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quinta-feira, 16 de março de 2017

TREINAMENTO PARA MEFISTÓFELES – RECRUTAS DO DIABO – PARTE 16


Trechos do livro “Como nascem os monstros”:

“As motocicletas Falcon chegaram novinhas ao batalhão, junto com os capacetes brancos, e de cara já mostraram ser máquinas de dinheiro!
Quem nunca avançou um sinal de trânsito? Quem nunca estacionou em lugar proibido? Na Tijuca todo mundo fazia lambança. Como não estavam acostumados ao policiamento de trânsito, os motoristas se sentiam livres para qualquer aventura, e se assustavam quando escutavam as sirenes das motos apontando na direção do acostamento. Todo mundo ficou apavorado! Os donos de concessionárias de carros, que estacionavam a mercadoria na calçada; os colégios particulares, cujos pais de alunos paravam em filas duplas; os mercados, que recebiam caminhões de descarga fora do horário; e os mais espertinhos, que faziam trocentas barbeiragens mas não tinham nem como correr das motos no trânsito caótico de fim de tarde. (...) Algum Idiota (com maiúscula mesmo!) da Nextel, com algum univitelino seu do Detran, teve a magnífica idéia de disponibilizar os elementos de qualquer veículo apenas com os dados da placa do automóvel. (...)
Pilotavam com uma das mãos no guidão e a outra teclando no rádio, verificando as placas dos carros que transitavam à frente deles à procura de irregularidades. Assim, só abordavam na certeza, eliminando a perda de tempo e aproveitavam ao máximo o dia de trabalho.
Documentos atrasados eram os erros mais comuns, e Às vezes vinha o bingo: Busca e Apreensão e Restrição Policial.

(...)

Como os lobos, os policiais militares se organizam em matilhas. Isso gera a criação de “clubes”, esferas de convívio muito restritas nas quais os integrantes adquirem uma identidade própria relacionada a sua missão: os cabineiros, os patrulheiros, os patameiros, os motociclistas etc.
Ocorreu-me, algumas vezes, que essa é a forma que os comandantes encontraram para a tropa jamais se dar conta do quanto está sendo negligenciada: a segregação. Quando o corpo é dividido e para dês e perceber como unidade, é mais fácil promover o estado de confusão e alienação que impede que a massa se dê conta do quanto está sendo manipulada em prol dos interesses de uma determinada casta. Funciona da seguinte forma: enquanto um PM está trabalhando na APTran dia sim, dia não, levando para casa 600 reais por semana, ele não se importará com o colega que está baseado 12 horas debaixo de sol. Enquanto o GAT estiver pegando 1.000 reais todo baile de sábado no Borel, que se dane quem estiver lá na cabine do Andaraí. Quem está na boa não se rebela, e quem está fodido perde a força para revolução porque não encontra unidade em sua classe.
Com qualquer trocadinho a mais no bolso ele se esquece de que, para que sua condição de patameiro (policiais que se deslocam em viaturas, nos patrulhamentos) desabe por completo, basta o comando mudar, ou que aconteça algo que desagrade uma estrela. Para que ele saia da bancária, basta que um gerente não vá com a sua cara. Para que seja demitido da RP, basta acidentar uma viatura.


Rubem L. de F. Auto


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