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quinta-feira, 23 de março de 2017

A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL E O APOCALIPSE NUCLEAR


O general John Hachett (ex-comandante das forças britânicas a Alemanha Ocidental) imaginou uma guerra em seu romance muito bem recebido de 1978, A Terceira Guerra Mundial.

Depois de 17 dias de batalhas convencionais, a ofensiva soviética foi detida e, com os soldados norte-americanos chegando para fortalecer a linha e até fazê-la recuar, os soviéticos reagiram com armas mais potentes. Eles lançaram um único míssil SS-17 com uma ogiva nuclear, destruindo Birmingham, Inglaterra. Trezentos mil morreram. A OTAN reagiu proporcionalmente, com um ataque nuclear a Minsk. O instável regime soviético entrou em colapso.

Mas, na realidade, como o general sabia muito bem, é provável que tivesse sido bem pior. A OTAN previu que seria a primeira a usar a força nuclear, por meio de dispositivos “táticos” (em geral, equivalentes a meia Hiroshima), para deter a ruptura das linhas e também para sinalizar que o ataque deveria ser encerrado. Se Moscou ignorasse a mensagem, seriam usadas bombas e ogivas nucleares maiores (equivalentes a meia dúzia de Hiroshimas), e, se ainda não houvesse respostas quando os tanques soviéticos tivessem já avançado 90 quilômetros pela Alemanha Ocidental, a coisa iria ficar mais séria.

Infelizmente, os soviéticos não demonstraram a menor intenção de encarar as bombas H como sinais sutis. Seu plano previa usar tanques para chegar ao Reno em duas semanas e ao canal da Mancha e Pirineus em outras quatro. Para conseguir isso, o primeiro escalão usaria de 28 a 75 armas nucleares para abrir brechas na linha da OTAN, e o segundo dispararia outras 34 a 100 durante sua penetração com blindados. Esperando que a OTAN fosse reagir na mesma moeda, os soldados soviéticos estariam equipados para lutar em campos de batalha encharcados para de substâncias químicas e radiação, concentrando-se com rapidez para atacar e depois dispersar-se. A Alemanha Ocidental sofreria com várias centenas de Hiroshimas, que matariam a maioria de sues habitantes. A essa altura, os ICBMs (mísseis intercontinentais) já cruzariam o pólo Norte.

Na visão de Moscou, uns poucos dias de guerra total devastariam os dois países, mas depois que as ogivas se esgotassem, a luta convencional continuaria até que um dos lados já não conseguisse lutar.
Consequentemente em meio a acalorados debates, ambas as superpotências começaram a se encaminhar para um entendimento (batizado de “détente”), que iria permitir-lhes sair do apuro de alguma maneira.       

As conversações sobre limitação de armas nucleares começaram em 1969, e na década de 1970 os soviéticos fizeram concessões na questão de direitos humanos. Os norte-americanos venderam-lhes grãos e emprestavam-lhes dólares. E os astronautas e cosmonautas dos dois países deram-se as mãos em órbita.
Em 1972, o presidente Richard Nixon desferiu um gigantesco golpe quando o antigo cliente de Moscou, Mao, declarou que não odiava os EUA tanto quanto odiava a União Soviética.

Os produtores árabes de petróleo quadruplicaram seus preços, empurrando a aliança norte-americana para uma crise econômica e ao mesmo tempo inundando de dinheiro a União Soviética exportadora de petróleo.
A desaceleração econômica, as preocupações sobre como lidar com a paridade nuclear com os soviéticos e as recriminações relativas à Guerra do Vietnã formaram um caldo tóxico.

Os conservadores começaram a argumentar que apenas com cortes nas despesas com o bem-estar social e com as burocracias que o administravam é que se poderia retomar o crescimento econômico, sem o qual a contenção não iria funcionar, e o escândalo de Watergate.

Ao final da década de 1970, os EUA batiam em retirada por toda parte. Os comunistas ganhavam guerras civis (e até uma eleição) na África e na America Latina, além de conquistar corações e mentes na Europa.
Em 1979, radicais não comunistas no Irã também entraram em cena, pondo para fora o Grande Satã de mais um lugar do globo.

A détente fracassou. Os EUA rearmaram-se furiosamente, instalando novíssimos mísseis de cruzeiro na Europa e fazendo alarde de tecnologias que iriam fatiar as defesas soviéticas como uma faca corta uma manteiga. A paranóia virou pânico em Moscou em 1982, quando os israelenses usaram sistemas de armas computadorizadas feitos nos EUA para destruir 17 dos 19 silos de mísseis terra-ar de fabricação soviética da Síria e abater 92 de seus aviões soviéticos, com perda três (ou seis, dependendo de quem contava). Embora qualquer cientista sensato pudesse ter dito aos soviéticos que ainda demoraria décadas até que vissem funcionar de fato tanto o “Guerra nas Estrelas” (um sistema norte-americano para abater ICBMs por meio de laser) quanto o Assault Breaker (um foguete de longa distância que espalhava massas de pequenas bombas de fragmentação guiadas por computador para destruir divisões blindadas inteiras antes que chegassem ao front), na atmosfera febril de Moscou no início da década de 1980, presumir o pior era um modo de vida.   

Mas o medo norte-americano do medo soviético chegou ao ponto de Reagan sentir necessidade de despachar o general (depois consultor de Segurança Nacional) Brent Scowcroft até Moscou para convencer Andropov a recuar um passo diante do abismo.
Milhões marcharam em protesto contra a bomba. Bruce Springsteen lançou seu remake de War. Qualquer um que não estivesse preocupado com o fim do mundo era porque não estava prestando atenção.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.

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