Nós, humanos, compartilhamos mais de 98% do nosso DNA com os
chimpanzés. Quando duas espécies intimamente relacionadas se comportam do mesmo
modo, sempre há uma boa probabilidade de que tenham herdado esse traço de uma
espécie ancestral comum. Como só precisamos recuar 7,5 milhões de anos (o que
não é muito tempo para um biólogo evolucionário) para encontrar o último
ancestral comum de chimpanzés e humanos, a conclusão óbvia parecia ser que os
humanos são projetados para a violência.
Que tal se disse que, nesse momento, gangues de chimpanzés
machos estão patrulhando as fronteiras de seus territórios por toda parte,
desde a Costa do Marfim até Uganda, sistematicamente procurando localizar
chimpanzés estrangeiros para atacar. Eles se movem de modo silencioso e
cuidadoso, e nem sequer reservam tempo para comer. O estudo mais recente, em
Uganda, usou recursos de GPS e rastreou dezenas de ataques e 21 assassinatos
perpetrados pela comunidade Ngogo de chimpanzés entre 1998 e 2008, que terminam
com a anexação de um território vizinho.
Mesmo um chimpanzé idoso pode bater mais forte que um
boxeador peso-pesado, e suas presas afiadas podem ter até 10 centímetros. Quando
encontram inimigos, eles lutam para matar, mordendo dedos e artelhos, quebrando
ossos e rasgando rostos. Em uma ocasião, primatólogos viram com horror
agressores rasgarem a garganta da vítima e arrancarem a traqueia.
Em 21 de dezembro de 1986, o primatólogo Gen`ichi Idani
estava sentado à beira de uma clareira. Esperava um bando de símios passar por
ali, mas, para seu espanto, em vez de um, dois bandos apareceram ao mesmo
tempo. Se Idani estivesse em Gombe, as coisas poderiam ter ficado bem feias nos
minutos seguintes. Haveria urros ameaçadores entre os dois bandos, seguidos por
ameaças de ataques e galhos sendo brandidos. Sob as circunstâncias erradas,
poderiam ter ocorrido brigas e mortes.
Em Wamba, porém, nada disso se deu. Os dois bandos
sentaram-se a alguns metros de distância um do outro e ficaram se entreolhando.
Depois de meia hora, uma fêmea do bando que os primatólogos nomearam como grupo
P levantou-se e andou pelo campo aberto em direção a uma fêmea do grupo E. Após
instantes, as duas fêmeas se deitarem, uma de frente para a outra. Afastaram-se
as pernas, pressionaram seus genitais. Começaram a mexer os quadris de lado,
cada vez mais rápido, esfregando os clitóris e gemendo. Em questão de minutos
os dois símios estavam ofegantes e gritando, acariciando-se com força, e
entrando em espasmos. Por um momento de tensão as duas fêmeas ficaram em
silêncio, olhando nos olhos um da outra, e então desabaram, exaustas.
A essa altura, a distância entre os dois bandos já não
existia. Quase todos os símios partilhavam comida, cuidavam dos pelos uns dos
outros ou faziam sexo – macho com fêmea, fêmea com fêmea, macho com macho,
jovens com velhos, usando mãos, bocas e genitais, misturando-se
indiscriminadamente. Estavam fazendo amor, não guerra.
Idani e seus colaboradores observaram os grupos P e E
repetirem essa cena umas 30 vezes.
Tecnicamente os símios de Wamba eram chimpanzés-pigmeus (Pan
paniscus), enquanto os símios de Gombe eram chimpanzés-comuns (Pan
troglodytes).
O DNA dos chimpanzés-pigmeus (para evitar confusão, os
cientistas costumam chamá-los de bonobos; os jornalistas com freqüência os
chamam de chimpanzés hippies) e o DNA dos chimpanzés-comuns (sem qualificativo)
são quase idênticos e as espécies divergiram de seu ancestral comum há apenas
1,3 milhão de anos. Os dois tipos de símios são geneticamente eqüidistantes dos
humanos.
Em vez de puxarem suas espadas e saírem golpeando no monte
Gaupius, os generais Agrícola e Cálgado poderiam ter arrancado as togas e
começarem a roçar seus genitais.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário