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sexta-feira, 3 de março de 2017

MONTE SEU PRÓPRIO EXÉRCITO E SAQUEIE UMA CIDADE – POR TIGLAT-PILÉSER III


As densas colunas, quase impenetráveis, de soldados foram produto da imaginação de um rei, que tomou a coroa após usurpar o trono assírio, em 744 a.C.: Tiglat-Piléser III.

Pelo fato de chegar ao poder sem alcançar a necessária prévia legitimidade, Tiglat viu-se tendo de sobrepor o poder da nobreza, que o separava do povo. Tiglat deveria tornar o poder mais centralizado, de maneira a não mais ter de contar com a boa vontade dos nobres para arregimentar soldados – além de ter de convencer os nobres de que tal batalha se fazia necessária.

No caso de soldados arregimentados por intermédio de aristocratas, o pagamento dos soldados seguia a fórmula clássica de saques: cada soldado levava para casa tudo o que fosse capaz de saquear das cidades atacadas. Era uma maneira barata de formar exércitos, mas tirava muito da ascendência dos reis sobre o povo. Tiglat sabia que deveria encurtar a hierarquia e tratar diretamente com os camponeses.

Não existem registros que descrevam com exatidão qual medida foi tomada por Tiglat, mas se sabe que o rei concedeu aos camponeses a propriedade direta das terras em que trabalhavam e viviam. Dessa forma, os nobres perderam o grande trunfo que tinham: a propriedade das terras, cuja permissão concedida aos camponeses para que lá habitassem rendia gratidão, que os levaria aos campos de batalha e a abrir mão de parte da sua produção, para pagar o dono daquelas terras.

Quebrado o clientelismo, Tiglat passou a cobrar impostos dos camponeses, que também serviam em seu exército.

A renda tributária arrecadada permitia o pagamento de supervisores e administradores. Como seus soldados eram agora remunerados, a disciplina militar se tornou mais rígida. Outra mudança importante foi o fim dos saques das cidades atacadas como método de pagamento dos homens arregimentados, haja vista o soldo inaugurado pelo rei.

Por volta de 500 a.C., reis passaram a copiar a estratégia de Tiglat.

Com essa “wehrmacht”, os assírios fizeram jus a sua fama de empaladores (comumente vistos nos campos de batalha nos séculos VIII e VII a.C., deixados como uma lembrança dos assírios). Mas também deram origem a uma série de cidades belíssimas, que floresciam sob os gastos sem limites dos governos assírios em jardins e bibliotecas belissimamente ornamentados.

É notável a semelhança da estratégia de Tiglat-Piléser com os governos absolutistas europeus do final da Alta Idade Média, especialmente na península itálica.

O fim do Império Assírio se deu por volta de 612 a.C., após mais de 60 anos de guerras que entronaram os aquemênidas, que inaugurariam o Império Persa, até hoje o mais extenso da história.

No entanto, os persas não resistiram a apenas quatro anos de agressões provocadas por Alexandre, o Grande. Em 330 a.C., chegava ao fim o império aquemênida persa.

As maiores batalhas registradas após esse episódio, ocorreram entre dois reinos que nasciam àquele tempo: Roma e Cartago – esta última fundada por fenícios que deixaram suas terras originais. Tais batalhas ocorreram no século III a.C., tendo a rendição de Cartago ocorrida em 202 a.C.

Roma e sua máquina de guerra encampariam séculos após toda a bacia do Mediterrâneo, adicionando o próprio Crescente Fértil aos seus domínios.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

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