Trechos do livro “Como nascem os monstros”:
“Com o ranço do militarismo, os policiais militares do Rio
foram sendo ignorados por grande parte das autoridades e de estudiosos
fluminenses. Não houve, na época, quem vislumbrasse que a debilidade do sistema
policial iria se acentuar com a crescente onde democrática que se instalara, e
que agora não precisava somente do cassetete, mas da carne também.
Enquanto a população ia crescendo, estudando, tomando
consciência de seu papel, os policias militares continuavam nos quartéis, sob o
comando dos coronéis, que agora não lutavam mais contra subversivos, e sim
contra bandidos comuns. O policial soldado não entendia isso muito bem. Fica
claro que até hoje, para muitos deles, a sociedade em si é o inimigo a ser
combatido. Afinal, está sempre com o dedo em riste para lhe apontar os erros, e
deve ser reprimida a todo e qualquer deslize! Esse é o sentimento do PM para
com os moradores da favela quando está subindo um morro, pois, na sua
concepção, se levar um tiro, terão eles também ajudado a apertar o gatilho da
arma do bandido, que vive alcovitado graças à conivência dos vizinhos.
Enquanto havia muita gente dando festa, enriquecendo,
fumando maconha nas altas-rodas do poder carioca, o futuro tenebroso de uma
considerável parcela da população ia ganhando seus contornos mais sombrios. Os
policiais militares, completamente alucinados pelo poder, sem qualquer
supervisão, protagonizaram massacres infelizmente inesquecíveis, principalmente
para quem mora no estado.”
(...)
“As políticas de segurança, ao contrário do que vendem, não
estão preocupadas com uma polícia eficiente, que trabalhe para o bem comum;
estão apenas mais refinadas em seu modo de mascarar a real intenção de seus
gabinetes: cercar os dominantes de proteção e relegar aos menos abastados
aquilo que der”.
Rubem L. de F. Auto
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