Algumas pessoas percebem algumas curiosidades no que se
refere a festas religiosas. Aprendemos que o Natal comemora o nascimento de
Jesus Cristo, enquanto que a Páscoa comemora sua morte e ressurreição.
Mas, por
que o Natal tem uma data fixa (sempre comemorado em 25 de dezembro), mas a
Páscoa sempre tem sua data diferente do ano anterior? Sabe-se em que dia ele
nasceu com certeza, mas não se sabe quando morreu? Não é isso.
Partindo das tradições católicas, Jesus Cristo era judeu,
viveu na Palestina, que na época era uma Província do Império Romano. Era uma região
ocupada por um Estado bem mais forte, mas que mantinha muito de suas tradições,
entre elas um calendário próprio.
O calendário lunissolar judaico (obedecia aos movimentos da
Lua e do Sol) era diferente do calendário solar romano. Portanto, se quiser mos
fazer uma interface entre ambos, devemos descobrir um método de conversão.
A Última Ceia teria sido um evento em comemoração ao
Pessach. Essa cerimônia é comumente chamada de “Páscoa Judaica”, nome
completamente inapropriado, haja vista ser um evento muito mais antigo que a “Páscoa
Cristã”.
O Pessach comemora a fuga dos judeus (ou hebreus, se
esquecermos a religião e nos concentrarmos na nação) do Egito, onde eram
mantidos como escravos – às vezes referido como cativeiro, o que revelaria uma
razão mais criminal do que apenas a execução de trabalhos forçados...
A saída do Egito, em direção ao deserto e à liberdade, é
conhecida como Êxodo.
No calendário judaico, o Pessach cai sempre em 14 de Nisan –
este é o primeiro mês seu calendário. A conversão para o calendário gregoriano
faz com que a data no nosso calendário varie.
Uma solução engenhosa seria converter a data da Última Ceia para
o calendário solar da época (Juliano). Costumamos admitir que Jesus Cristo
morreu no ano 33 d.C. (o que é incorreto, pois já se sabe que houve um erro de
cálculo de 4 anos para menos; e
esquizofrênica, pois diz que Jesus Cristo morreu 33 anos após o nascimento de
Jesus Cristo... Daí o uso de 33 EC, Era Comum). Esse ano corresponde ao ano
3793 no calendário judaico – esse calendário supõe se iniciar na criação do
Mundo – como quase todas as religiões supõem fazê-lo.
O dia 14 de Nisan de 3793 corresponde a 3 de abril de 33, no
juliano – que caiu numa sexta-feira, anterior ao domingo de Páscoa. O problema
é que a Sexta-Feira Santa raramente cairia numa sexta-feira.
Desde o Concílio de Nicéia, em 325, o cálculo para
determinar o domingo de Páscoa é: o primeiro domingo após a primeira lua cheia,
após o primeiro equinócio do ano (21 de março).
Outra data móvel no calendário cristão é a do Corpus
Christi: sempre celebrado 60 dias após o domingo de Páscoa. Por isso sempre
será numa quinta-feira (60/7, dá resto 4; domingo + 4 dias = quinta-feira).
Embora não seja feriado cristão, o Carnaval também ocorre em
data móvel. A terça-feira antes do Carnaval, conhecida como terça-feira gorda,
ocorre 47 dias antes do domingo de Páscoa. A maioria dos historiadores acredita
que a origem da festa esteja relacionada com o último dia em que era permitido
consumir carne, antes da quaresma. Carnaval seria festa da carne.
As festas em data móvel se opõem às festas em datas específicas,
como o Natal.
Sabemos que o Natal comemora o nascimento de Cristo. Sabemos
que Cristo era judeu, e seu povo respeitava um calendário próprio. Portanto
Cristo também teria nascido em uma data específica do calendário judaico, cuja
conversão para o calendário cristão resultaria em uma data móvel. Portanto o
Natal, se corretamente definido, também deveria seguir a lógica de cair em data
móvel.
Pelo acima exposto, a data de 25 de dezembro tem valor
simbólico, não representando o nascimento do filho de Deus. Essa data, de fato,
é tomada de empréstimo de outras culturas e da própria astronomia.
No dia do solstício de dezembro, diz-se que se inicia o
verão no hemisfério sul e, por conseguinte, o inverno no hemisfério norte. Para
quem mora no hemisfério norte, esse dia tem o dia mais curto do ano e, claro, a
noite mais longa.
Os povos da antiguidade que habitavam as altas latitudes do
hemisfério norte comemoravam nessa data o dia do “Sol invencível”. Por que?
Porque sabiam que a partir daquele dia o Sol voltaria a ficar cada vez mais
quente, até atingir seu auge no verão (solstício de verão).
Essas festas ocorriam em torno de uma fogueira, havia troca
de presentes.
A data de 25 de dezembro é incorreta para a comemoração do
solstício de inverno (no hemisfério norte). No nosso calendário gregoriano
ocorre em 21 de dezembro, ou 22 se ano bissexto. Mas a tradição já se
estabelecera no dia 25.
A Igreja católica, em sua expansão europeia, incorporou
tradições locais. Uma dessas foi a comemoração de 25 de dezembro, celebrando o
nascimento do Sol, após um sofrido inverno. Faltava muito pouco para
comemorarem o nascimento de Cristo.
Por fim, o dia do nascimento de São João Batista ocorre em
junho – que é verão no hemisfério norte. João Batista é considerado o precursor
de Cristo. Portanto sua comemoração ocorre seis meses (meio ano) antes do nascimento
de Cristo: 24 de junho.
Essa data também não coincide mais com o solstício de verão
(no norte), que ocorre em 21 ou 22 de junho, se bissexto.
That`s all folks!
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12
meses e outras curiosidades...”
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