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segunda-feira, 6 de março de 2017

POVOS DAS FRONTEIRAS: O VIETNÃ DO IMPÉRIO ROMANO


Por muitos séculos, o Império Romano vinha sendo sitiado por povos vindos do leste, das estepes e pradarias. Um desses povos era conhecido como sármatas, povo nômade que viviam ao longo do rio Don, no século I d.C.

Eram conhecidos pela sua violência: segundo Heródoto, descendiam das amazonas e nenhuma mulher sármata poderia se casar sem que antes houvesse matado ao menos 1 homem em batalha.

Quando os sármatas se aproximaram da margem norte do rio Danúbio, Domiciano temeu pelo seu império e solicitou auxílio dos soldados que estavam na Bretanha.

O contato entre povos nômades vindos de longínquas estepes com povos germânicos de agricultores deu origem a povos que uniam o melhor dos dois mundos: os agricultores adotaram cavalarias e táticas de guerras mais modernas, seus chefes receberam o título de reis, exibindo poderes absolutos, liderando exércitos e cobrando tributos.

Um desses povos bárbaros que se formavam, conhecidos como Godo, habitantes da região do mar Báltico. Em 15 d.C. começaram uma marcha ao sul, em direção ao mar Negro. Após formarem uma federação, começaram a cruzar o rio Danúbio. Os romanos os chamavam de Marcomanos, ou Povos da Fronteira.

A resistência romana foi liderada pelo imperador Marco Aurélio, que reinou de 161 a 180 d.C. Amante do conhecimento, Marco Aurélio se deliciava passando longas horas estudando filosofia, quando debatia com maestria com professores gregos e romanos.

Mas os ameaçadores bárbaros interromperam os estudos do sábio imperador. Marco Aurélio liderou seus soldados nas dolorosas marchas ao longo de florestas densas e úmidas, após atravessarem o Danúbio. A invencível armada romana foi treinada para atuar em terrenos semelhantes àqueles do norte da Itália: planícies abertas e amplas, que permitiam realizar manobras militares complexas. Se movimentar por trilhas estreitas, em florestas chuvosas eliminava quase todas as táticas confiáveis dos romanos e os expunham a um terreno que não dominavam, ao contrário desses novos inimigos.

Mesmo assim, Marco Aurélio encontrou tempo para escrever sua grande obra, Meditações, onde expunha todo seu entendimento sobre a filosofia estóica.

Enfrentar uma guerra indesejada, contra um inimigo indesejado e usando táticas e se movendo por terrenos desconhecidos e para os quais seu exército não foi treinado não foi “privilégio” do imperador Marco Aurélio. Os sucessores do presidente Eisenhower sofreram transtornos semelhantes no Vietnã.

Harry Summers, coronel do exército dos EUA, contou sobre sua experiência quando foi enviado a Hanói, em 1975, logo após os americanos e seus aliados perderem o Vietnã do Sul.

Um general vietnamita chamado Tu, falante fluente de inglês, recebeu o coronel americano no aeroporto. Tendo em vista o clima de tenso entre os dois países, a conversa logo descambou para a provocação.
Summers disse a Tu: “Sabe, vocês nunca ganharam de nós no campo de batalha”. Tu replicou: “Talvez isso seja verdade, mas também é algo irrelevante.”

As semelhanças envolvem os dois lados dessas disputas. Os exércitos romano e norte-americano tinham plena consciência de sua superioridade e, portanto, buscavam o embate direto, franco; por sua vez, tanto os germânicos quanto os norte-vietnamitas, igualmente conscientes de sua inferioridade em campo de batalha, procuravam evitar esse tipo de batalha, buscando táticas que melhor lhes favorecessem.

No túmulo de Marco Aurélio, a ornamentação lá insculpida, em homenagem aos seus longos anos massacrando germanos, apresenta ao público cenas de romanos queimando aldeias, roubando animais e matando prisioneiros. Uma pequena amostra do que foi a carnificina encenada pelos seus soldados.
Mesmo quando os romanos conseguiam enfrentar batalhas campais, as táticas dos inimigos tornavam o cenário bastante diverso daqueles que estavam acostumados. As muitas dificuldades e as táticas utilizadas foram expostas nas linhas escritas pelo historiador Cássio Dio:

“Eles formaram um quadrado, de frente para todos os oponentes. A maior parte dos homens deixava os escudos no chão e ficava parada, com um pé em cima do escudo, para que este não escorregasse. Então recebiam a carga do inimigo. Agarravam as rédeas, escudos e lanças dos cavaleiros. Puxando-os para frente, arrastavam homens e cavalos por cima deles. Se um romano caía para trás, puxava o inimigo para cima dele, e então, com as pernas, o fazia voar por cima, como um lutador de luta livre, e se safava. Se caísse para frente, mordia o sármata ... Os bárbaros, não acostumados a esse tipo de coisa, e usando armadura leve, entraram em desespero. Poucos escaparam.”

Após essas batalhas e tendo enfrentado o inferno que os sassânidas, povos persas cujos soldados e cavalos entravam em batalha completamente vestidos de cotas de malhas bastante maleáveis e confortáveis, que também ameaçavam as fronteiras romanas, o império montou sua cavalaria, cada vez mais numerosa. Por volta de 500 d.C., era a fileira mais numerosa nas legiões.
    

Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

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