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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

CALENDÁRIO GREGORIANO: UNINDO O MUNDO SOB UMA FORMA DE CONTAR O TEMPO

Recordando o modo de funcionamento do calendário Juliano: havia três anos consecutivos com 365 dias e ¼. A cada quatro anos, acrescentava-se mais um. Portanto a duração média de um ano Juliano era de 365,25 dias – ou 365 dias e 6 horas.

Portanto temos uma defasagem: o ano trópico, ou solar, é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,2 segundos. São 12 minutos aproximadamente de diferença. Portanto, a cada 128 anos teremos 1 dia de defasagem.

O cenário começou a mudar quando o imperador Constantino chegou ao poder.

Em 325, Constantino convocou o Concílio de Nicéia. Naquele momento, a Igreja Católica já era a representante da religião oficial do império. Esse Concílio estabeleceu entendimentos importantes quanto ao calendário do Império.

A celebração mais importante da fé cristã é a Páscoa. Nessa data se comemora a ressurreição de Jesus Cristo. Um detalhe interessante é que a Páscoa ocorre em data móvel, diferente do Natal, sempre em 25 de dezembro.

Isso ocorre porque a Páscoa é uma cerimônia de origem judaica – portanto é estabelecida segundo o calendário judaico. A data da Páscoa no calendário católico depende de sua conversão, a partir do calendário judaico. Como sabemos, o calendário judaico é lunissolar, enquanto que o calendário originado no Império romano é solar.

O Concílio de Nicéia estabelece uma maneira de realizar essa conversão. Desde 325, a Páscoa é sempre celebrada no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia após o equinócio de inverno (em março). Assim, casam-se ambas as datas.

E a Igreja, desde então, passou a ser a responsável pelo calendário.

Percebeu-se que naquela época o equinócio vernal, fixado por Júlio César em 25 de março, ocorria de fato em 21 de março. Redefiniram-se essas datas e, nos anos bissextos, em 20 de março.

Bom, após essas mudanças, o problema principal se manteve. O calendário Juliano continuava atrasado em 12 minutos por ano. No século VIII a defasagem já atingia três dias.
Alguns estudiosos se debruçaram sobre o problema. Um deles foi o frade franciscano Roger Bacon.Quando nascera, em 1214, o atraso já estava em uma semana. Bacon era professor em Oxford, antes de se tornar frade.

Por sorte, embora obrigado a abandonar o posto de professor, havia feito amizade com um outro religioso, que viria a ser nomeado papa: Clemente IV. Este incentivou que Bacon achasse uma maneira de resolver a defasagem do calendário.

Bacon escreveu uma obra em três volumes: Opus Majus, Opus Minus e Opus Tertium. Bacon sugeriu uma solução: eliminar um dia a cada 125 anos.

Infelizmente Clemente IV faleceu antes que a reforma fosse implementada. Outros papas tentaram implementar a reforma, mas episódios politicamente mais imediatos conturbaram o ambiente. A decisão final de reformar o calendário foi definida no Concílio de Trento.

A forma como ocorreria finalmente a reforma foi produto da mente de um médico italiano chamado Luigi Lilio. Ele pensou numa maneira em dois passos.

Inicialmente, ocorreria a supressão de 10 dias, para ajustar o equinócio vernal. Depois, mudariam as regras dos anos bissextos. Ele sugeriu não decretar bissextos, três anos  num período de 400 anos.

Assim, o ano civil de Lilio teria, em média, 365,2425 dias – 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. A conta é essa: 400 anos julianos teriam 146.100 dias; desse total, Lilio sugeria eliminar três dias; o ano Juliano passa a ter 146.097 dias. Dividindo 146.097 por 400 teremos 365,2425 dias por ano no novo método. O atraso agora caia a menos de meio minuto!

Em 1582, o papa Gregório XIII, finalmente, decretou a reforma do calendário Juliano. O atraso, nesse ano, chegou a 10 dias.

Sua bula, Inter gravíssimas, prescrevia o método da reforma. Ordenou a remoção de 10 dias no mês de outubro de 1582 – do dia 5 ao dia 14, inclusive. A contagem ia até 4 de outubro; depois pulou para 15 de outubro.

Depois, prescreveu novas regras para os anos bissextos: o ano de 1600 permaneceria bissexto; depois disso, os anos centenários não seriam mais todos bissextos, mas só a cada 400 anos. Ou seja, 1700, 1800 e 1900 não foram anos bissextos, por decisão papal. O ano 2000 teve seus 29 dias normalmente. Outro ano centenário bissexto, só ocorrerá em 2400.

Essa regra que cobre o período de 400 será reiniciada, perpetuamente.

Esse é o nosso calendário atual. Há ainda uma diferença de 26,8 segundos em relação aos eventos astronômicos. Isso significa que a cada 400 anos, o calendário fica defasado em 2 horas, 58 minutos e 40 segundos. A cada 3.223 anos, a diferença será de 1 dia. Sugere-se tornar comum o ano de 4000, que seria bissexto.

O calendário dói reformado e sua adoção foi decretada... pelo Papa. Ou seja, países católicos como Itália, Portugal e Espanha o adotaram imediatamente.  Países protestantes, como Inglaterra e Alemanha mantiveram o calendário Juliano. A Europa ainda estava vivendo as conflagrações da Reforma Protestante.

A França e a Holanda o adotaram em 1582. Alemanha e Áustria, em 1584. Hungria, em 1587. Dinamarca e Noruega, em 1700. A Inglaterra demorou muito mais: 1752, tendo de cortar 11 dias, pois seu atraso custou-lhe a contabilização de um dia em 1700.

A Suécia o fez dramaticamente, entre idas e vindas, cortando os anos bissextos por 40 anos. A Rússia adotou o calendário gregoriano em 1918, após a Revolução Russa – teve de eliminar 13 dias. Os últimos foram Grécia (1923) e Turquia (1926).

A China o fez em 1912, mas de fato só a partir de 1929. Desde então o calendário chinês é mera tradição ainda mantida. O Japão o fez em 1873.

The end.

  
Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”

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