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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

RITOS EM DATAS MÓVEIS: UM PROBLEMA DE CONVERSÃO


Algumas pessoas percebem algumas curiosidades no que se refere a festas religiosas. Aprendemos que o Natal comemora o nascimento de Jesus Cristo, enquanto que a Páscoa comemora sua morte e ressurreição. 
Mas, por que o Natal tem uma data fixa (sempre comemorado em 25 de dezembro), mas a Páscoa sempre tem sua data diferente do ano anterior? Sabe-se em que dia ele nasceu com certeza, mas não se sabe quando morreu? Não é isso.

Partindo das tradições católicas, Jesus Cristo era judeu, viveu na Palestina, que na época era uma Província do Império Romano. Era uma região ocupada por um Estado bem mais forte, mas que mantinha muito de suas tradições, entre elas um calendário próprio.

O calendário lunissolar judaico (obedecia aos movimentos da Lua e do Sol) era diferente do calendário solar romano. Portanto, se quiser mos fazer uma interface entre ambos, devemos descobrir um método de conversão.

A Última Ceia teria sido um evento em comemoração ao Pessach. Essa cerimônia é comumente chamada de “Páscoa Judaica”, nome completamente inapropriado, haja vista ser um evento muito mais antigo que a “Páscoa Cristã”.

O Pessach comemora a fuga dos judeus (ou hebreus, se esquecermos a religião e nos concentrarmos na nação) do Egito, onde eram mantidos como escravos – às vezes referido como cativeiro, o que revelaria uma razão mais criminal do que apenas a execução de trabalhos forçados...

A saída do Egito, em direção ao deserto e à liberdade, é conhecida como Êxodo.

No calendário judaico, o Pessach cai sempre em 14 de Nisan – este é o primeiro mês seu calendário. A conversão para o calendário gregoriano faz com que a data no nosso calendário varie.

Uma solução engenhosa seria converter a data da Última Ceia para o calendário solar da época (Juliano). Costumamos admitir que Jesus Cristo morreu no ano 33 d.C. (o que é incorreto, pois já se sabe que houve um erro de cálculo de 4 anos para menos;  e esquizofrênica, pois diz que Jesus Cristo morreu 33 anos após o nascimento de Jesus Cristo... Daí o uso de 33 EC, Era Comum). Esse ano corresponde ao ano 3793 no calendário judaico – esse calendário supõe se iniciar na criação do Mundo – como quase todas as religiões supõem fazê-lo.

O dia 14 de Nisan de 3793 corresponde a 3 de abril de 33, no juliano – que caiu numa sexta-feira, anterior ao domingo de Páscoa. O problema é que a Sexta-Feira Santa raramente cairia numa sexta-feira.
Desde o Concílio de Nicéia, em 325, o cálculo para determinar o domingo de Páscoa é: o primeiro domingo após a primeira lua cheia, após o primeiro equinócio do ano (21 de março).

Outra data móvel no calendário cristão é a do Corpus Christi: sempre celebrado 60 dias após o domingo de Páscoa. Por isso sempre será numa quinta-feira (60/7, dá resto 4; domingo + 4 dias = quinta-feira).

Embora não seja feriado cristão, o Carnaval também ocorre em data móvel. A terça-feira antes do Carnaval, conhecida como terça-feira gorda, ocorre 47 dias antes do domingo de Páscoa. A maioria dos historiadores acredita que a origem da festa esteja relacionada com o último dia em que era permitido consumir carne, antes da quaresma. Carnaval seria festa da carne.

As festas em data móvel se opõem às festas em datas específicas, como o Natal.

Sabemos que o Natal comemora o nascimento de Cristo. Sabemos que Cristo era judeu, e seu povo respeitava um calendário próprio. Portanto Cristo também teria nascido em uma data específica do calendário judaico, cuja conversão para o calendário cristão resultaria em uma data móvel. Portanto o Natal, se corretamente definido, também deveria seguir a lógica de cair em data móvel.

Pelo acima exposto, a data de 25 de dezembro tem valor simbólico, não representando o nascimento do filho de Deus. Essa data, de fato, é tomada de empréstimo de outras culturas e da própria astronomia.

No dia do solstício de dezembro, diz-se que se inicia o verão no hemisfério sul e, por conseguinte, o inverno no hemisfério norte. Para quem mora no hemisfério norte, esse dia tem o dia mais curto do ano e, claro, a noite mais longa.

Os povos da antiguidade que habitavam as altas latitudes do hemisfério norte comemoravam nessa data o dia do “Sol invencível”. Por que? Porque sabiam que a partir daquele dia o Sol voltaria a ficar cada vez mais quente, até atingir seu auge no verão (solstício de verão).

Essas festas ocorriam em torno de uma fogueira, havia troca de presentes.

A data de 25 de dezembro é incorreta para a comemoração do solstício de inverno (no hemisfério norte). No nosso calendário gregoriano ocorre em 21 de dezembro, ou 22 se ano bissexto. Mas a tradição já se estabelecera no dia 25.

A Igreja católica, em sua expansão europeia, incorporou tradições locais. Uma dessas foi a comemoração de 25 de dezembro, celebrando o nascimento do Sol, após um sofrido inverno. Faltava muito pouco para comemorarem o nascimento de Cristo.

Por fim, o dia do nascimento de São João Batista ocorre em junho – que é verão no hemisfério norte. João Batista é considerado o precursor de Cristo. Portanto sua comemoração ocorre seis meses (meio ano) antes do nascimento de Cristo: 24 de junho.

Essa data também não coincide mais com o solstício de verão (no norte), que ocorre em 21 ou 22 de junho, se bissexto.

That`s all folks!


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”

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