O desafio de solucionar Fermat, agora, dependia de um passo
intermediário, mas igualmente desafiador: demonstrar que a forma modular (cujas
soluções formam uma série M) se relaciona diretamente com uma equação elíptica
(cujas soluções formam uma série E).
Esse passo era também importante pois, demonstrada a
igualdade, a solução de uma seria a solução da outra também. Taniyama percebeu
essa igualdade ao estudar diversas equações. Em 1957, Shimura foi convidado
como professor visitante em Princeton. Pretendia voltar a Tókio e continuar os
estudos que iniciara com seu amigo. Contudo, Taniyama não esperou. Suicidou-se,
sem causas relevantes aparentes.
Depois da morte do amigo, Shimura concentrou-se na
compreensão exata entre equações elípticas e formas modulares. Estava convencido
da igualdade entre ambas. Ficou conhecida como conjectura Taniyama-Shimura.
A relação direta entre a demonstração da Conjectura e a
prova de Fermat foi levantada em 1984, por Gerhard Frey. Partindo de Fermat:
Xn + Yn = Zn , ele realizou
algumas manipulações algébricas e chegou a:
Y2
= X3 + (An – Bn)x2 – AnBn
Esta equação está na forma elíptica.
Portanto, ao desenvolver Fermat até chegar a uma equação
elíptica, Frey ligara Fermat à Conjectura de Taniyama-Shimura. A condição, que
Frey estabelecera, é que Fermat fosse falso.
Passo a passo da lógica de Frey: se Fermat fosse falso,
então a equação elíptica existe; se a equação não for modular a Conjectura é
falsa – pois afirma que toda elíptica é modular; caso contrário, Fermat é
verdadeiro.
O furo deixado no raciocínio brilhante de Frey parecia
iniciante demais: ele não demonstrou que a elíptica que ele achou não era
modular – só disse que era bizarra. Provado que a equação elíptica de Frey não
era modular, Fermat restaria demonstrado de uma vez por todas.
Pois é. O problema é que essa demonstração estava se
mostrando tão inalcançável quanto o Teorema de Fermat.
A prova passava por encontrar invariantes (como no caso dos
nós). Encontrada a invariante que impossibilitava a transformação da elíptica
em modular, restaria demonstrada a Conjectura.
Quem provou essa Conjectura foi Ken Ribet. A solução que ele
adotou é uma medida quase esotérica da matemática, difícil de entender, quase
impossível de explicar.
O cenário agora é: os matemáticos presumiriam que Fermat era
falso; isso implica na falsidade da Conjectura Taniyama-Shimura; portanto
Fermat seria falso. Sendo o resultado da Conjectura fosse verdadeiro, Fermat
seria verdadeiro (e se você se lembrar da pergunta, entenderá que isso implica que
há soluções).
Mas a Conjectura demorou trinta anos para ser provada... Nada
animador para a resolução do problema já secular.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “O último teorema de Fermat:
a história do enigma que confundiu as mais brilhantes mentes...”.
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