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quarta-feira, 29 de março de 2017

FRANCIS BURTON: O AVENTUREIRO E SUAS ANDANÇAS


Sob o calor escaldante do verão árabe, Al-Haj Abdullah viajava pela poeirenta estrada que leva a Meca planejando cumprir seu peregrinação islâmica. Seguia confortavelmente, no lombo de um camelo, ao contrário de seus dois ajudantes, que seguiam a pé. Era julho de 1853.

Contudo, o senhor Al-Haj Abdullah não era exatamente quem se dizia ser. A camada mais profunda de sua boneca Matryoshka de personalidades se chamava Richard Francis Burton, um militar britânico, especialista em línguas e em armas, e um dos maiores viajantes globais do século dezenove.

Burton foi um cônsul britânico, Orientalista, explorador e linguista, melhor reconhecido por traduzir os clássicos “Arabian Nights” e “Kama Sutra” para o inglês. Ele descobriu a nascente do rio Nilo ao lado do seu parceiro John Hanning Speke.

Ao todo, Burton publicou aproximadamente 50 livros, que falavam de lingüística, etnologia, poesia, geografia, esgrima e narrativas de viagens, a história das espadas e gramática de tribos amazônicas. Falava 29 línguas, incluindo grego, árabe, persa, islandês, turco, swahili, hindu, além de várias outras européias, asiáticas e africanas.

Grande parte dessas obras foram escritas enquanto ocupava postos desinteressantes na África e na América do Sul.

Burton alistou-se na Companhia das Índias Orientais em 1842, quando a primeira guerra no Afeganistão ainda estava em curso. Após se juntar à expedição Sindh em 1843, adquiriu permissão para se livremente por terras muçulmanas na Índia, onde aprendeu muitas línguas locais.

Voltou à Europa desapontado por ter adoecido, razão para seu retorno forçado. Consigo, levou manuscritos e objetos orientais. Isso tudo formou as bases de cinco livros sobre a Índia, publicados nos três anos seguintes.

Desejando realizar a peregrinação a Meca, Burton se juntou a um grupo de muçulmanos do Egito e tomou todas as precauções para assimilar as características que lhe permitiriam passar despercebido. Fez até mesmo uma circuncisão, visando reduzir os riscos que corria.

Sua aventura foi um sucesso. Recebeu a honraria de poder ser chamado de “hajji” e permis~~ao de vestir o turbante verde, reservado aos que completam a jornada. Após, Burton publicou seus contos pessoais “A Personal Narrative os a Pilgrimage to Al-Medinah and Meccah” em 1855.

Em 1854, Burton retornou ao Cairo, vindo de Meca, e velejou à Índia planejando ser readmitido e seu regimento. Após, pediu permissão para explorar o interior da Somália. Esta expedição foi apoiada pela Sociedade Real Geográfica, pois visava à descoberta de grandes lagos no interior da África, os quais nômades árabes diziam já terem visto.

Entretanto essa expedição foi considerada um fracasso. Em razão de um conflito com tribos com as quais cruzou, foi instaurada uma investigação procurando avaliar a culpa pela ocorrência. Foi considerado inocente, mas descreveu a provação a que foi submetido em seu livro “First Footsteps in East Africa”, de 1856.

As partes superiores do Nilo era um segredo para os velhos gregos e romanos desde a descrição que Heródoto fez daquele rio, em sua obra “Histórias”. Todas as expedições para a descoberta de sua nascente terminaram em fracasso. Nenhuma expedição européia conseguiu alcançar o local, e a informação mais recente sobre sua localização ainda era aquela descrita na obra de Ptolomeu, velha de 2 mil anos.

Em 1857, Burton se juntou novamente a Speke em uma expedição à África Central , procurando vitória onde existia apenas uma coleção de derrotas. Em fevereiro de 1858, chegaram ao Lago Tanganyika, o maior dos lagos da África Central. No entanto, estudando suas características hidrológicas e localização, descartou-se que fosse a nascente do rio Nilo.

Depois disso, Burton mudou de carreira. Dois meses após seu casamento com Isabel Arundell, aristocrata de apenas 19 anos de idade, Burton entrou no serviço diplomático como cônsul em Fernando Po, uma ilha 20 milhas afastada fora da costa africana, atualmente Guiné Equatorial. Burton viajou para fora de sua jurisdição, em direção à África interior, nas horas de folga.

Nessa ocasião, tornou-se o primeiro europeu a escalar as Montanhas Camarões e subir o rio Congo, até lugares bastante distantes como as Quedas Yellala. Chegou até a visitar a colônia francesa do Gabão e lá capturar um gorila.

Em 1865, foi transferido para Santos, no Brasil, com Isabel. Visitou minas de ouro e diamante do interior do Brasil e retornou ao litoral realizando uma insólita viagem pelo rio São Francisco. Além disso, cruzou os Andes até o Peru, Chile e Estreito de Magalhães.

Outra expedição o levou até os campos ensanguentados da Guerra do Paraguai. Escreveu dois livros durante esta estadia diplomática: Explorations os the Highlands os the Brazil (1869) e Letters from the Battlefields os Paraguay (1870).

O Foreign Service britânico o nomeou cônsul em Damasco quatro anos depois. Burton liderou escavações arqueológicas com afamados cientistas  Charles Tyrwhitt-Drake e Edward Hnery Palmer. Desencavaram as mais antigas antiguidades Hititas (civilização bastante antiga).

A partir de 1880, Burton concluiu que não tinha mais idade e saúde para continuar embarcando em aventuras que beiravam a insanidade. Resolveu expor tudo em livros. Ao longo dos anos, Burton acumulou pilhas de manuscritos em diversas línguas.

Também publicou um ambicioso projeto em 10 volumes, traduzindo poemas de Luís Vaz de Camões, um poeta português do século 16. OS poemas épicos são uma abordagem romântica às descobertas portuguesas nas Índias. Ele preservou a métrica, retórica, estilo e linguagem arcaica com grande precisão. O segundo grande trabalho de Burton foi The Book os the Sword.

Escreveu, na sequência, as traduções de Kama Sutra, The Arabian Nights e The Perfumed Garden os the Shaykh Nefzawi. Sua tradução em 10 volumes de Arabian Nights sumia das livrarias britânicas. Rendeu ao autor lucros de 10 mil libras – algo em torno de 1,8 milhão de dólares hoje.  

Morreu em 1891, aos 70 anos.

As lições de Burton para quem deseja alcançar um alto grau de produtividade são as de uma pessoa que procurava tirar proveito de toda e qualquer oportunidade para aprender, conhecer e testemunhar aquilo que era de seu interesse, isto é, tudo!


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “As maiores civilizações da história”


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