As densas colunas, quase impenetráveis, de soldados foram
produto da imaginação de um rei, que tomou a coroa após usurpar o trono assírio,
em 744 a.C.: Tiglat-Piléser III.
Pelo fato de chegar ao poder sem alcançar a necessária
prévia legitimidade, Tiglat viu-se tendo de sobrepor o poder da nobreza, que o
separava do povo. Tiglat deveria tornar o poder mais centralizado, de maneira a
não mais ter de contar com a boa vontade dos nobres para arregimentar soldados –
além de ter de convencer os nobres de que tal batalha se fazia necessária.
No caso de soldados arregimentados por intermédio de
aristocratas, o pagamento dos soldados seguia a fórmula clássica de saques:
cada soldado levava para casa tudo o que fosse capaz de saquear das cidades
atacadas. Era uma maneira barata de formar exércitos, mas tirava muito da
ascendência dos reis sobre o povo. Tiglat sabia que deveria encurtar a
hierarquia e tratar diretamente com os camponeses.
Não existem registros que descrevam com exatidão qual medida
foi tomada por Tiglat, mas se sabe que o rei concedeu aos camponeses a
propriedade direta das terras em que trabalhavam e viviam. Dessa forma, os
nobres perderam o grande trunfo que tinham: a propriedade das terras, cuja
permissão concedida aos camponeses para que lá habitassem rendia gratidão, que
os levaria aos campos de batalha e a abrir mão de parte da sua produção, para
pagar o dono daquelas terras.
Quebrado o clientelismo, Tiglat passou a cobrar impostos dos
camponeses, que também serviam em seu exército.
A renda tributária arrecadada permitia o pagamento de
supervisores e administradores. Como seus soldados eram agora remunerados, a
disciplina militar se tornou mais rígida. Outra mudança importante foi o fim
dos saques das cidades atacadas como método de pagamento dos homens arregimentados,
haja vista o soldo inaugurado pelo rei.
Por volta de 500 a.C., reis passaram a copiar a estratégia
de Tiglat.
Com essa “wehrmacht”, os assírios fizeram jus a sua fama de
empaladores (comumente vistos nos campos de batalha nos séculos VIII e VII a.C.,
deixados como uma lembrança dos assírios). Mas também deram origem a uma série
de cidades belíssimas, que floresciam sob os gastos sem limites dos governos
assírios em jardins e bibliotecas belissimamente ornamentados.
É notável a semelhança da estratégia de Tiglat-Piléser com
os governos absolutistas europeus do final da Alta Idade Média, especialmente
na península itálica.
O fim do Império Assírio se deu por volta de 612 a.C., após
mais de 60 anos de guerras que entronaram os aquemênidas, que inaugurariam o
Império Persa, até hoje o mais extenso da história.
No entanto, os persas não resistiram a apenas quatro anos de
agressões provocadas por Alexandre, o Grande. Em 330 a.C., chegava ao fim o
império aquemênida persa.
As maiores batalhas registradas após esse episódio, ocorreram
entre dois reinos que nasciam àquele tempo: Roma e Cartago – esta última
fundada por fenícios que deixaram suas terras originais. Tais batalhas
ocorreram no século III a.C., tendo a rendição de Cartago ocorrida em 202 a.C.
Roma e sua máquina de guerra encampariam séculos após toda a
bacia do Mediterrâneo, adicionando o próprio Crescente Fértil aos seus domínios.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
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