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sexta-feira, 24 de março de 2017

CHIMPANZÉS GUERREIROS E CHIMPANZÉS HIPPIES – CADA MACACO NO SEU GALHO


Nós, humanos, compartilhamos mais de 98% do nosso DNA com os chimpanzés. Quando duas espécies intimamente relacionadas se comportam do mesmo modo, sempre há uma boa probabilidade de que tenham herdado esse traço de uma espécie ancestral comum. Como só precisamos recuar 7,5 milhões de anos (o que não é muito tempo para um biólogo evolucionário) para encontrar o último ancestral comum de chimpanzés e humanos, a conclusão óbvia parecia ser que os humanos são projetados para a violência.

Que tal se disse que, nesse momento, gangues de chimpanzés machos estão patrulhando as fronteiras de seus territórios por toda parte, desde a Costa do Marfim até Uganda, sistematicamente procurando localizar chimpanzés estrangeiros para atacar. Eles se movem de modo silencioso e cuidadoso, e nem sequer reservam tempo para comer. O estudo mais recente, em Uganda, usou recursos de GPS e rastreou dezenas de ataques e 21 assassinatos perpetrados pela comunidade Ngogo de chimpanzés entre 1998 e 2008, que terminam com a anexação de um território vizinho.

Mesmo um chimpanzé idoso pode bater mais forte que um boxeador peso-pesado, e suas presas afiadas podem ter até 10 centímetros. Quando encontram inimigos, eles lutam para matar, mordendo dedos e artelhos, quebrando ossos e rasgando rostos. Em uma ocasião, primatólogos viram com horror agressores rasgarem a garganta da vítima e arrancarem a traqueia.

Em 21 de dezembro de 1986, o primatólogo Gen`ichi Idani estava sentado à beira de uma clareira. Esperava um bando de símios passar por ali, mas, para seu espanto, em vez de um, dois bandos apareceram ao mesmo tempo. Se Idani estivesse em Gombe, as coisas poderiam ter ficado bem feias nos minutos seguintes. Haveria urros ameaçadores entre os dois bandos, seguidos por ameaças de ataques e galhos sendo brandidos. Sob as circunstâncias erradas, poderiam ter ocorrido brigas e mortes.

Em Wamba, porém, nada disso se deu. Os dois bandos sentaram-se a alguns metros de distância um do outro e ficaram se entreolhando. Depois de meia hora, uma fêmea do bando que os primatólogos nomearam como grupo P levantou-se e andou pelo campo aberto em direção a uma fêmea do grupo E. Após instantes, as duas fêmeas se deitarem, uma de frente para a outra. Afastaram-se as pernas, pressionaram seus genitais. Começaram a mexer os quadris de lado, cada vez mais rápido, esfregando os clitóris e gemendo. Em questão de minutos os dois símios estavam ofegantes e gritando, acariciando-se com força, e entrando em espasmos. Por um momento de tensão as duas fêmeas ficaram em silêncio, olhando nos olhos um da outra, e então desabaram, exaustas.

A essa altura, a distância entre os dois bandos já não existia. Quase todos os símios partilhavam comida, cuidavam dos pelos uns dos outros ou faziam sexo – macho com fêmea, fêmea com fêmea, macho com macho, jovens com velhos, usando mãos, bocas e genitais, misturando-se indiscriminadamente. Estavam fazendo amor, não guerra.

Idani e seus colaboradores observaram os grupos P e E repetirem essa cena umas 30 vezes.
Tecnicamente os símios de Wamba eram chimpanzés-pigmeus (Pan paniscus), enquanto os símios de Gombe eram chimpanzés-comuns (Pan troglodytes).

O DNA dos chimpanzés-pigmeus (para evitar confusão, os cientistas costumam chamá-los de bonobos; os jornalistas com freqüência os chamam de chimpanzés hippies) e o DNA dos chimpanzés-comuns (sem qualificativo) são quase idênticos e as espécies divergiram de seu ancestral comum há apenas 1,3 milhão de anos. Os dois tipos de símios são geneticamente eqüidistantes dos humanos.
Em vez de puxarem suas espadas e saírem golpeando no monte Gaupius, os generais Agrícola e Cálgado poderiam ter arrancado as togas e começarem a roçar seus genitais.   


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.

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