A história da humanidade elenca diversos generais que
realizaram conquistas de tirar o fôlego. Vitórias conquistadas devido a grandes
estratégias, táticas surpreendentes ou, por vezes, decorrentes de uma ambição
desmedida.
Pode-se lembrar de três, dentre os mais importantes: Haníbal,
Alexandre e Júlio César.
Haníbal foi o mais brilhante tático de batalhas. Seu triunfo
em Cannae, no qual realizou um duplo círculo em torno de seu inimigo, mesmo
contando com um exército menos numeroso. Seu feito foi de tal magnitude que
apenas Khalid ibn AL-Walid conseguiu repeti-lo, mais de mil anos depois.
Alexandre, o Grande, foi o maior mobilizador de mão de obra
e de tropas em campo. Conseguia reunia dinheiro e soldados, sem limites, por
meio do culto à sua personalidade, que criava força de devotada.
Mas o maior de todos foi Júlio César. Ele transformava
vitórias em sucesso estratégico de longo prazo. Ele venceu virtualmente todas
as batalhas que lutou. Ele personificou o auge dos poderes militar e político.
Seu sobrenome, César (ou Caesar, em latim), era bastante comum no seu tempo e
não trazia qualquer significado especial. Postumamente, contudo, tornou-se
sinônimo de “rei” ou “imperador” (Kaiser, em alemão; Czar, em russo; Qaysar em
árabe; Sezer em turco).
Ao romper com o escandaloso e falido poder dos nobres, César
deu ao Estado romano – o qual trazia consigo a civilização Greco-Romana – uma sobrevida
de mais de 600 anos no Oriente, e 400 anos no Ocidente. Ele estendeu os limites
do Império, ao norte, até a Grã Bretanha; ao sul, até o Egito. César expulsou a
oligarquia romana e a substituiu por uma autocracia.
Suas vitórias em batalha foram transformadas em expansão
política e por um governo permanente que resistiu por séculos após sua morte.
Ele ganhou devoção política em função de suas habilidades na
administração, no generalato e na propaganda.
A pesar de seus sucessos militares, César não começou sua
carreira nas legiões. Essa fase ocorreu bem mais tarde, mais como resultado de
suas ambições e lealdade a Roma. Ele começou no mundo do Direito. César conquistou
sua reputação como um talentoso promotor de justiça, que usava suas habilidades
retóricas para levar à condenação judicial administradores corruptos. Essa
função obrigava a viagens intensas, o que era perigoso, especialmente nas áreas
mais periféricas.
Em tal jornada, César foi seqüestrado por piratas quando
atravessava o mar Egeu. Quando os seqüestradores exigiram um resgate de 20
talentos de prata, ele pediu que o valor fosse elevado a 50, pois seria mais
condizente com sua posição social.
Já planejando sua vingança, prometeu aos piratas que, logo
após fosse libertado, retornaria e os crucificaria pessoalmente. Os piratas,
naturalmente, duvidaram.
Logo após sua libertação, César liderou uma frota que os
perseguiu, capturou e os prendeu. Morreram conforme César havia jurado.
Sua carreira militar teve início em 69 a.C., quando se
tornou tribuno na Espanha. Mais tarde, César sofreu uma crise existencial, logo
após divisar um estátua de Alexandre, o Grande. César tinha pouco mais de 30 anos.
Plutarco conta a cena marcante com as seguintes palavras: “É vergonhoso o fato
de que Alexandre, com a minha idade, já era rei de tantos povos, ao passo que
eu não obtive qualquer brilhantismo.”
Esse momento lhe rendeu forças para se lançar e direção às
fileiras do exército. Logo obteve o cargo de procônsul e ganhou o comando de
uma grande expedição militar nas Guerras Gálicas, que completava 8 anos de renhidas
disputas contra tribos Gálicas, iniciadas em 58 a.C.
O propósito prático da missão era promover a carreira
militar de César e perdoar suas dívidas, já em valores impagáveis.
Ao lado de suas habilidades de liderança, César poderia
adquirir poder devido a seu talento em oratória. César era um orador público de
grande talento, fazendo concorrência até mesmo a Cícero. Todos os discursos e
textos de César, tanto os recuperados quanto os perdidos, tinham propósitos políticos.
Sua oratória foi exibida até mesmo no funeral de sua esposa, com fins
políticos.
A despeito de sua intenção política, seus discursos eram
grandes obras literárias.
Impressionavam sua fortaleza intelectual e física. César
poderia liderar um exército em batalha e ainda escrever um romance histórico no
qual detalhava os acontecimentos. Ele escreveu seus livros sobre as guerras
gálicas – Comentarii de Bello Gallico –, publicado em 51 a.C. enquanto
apaziguava rebeliões nos estertores da guerra.
O final das guerras Gálicas marcou o fim do Primeiro
Triunvirato, uma conflituosa aliança política entre políticos romanos bastante
poderosos: Marcus Licinius Crassus; Pompeu, o Grande, líder do Senado; e o
próprio Júlio César.
Crassus morreu em batalha. Pompeu se aliou à oposição a
César. Pompeu ordenou que César retornasse a Roma em 50 a.C., devido ao termo
final de seu mandato como governador. César sabia que seria processado caso
deixasse a imunidade garantida pelo cargo.
Na mais famosa passagem e sua carreira, que inclusive se
tornou clichê para situações irreversíveis, César atravessou o rio Rubicão com
sua legião, composta por 5 mil soldados. Assim que pisou nos bancos de areia do
rio, soltou o grito: “O dado está lançado” – ou “A sorte está lançada”.
Foi o início retumbante da Guerra Civil de César - 49-45
a.C. Pompeu fugiu para o sul logo que César foi declarado ditador, apesar das
tropas mais numerosas do lado inimigo.
César perseguiu Pompeu pela Europa, até o Egito. Neste local
Pompeu foi entregue aos braços da morte. Foi assassinado pelos conselheiros do
rei Ptolomeu XIII.
Gaius Julius Caesar foi ditador por mais de 10 anos. Foi
declarado Dictator Perpetuo em 45 a.C.
Nesse período, César centralizou o governo, visando à redução
de movimentos de resistência nas províncias, reduziu a corrupção e homogeneizou
o império, desde Roma até as periferias. Nas leis tratavam de tudo: dívidas, tempo
de mandato dos governantes e compras de grãos. Trocou o calendário lunar por um
solar, o Calendário Juliano. Cartago e Corinto foram reconstruídas. O Senado o nomeou
censor por toda a vida e pai dos pais.
Quando de seu retorno, César assistiu a jogos que envolviam
disputas de gladiadores, uma batalha naval encenada num alagado do Campo de
Marte, caçadas a betas, envolvendo 400 leões e milhares de presos lutando até a
morte no Circus Maximus.
Seu império durou mais de 400 anos no seu formato unificado;
e 14 séculos, se considerado o Império Bizantino.
E imaginar que tudo isso foi iniciado por uma crise
existencial...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “As maiores civilizações da história”
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