
seguintes, viu-se uma explosão populacional e uma evolução importante na “arte”
da guerra. Por volta de 1450 a.C., ferreiros localizados no que é hoje o norte
da Itália e a Áustria tiraram o continente da era do arco e da adaga.
O bronze até então produzido servi bem à finalidade de
produzir adagas e espadas curtas. Mas, então, os trabalhadores de bronze já
produziam um metal resistente, capaz de fundir espadas longas, retas, uma peça
única que fundia cabo e lâmina, evitando assim o seu desprendimento. Em poucos
séculos, tais espadas eram vistas comumente em toda a Europa.
As regiões que se espalhavam pela Europa eram a periferia do
Crescente Fértil. Dominado pelo Egito, os faraós desdenharam do poder das
lâminas em detrimento dos poderosos carros de guerra. Por volta de 1.200 a.C.,
espadachins começaram a se espalhar pelo Mediterrâneo.
Quando o enfrentamento entre os exércitos egípcios em
carruagens passaram a enfrentar exércitos invasores portando inúmeras espadas
modernas, perceberam que era bastante desvantajoso ver cavalos caros sendo
mortos por dardos e espadas baratas.
Por volta de 1.100 a.C., migrantes já dominavam o delta do
Nilo.
O impacto sobre o império dos faraós foi imediato. A
burocracia se desintegrou, a alfabetização declinou. O sistema tributário se
desfez, descontinuando o pagamento dos soldados. Isso deu ainda mais fôlego às invasões.
A pobreza aumentou e a população despencou.
Era a era do terror grassando no nascedouro da
civilização...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário