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segunda-feira, 20 de março de 2017

TREINAMENTO PARA MEFISTÓFELES – RECRUTAS DO DIABO – PARTE 24

Trechos do livro “Como nascem os monstros”:

“(...)
E ainda temos o cabo Juarez.

De longe, era o mais bem treinado combatente da guarnição. Oriundo do Batalhão de Operações Policiais Especiais, concluiu o Curso de Ações Táticas (CAT) ainda soldado e, por longos sete anos e meio, seu ninho foi em meio à elite da tropa. A ideologia à qual é submetido um aluno dos cursos que facultam o ingresso nesse seleto grupo dita que, lá, eles são policiais diferentes, pertencentes a uma “polícia” diferente, sem espaço para máculas. Os cursos são extenuantes e de incontestável excelência, sendo reconhecidos mesmo entre órgãos de segurança pública de outros países, que vêm ao Rio de Janeiro em busca de instrução para o aprimoramento de seus próprios métodos.

Tá bom. Mas será que ser uma polícia autointitulada “diferente” é sinônimo de uma polícia eficiente?
Ônibus 174; morador do Andaraí morto por policiais do BOPE após ter ferramenta confundida com uma submetralhadora UZI; policial do BOPE preso por vender munições ao tráfico da Rocinha; policial do BOPE preso por atacar a tiros o portão da casa da ex-amante; oficial do BOPE comanda episódio lamentável, conhecido como “muro da vergonha” – e um sem número de outros exemplos.

Parabéns aos oficiais administradores e operacionais que buscam, por meio de viagens para workshops no exterior (recebendo diárias bem gordas, em dólares), novas técnicas de gestão e adestramento para o currículo dos cursos de Ações Táticas e de Operações Especiais.

Policial é policial. Ponto e acabou. Não encara inimigo, encara criminoso, duas coisas completamente distintas. O inimigo é pessoal, é de guerra deflagrada, tem bandeira, uniforme e ideologia própria. O criminoso é um par, levado ao crime por fatores intrínsecos, sociais ou patológicos e deve ser retirado do convívio social em prol do bem-estar coletivo, de acordo com as convenções estabelecidas por cada comunidade. Quem combate o primeiro é o soldado, e o segundo, o policial. E aí está a grande problemática do modelo nacional. Soldados policiais. Ou policiais soldados.

De nada adianta apregoar que no BOPE não tem policial corrupto se lá tiver policial maluco, psicopata, assassino.

Ao lado da cancela que conduz ao interior das dependências do Batalhão Especial, um banner preto gigantesco, com uma caveira mostrando os dentes, dá o tom do aviso: “Seja bem vindo, mas não faça movimentos bruscos...”

É piada. E de mau gosto.

Não dá para esperar muito dos coronéis no que tange ao planejamento e à coerência. Há outras preocupações que lhes tomam muito da capacidade intelectual – como achar um jeito de remanejar a verba destinada ao rancho para a compra de uma mesa nova para o gabinete.”



Rubem L. de F. Auto   

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