Não deveria ser surpresa saber que alguns pais têm
preferência pelo sexo que terá seu filho. Na era da genética, esse desejo torna-se
algo bastante factível.
Existem dois métodos para os pais escolherem o sexo de seus
filhos.
O primeiro tem o nome de MicroSort. O casal comparece a uma
clínica e, onde a mulher é fertilizada pelo espermatozóide do parceiro,
escolhendo-se, para tanto, o cromossomo X ou Y, dependendo do desejo do casal.
O pulo do gato é o método de seleção do espermatozóide.
Sabendo-se que o cromossomo sexual Y possui menos material
genético que o X, aquele é mais leve que este. Põem-se ambos num tubo de ensaio
e procede-se à seleção do cromossomo mais leve ou do mais pesado. A taxa de
sucesso é de 88% para meninas e 73% para meninos.
O segundo método é o DPI: diagnóstico pré-implantação. Muito
utilizado para geração de bebês livres de doenças genéticas graves presentes
nos genes dos pais, vem sendo utilizado para seleção do sexo dos bebês com taxa
de sucesso bastante elevada.
Após a fertilização in vitro, retira-se uma célula do
embrião, que deve estar com oito a dezesseis células – esse estágio ocorre
cerca de três dias após a fertilização. Originalmente avalia-se a presença de
mutações que causem doenças, mas nesse caso observa-se o sexo do embrião. Somente os embriões do sexo desejado são
implantados no útero.
Não há muitas dúvidas de que avanços no genoma permitirão
selecionar, em breve, altura, potencial atlético etc. Seja como for, os
questionamentos acerca da ética desses procedimentos já foram formuladas.
A empresa que desenvolveu o MicroSort anuncia que seus clientes somente podem usá-lo para fins de “equilíbrio familiar”. Caso um casal tenha, por exemplo, quatro filhas, poderia usá-lo para garantir o nascimento de um menino. Mas como fiscalizar o cumprimento dessa regra? Além disso, esse seria um motivo tão nobre, para merecer esse cuidado?
Na Inglaterra, um questionário foi enviado a 2.300 grávidas,
em 1993, perguntando sua preferência em relação ao sexo do filho. O resultado
demonstrou que, mesmo podendo ser usado largamente, tais métodos não
desequilibrariam a população em favor de dado gênero. Aliás, esse país só emite
a autorização para que o casal se submeta à fertilização com escolha do sexo do
bebê em caso de problemas genéticos.
Naturalmente, sem a interferência médica, no mundo nascem
51% de meninos e 49% de meninas. Contudo, morrem mais meninos no nascimento, o
que garante um equilíbrio geral.
Outra pesquisa, na Alemanha, atestou que haveria esse mesmo equilíbrio
caso a escolha do sexo fosse permitida.
Em Israel, decidiu-se o seguinte: se um casal tiver quatro
filhos do mesmo sexo, e quiser uma criança, permite-se que se utilize do DPI.
A despeito de diferenças regionais (como no caso da Índia e
da China, por questões legais; ou em países árabes e alguns asiáticos, em que a
herança é transmitida ao filho, não à filha), surgiram questionamentos
motivados pelas expectativas paternas em relação aos filhos, que possuam
características por eles escolhidas. Argúi-se que o futuro da criança será
influenciado não apenas pelo seu sexo, mas também pelas expectativas dos pais.
Bom. Vou esperar por uma técnica de fertilização que permita
da escolha do país onde o bebê nascerá...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “GenÉtica: escolhas que nossos avós não faziam.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário