Inicialmente cabe cumprir que fazer
três refeições diárias não um hábito que temos desde sempre. Surgiu na Grã
Bretanha no século XVIII, após a invenção da luz elétrica, que deu maior
duração ao dia útil.
Na Roma antiga, fazia-se apenas
uma refeição, que chamavam de cena. Após, faziam pequenos lanches, que chamavam
de prandium. Na IdadeMédia, comia-se duas vezes ao dia: breakfast pela manhã (o
quebra jejum), e o dinner, que era servido ao meio dia.
A geladeira como a conhecemos foi
inventada em 1870. Na verdade era um pouquinho diferente. Era movida a
manivela. Mas sua popularização somente ocorreu após a II Guerra Mundial. Sem
geladeira, a alimentação dependia de alimentos frescos ou preservados em sal,
vinagre e manteiga.
A ausência de métodos de
preservação dos alimentos por longos períodos deixava a população sempre à
beira de uma onde de fome. E a história está repleta desses tempos de
desespero. Na Idade Média, fazendeiros vendiam seus filhos e troca de alimentos.
Outros se submetiam à escravidão.
Algumas pessoas viam no suicídio
a solução para o problema da fome que lhes afligia. Um monge inglês contou
sobre um episódio arrepiante: “40 ou 50 homens, completamente famintos, foram
juntos a algum precipício ou costa, onde, juntos no sofrimento, deram as mãos e
saltaram para o mar...”. Ocorreu em Sussex, durante uma onda de fome.
A Grande Fome da Bata Irlandesa
foi um dos mais dramáticos. Ocorrida entre 1844 e 1849, matou um milhão de pessoas
na Irlanda e forçou outro milhão a migrar para os EUA – hoje há sete vezes mais
americanos descendentes de irlandeses do que irlandeses na Irlanda.
No México, no século XVI pessoas
comiam, em períodos de fome, alimentos como: aranha, ovos de formiga, esterco
de cervo e terra. Na China medieval, havia pelo menos quatrocentos “alimentos
para ondas de fome”: cascas de árvores e gramíneas estavam entre eles.
Nos EUA, em Michigan, no final do
século XIX, existia um médico chamado John Harvey Kellogg. Ele defendia algumas
teorias bastante polêmicas acerca dos alimentos e de sua influência sobre a
saúde. Ele tinha um irmão, Will Keith Kellogg, que era contador no mesmo hospital
em que o irmão era chefe-geral. Em um dia do ano de 1894, Will começou a fazer
alguns experimentos alimentares, com trigo, usando ideias defendidas pelo irmão
médico.
Will fervia trigo, tentando
descobrir um substituto para o pão. Por distração, o trigo ficou fervendo tempo
demais, transformando-se em um grude horrível. Tentando evitar jogar tudo fora,
espremeu o grude com um rolo... E obteve flocos de trigo.
Serviram aos pacientes e
obtiveram aprovação. Tentaram outros cereais e descobriram que o milho era mais
adequado. Nasceu assim o “corn flakes”. Com o acréscimo do açúcar, os negócios viraram
um sucesso.
Os habitantes das Américas somente passaram a beber leite após a chegada dos Europeus e Africanos. No entanto, em pouco tempo Wisconsin e Minnesota se grandes produtores de leite. A expansão de Nova York levou a um aumento exponencial da demanda por leite.
Mas não havia ainda uma maneira
de preservar o produto quando transportado a longas distâncias. Bactérias, fungos e outros perigos à saúde
eram parte integrante do leite. Só mudou com a reforma sanitária dos EUA, no
século XIX.
A humanidade consome carne há
milhões de anos. Quando descobrimos o fogo – a data exata é muito divergente,
entre 1,9 e 0,4 milhão de anos atrás -, passamos a cozinhar alimentos. Os
benefícios são vários: mais saudável, consome menos energia na digestão, libera
mais energia, gera cérebros maiores.
Comíamos todas as partes dos
animais: miúdos, estômago, cérebro. Esses animais eram caçados por nômades, até
que a Revolução Neolítica substituiu o arco e flecha pelo cercadinho.
No que se refere à agricultura,
cabe alertar sobre os tais alimentos manipulados. A agricultura é uma invenção
dos homens; os alimentos que cultivamos são todos manipulados, em certa medida.
O milho que comemos foi manipulado por mexicanos há 3.500 anos.
Também nessa época surgiram os
animais de granjas. Os porcos foram domesticados por chineses há 6 mil anos. Fora
ótimos em função de engordarem 900 gramas por dia. Outros animais eram
importantes por também fornecerem leite, lã etc.
Com a proximidade com esses
animais surgiram doenças. Apesar de todas as utilidades descobertas, eles são
conhecidos vetores de doenças como sarampo, caxumba, gripe, varíola, malária,
resfriado.
Apesar de os egípcios não terem
sido fanáticos por carne de porco, descobriram que defumá-la a preservava por
mais tempo. Os romanos consumiam bacon que chamavam de petaso servido com
figos, vinho e pimenta. Como opção para os mais carnívoros, havia as linguiças de
porco lucanianas, apimentadas, do sul da Itália.
Durou até que a Igreja Católica
considerasse esse alimento impróprio para um cristão, era um alimento bárbaro e
blá blá blá. E assim as linguiças “do pecado” foram banidas de Roma.
A moralidade religiosa fez com
que a carne vermelha fosse proibida em grande parte da Europa por cerca de
metade do ano, em razão dos dias santos.
Como uma última lembrança antes
de longos 40 dias sem carne, na véspera da Quaresma os cristãos ingleses se
deleitavam com o collops: à base de bacon e ovos fritos. Ao fim da Quaresma,
nova sessão de carne de porco naveia. Exceto muçulmanos e judeus que nunca
poderiam consumi-la. No islamismo, presunto é pecado, que chamam de Haram. Essa
tradição foi herdada dos judaísmo: não se comem animais terrestres de casco
fendido (formando um tipo de dedo) ou não ruminantes.
Continua...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Um milhão de anos
em um dia...”
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