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segunda-feira, 6 de março de 2017

A BARBARIDADE CRIOU A IMUNIDADE - A VERDADEIRA ARMA DOS SOLDADOS


Poucas coisas pareciam mais odiosas aos olhos dos aristocratas romanos do que os bárbaros. E dentre as coisas mais odiosas que os bárbaros faziam, nada superava a prática dos escalpos pelos citas, outros povos nômades. Nas palavras de Heródoto: “Quando um cita mata seu primeiro homem, ele bebe um  pouco de seu sangue e leva sua cabeça para o rei. Depois, cortam a cabeça em círculo ao redor das orelhas e, segurando-a, arranca a pele fora. Em seguida, raspa essa pele com uma costela de boi e a amassa com as mãos até que fique maleável; então passa a usá-la como guardanapo.”

O romano Amiano Marcelino descreveu suas impressões sobre os hunos: “Eles têm um corpo atarracado, membros fortes e pescoço grosso. E são tão horrendos e deformados que parecem animais sobre duas pernas.”

Contudo, apesar do largo uso da violência, a mais desumana concebível, o maior assassino em guerras, desde sempre, foram as doenças. A rotina de juntar milhares de homens, pô-los em espaços minúsculos, submetê-los a uma alimentação sofrível e em locais fétidos criou o melhor ambiente possível para a proliferação de doenças. Daí surgiu um arsenal mortífero que há muitos séculos nos acompanham: disenteria, diarréia, tifo, tuberulose...

Em 161 d.C., ouviu-se sobre uma nova e mortal doença na fronteira noroeste da China, onde ocorria mais uma guerra contra povos nômades. Essa nova doença havia rapidamente matado um terço dos soldados. Apenas quatro semanas após, relatos idênticos vieram da Síria. Em 167 d.C., finalmente, a misteriosa praga chegava a Roma. O número de vítimas nessa última foi de tal monta que Marco Aurélio adiou sua partida em direção ao Danúbio, para tentar achar uma solução. Não apenas não a achou como ainda levaram a nova praga consigo.

Analisando os sintomas relatados, supõe-se que se trate de varíola.

Após apenas um ano do nascimento, entre um quarto e um terço de todos os bebês morriam em até um ano do nascimento. Poucos adultos sobreviviam após os 50 anos. Doenças como a varíola se desenvolveram isoladamente, contudo as guerras mudaram o cenário.

Algumas pessoas traziam anticorpos para aqueles vírus e bactérias, mas seriam necessários muitos anos até que seus germes se espalhassem para os demais. Estimativas para o Egito apontam para uma redução de 25% da população, entre 165 e 200 d.C.

As milhares de mortes causadas por essas doenças deixaram os exércitos em frangalhos, diversas cidades bem protegidas caíram diante dos inimigos e a crise social conseqüente estraçalhou sociedades, da China a Roma.     


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

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