Trechos do livro “Como nascem os monstros”:
“(...)
E ainda temos o cabo Juarez.
De longe, era o mais bem treinado combatente da guarnição.
Oriundo do Batalhão de Operações Policiais Especiais, concluiu o Curso de Ações
Táticas (CAT) ainda soldado e, por longos sete anos e meio, seu ninho foi em meio
à elite da tropa. A ideologia à qual é submetido um aluno dos cursos que
facultam o ingresso nesse seleto grupo dita que, lá, eles são policiais
diferentes, pertencentes a uma “polícia” diferente, sem espaço para máculas. Os
cursos são extenuantes e de incontestável excelência, sendo reconhecidos mesmo
entre órgãos de segurança pública de outros países, que vêm ao Rio de Janeiro
em busca de instrução para o aprimoramento de seus próprios métodos.
Tá bom. Mas será que ser uma polícia autointitulada “diferente”
é sinônimo de uma polícia eficiente?
Ônibus 174; morador do Andaraí morto por policiais do BOPE
após ter ferramenta confundida com uma submetralhadora UZI; policial do BOPE
preso por vender munições ao tráfico da Rocinha; policial do BOPE preso por
atacar a tiros o portão da casa da ex-amante; oficial do BOPE comanda episódio
lamentável, conhecido como “muro da vergonha” – e um sem número de outros
exemplos.
Parabéns aos oficiais administradores e operacionais que
buscam, por meio de viagens para workshops no exterior (recebendo diárias bem
gordas, em dólares), novas técnicas de gestão e adestramento para o currículo
dos cursos de Ações Táticas e de Operações Especiais.
Policial é policial. Ponto e acabou. Não encara inimigo,
encara criminoso, duas coisas completamente distintas. O inimigo é pessoal, é
de guerra deflagrada, tem bandeira, uniforme e ideologia própria. O criminoso é
um par, levado ao crime por fatores intrínsecos, sociais ou patológicos e deve
ser retirado do convívio social em prol do bem-estar coletivo, de acordo com as
convenções estabelecidas por cada comunidade. Quem combate o primeiro é o
soldado, e o segundo, o policial. E aí está a grande problemática do modelo
nacional. Soldados policiais. Ou policiais soldados.
De nada adianta apregoar que no BOPE não tem policial
corrupto se lá tiver policial maluco, psicopata, assassino.
Ao lado da cancela que conduz ao interior das dependências
do Batalhão Especial, um banner preto gigantesco, com uma caveira mostrando os
dentes, dá o tom do aviso: “Seja bem vindo, mas não faça movimentos bruscos...”
É piada. E de mau gosto.
Não dá para esperar muito dos coronéis no que tange ao
planejamento e à coerência. Há outras preocupações que lhes tomam muito da
capacidade intelectual – como achar um jeito de remanejar a verba destinada ao
rancho para a compra de uma mesa nova para o gabinete.”
Rubem L. de F. Auto
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