Os embates entre EUA e URSS logo nos primeiros momentos da
Guerra Fria levaram a diversas especulações e ameaças, de ambos os lados, de
forma a mandar o recado correto ao inimigo. As estratégias visavam, antes de
tudo, a uma contenção.
Em 1954, Eisenhower apresentou uma nova versão, de
tolerância zero. Da contenção, chamada New Look (nome de uma linha de vestidos
criada por Christian Dior). As explicações oficiais eram estudadamente vagas,
mas pareciam se resumir a uma retaliação nuclear maciça contra qualquer ataque,
onde quer que ocorresse.
As forças terrestres seriam cortadas ao mínimo, servindo
apenas como condutoras de armas nucleares. O comandante da OTAN na Europa foi
franco. Nós “estams baseando todo o nosso planejamento em usar armas atômicas e
termonucleares para a nossa defesa”, escreveu ele. “Agora já não se trata de: ‘Elas
podem seu usadas’. É algo bem definitivo: ‘Elas serão usadas’.”
Em 1957, os soviéticos conseguiram uma vitória apertada (“Nossos
alemães são melhores que os deles”, gabava-se Krubeschev no filme The Right
Stuff [“Os eleitos”)] e usaram um dos seus primeiros foguetes operacionais para
colocar em órbita uma bola de aço de 83 quilos, o Sputnik. Dentro havia um
radiotransmissor, que não fazia nada exceto emitir um bipe, mas isso foi
suficiente para deixar os norte-americanos desesperados. “Ouçam agora”,
advertia a NBC, “o som que para sempre irá separar o velho do novo.”
No início da década de 1960, os EUA ainda tinham uma
superioridade nuclear de 9 contra 1 sobre os soviéticos, e o Departamento de
Defesa projetava que um primeiro ataque norte-americano seria capaz de matar
100 milhões de pessoas, praticamente arrasando a URSS. No entanto, prosseguia o
relatório, um contra-ataque soviético às maiores cidades dos EUA e de seus
aliados mataria 75 milhões de norte-americanos e 115 milhões de europeus,
arrasando a maior parte do resto do hemisfério norte.
Em 1961, especulando se o recém-empossado presidente John F.
Kennedy iria de fato arriscar Nova York para salvar seus interesses em Berim,
os soviéticos pressionaram mais do que o usual na infindável confrontação a
respeito da cidade dividida.
Os comunistas fizeram concessões e ergueram um muro no meio
da cidade, mas no ano seguinte as coisas pioraram. “Por que não jogar um ouriço
nas calças do Tio Sam?”, perguntou Kruschev, e enviou mísseis soviéticos para
Cuba. Durante 13 dias capazes de fazer o coração parar, a impressão era que o
pior cenário havia chegado.
Como ocorreu com toda nova arma perversa desde o primeiro
machado de pedra, uma vez que a bomba havia sido inventada, ela não poderia ser
“desinventada” (palavras de Eisenhower). Se todas as ogivas nucleares do mundo
fossem jogadas fora, elas poderiam ser substituídas em questão de meses – o que
deixava implícito que proibir a bomba poderia ser a ação mais perigosa
imaginável.
Em seu primeiro ano no cargo, Kennedy reclamara: “Os
soldados irão entrar em ação; as multidões irão celebrar [...] Depois vão nos
dizer que precisamos mandar mais soldados. É como começar a beber”. Mesmo
assim, ele enviou 8 mil assessores ao Vietnã do Sul. Dois anos mais tarde,
havia o dobro disso. Quatro anos depois, os fuzileiros navais desembarcaram em
Danang, e em 1968 havia meio milhão de norte-americanos lutando no Vietnã.
Colocar as botas no chão simplesmente criou a necessidade de
um exame de decisões adicionais. A detenção de civis – um método consagrado de
cortar os suprimentos aos insurgentes – seria adequado? Sim, decidiu a Casa
Branca. E bombardear o Vietnã do Norte? Às vezes. Ou invadir o Vietnã do Norte?
Não, porque isso poderia provocar a escalada dos soviéticos.
Bombardear e atacar posições comunistas no supostamente
neutro Camboja pareceu adequado ao presidente Nixon, mas muitos norte-americanos
discordaram. Eclodiram distúrbios; a Guarda Nacional matou quatro em Ohio.
Consequentemente, na hora de dar o passo maior e interromper os suprimentos
comunistas construindo uma linha fortificada ao longo do Laos – um lance
militar óbvio que, segundo os generais do Vietnã do Sul, iria “isolar o front
norte de sua retaguarda” – nenhum presidente disse sim.
A guerra se arrastou e, no final, matou mais de 3 milhões de
pessoas.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
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