Trechos do livro “Como nascem os monstros”:
Em períodos de eleitorais, as “vossas excelências” não
querem que “seus cabos eleitorais sejam impedidos de entrar na Rocinha, na
Mangueira, em Manguinhos, no Jacaré, na Coreia, em Camará, na Quitanda...
Com o morro dos Macacos não era diferente.
Esse estrito relacionamento com as autoridades políticas
incitava ainda mais o ar de legitimidade que os conscritos da infantaria
bandida respiravam, o que os tornava combatentes dos mais aguerridos na hora do
pau roncar. Defendiam o seu território com paixão, bancando o tiroteio até o
limite e só recuando quando não houvesse outra maneira. Não respeitavam
ninguém, nem a Civil, nem o BOPE (que uma vez ficou encurralado no Pau da
Bandeira e teve de pedir ajuda dos galácticos para se evadir), tendo moderado
receio apenas de determinadas guarnições do GAT do 6º BPM, que conheciam formas
de surpreendê-los mesmo estando dentro de seus domínios. Nem o coronel Málvaro,
que determinou a ocupação do complexo durante o seu comando, conseguiu amansar
a bandidagem. As bocas continuaram funcionando mesmo com a presença da polícia
no interior da favela.
(...)
Quem morasse da Vinte e Oito de Setembro até o final da
Visconde de Santa Isabel, ou estivesse pela Teodoro da Silva, passando pelo
shopping Iguatemi, ou pela Felipe Camarão, tinha o morro dos Macacos sempre à
mão para conseguiu o que quisesse.
Os ladrões obedeciam ao comando do morro, e suas ações
tinham sempre de ser comunicadas previamente. Isso durante o tempo em que eles
estavam autorizados a roubar, porque, depois do acerto feito entre Scooby e o
major que coordenava as ações de repressão na área do batalhão, os roubos foram
proibidos.
Quando saiu da cadeia e voltou para o morro, Scooby deu uma
festa com direito a queima de fogos e show de pagode particular. Ouviu muitas
reclamações dos moradores acerca dos constantes ataques que a polícia realizava
no interior da comunidade, e então resolveu tomar providências. Ficou sabendo à
frente que um ladrão novo, conhecido como Galinha, é que estava à frente dos
157 da favela, e que ele tinha aspirações muito maiores do que sua real
capacidade. Esse assaltante estava chamando muita atenção para o morro, o que
era ruim para o negócio principal. Então, com uma perspicaz capacidade de
projeção, Scooby antecipou o movimento e matou Galinha, mandando um recado para
seus demais companheiros: parem de roubar.
Com a casa em ordem, um líder comunitário foi autorizado a
ir ao café de manhã com o comandante e apresentar uma proposta para a
pacificação do morro. O arrego seria pago todas as semanas, entregue
diretamente ao GAT endinheiro (15 mil reais), e não haveria mais assaltos na
pista por parte dos “macaquenses”; em troca, o comando não realizaria mais
incursões inopinadas e deixaria o tráfico comer solto. Vila Isabel ficou em
paz!”
Rubem L. de F. Auto
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