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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

CALENDÁRIO ROMANO – OS PRIMEIROS PASSOS DO NOSSO CALENDÁRIO


Uma era é um período de tempo de duração incerta, uma vez que seu início é definido por um marco histórico, mas seu fim é decidido a posteriori.

Nosso calendário usa o conceito de Era Cristã, iniciado com o nascimento de Cristo – a.C e d.C.
A ideia que inaugurou essas Eras foi produto da mente de um monge grego chamado Dionísio. No século VI d.C. ele propôs que os anos fossem contados a partir do nascimento de Cristo. Porém, àquela época ninguém sabia quando Cristo havia nascido. Dionísio realizou uma série de cálculos e definiu o ano de 754 após a fundação de Roma (AUC, ou “ab urbis conditiae”) como o marco da Era Cristã.

Segundo a história da fundação da cidade de Roma, uma mistura de misticismo e alguns fatos históricos, o fundador da famosa urbis foi Rômulo – filho de Marte com Reia Sílvia, e irmão de Remo, a quem assassinou numa disputa sobre o local em que a cidade seria inaugurada.

Rômulo tinha uma mente criativa e queria se desvencilhar da cultura em que cresceu imerso. Não quis nem mesmo adotar o calendário que conhecera: criou o seu próprio.

No novo calendário, o primeiro calendário romano, o ano contava 304 dias. Era dividido em 10 meses, cuja duração variava entre 16 e 36 dias. Posteriormente, modificou-se a duração dos meses para que coincidissem com os ciclos lunares – 30 ou 31 dias. O ano se iniciava sempre no equinócio de primavera (início da primavera, 21 ou 22 de março no nosso calendário).

Fazendo as contas, percebe-se que aquele calendário tinha defasagem de 61 dias em relação ao ano solar. A solução adotada foi tão simples quanto inusitada: esses 61 dias eram ignorados sem a menor cerimônia. Não os contabilizavam. Após o “último dia do ano”, seguia-se um período invernal “off the sheet”, fora do calendário. Chegada a primavera, finalmente se iniciava o ano seguinte. Porém, o dia exato, ficava a critério do rei defini-lo. Este seguia a observação astronômica para saber o dia do equinócio. Evidentemente a ausência de bons equipamentos de observação não permitia muito rigor no estabelecimento dessa data.

Os 10 meses de Rômulo eram: Martius, Aprilis, Maius, Junius, Quintilis, Sextilis, September, October, November, December. Digamos que não soam completamente estranhos... Lembrando: Martius começava em meados de março, no nosso calendário, é tinha 31 dias. Os demais seguiam alternadamente, 30 e 31 dias, sendo que Quintilis e September tinham 30 dias cada.

Mais uns esclarecimentos: Martius era uma homenagem ao deus Marte – lembro que Rômulo seria filho de Marte; Aprili vem da palavra em latim para “abrir” – nessa época as rosas abrem, no hemisfério norte, claro; Maius homenageia a deusa Maia; Junius homenageia a deusa Juno; os outros seguem nomes referentes à sua ordem no calendário.

Fato é que esse calendário continha falhas que mereciam reparos. Essa tarefa coube a Numa Pompílio, segundo rei de Roma. Este monarca adicionou dois meses ao calendário, de modo a contabilizar o inverno. Os meses foram: Januarius, homenagem ao deus Jano; e Februarius, homenagem ao deus Februs. Contudo, Februarius era o 11º mês do ano e Januarius era o último.

Um detalhe importante: uma superstição romana os fazia rejeitarem números pares como sendo de mau agouro. Aboliram meses com 30 dias; a partir de então, somente poderiam ter 29 ou 31 dias. Os meses com 30 dias perderam um dia e Januarius passou a ter 29 dias. Para que as contas fechassem, Februarius tornou-se exceção e ficou com número par de dias.

O ano pompiliano tinha, portanto, 355 dias. Isso o fazia mais próximo dos calendários lunares, portanto era inútil para a agricultura.

A defasagem de cerca de 10 dias em relação ao ano solar deveria ser tratada. Fazia-se isso acrescentando um mês intercalar: o mês de Mercedonius.

Esse calendário passou a obedecer a um ciclo de 24 anos: o ciclo pompiliano. Esse ciclo era dividido em períodos de 4 anos. Os anos ímpares tinham 12 meses – somando 355 dias; os anos pares tinham 13 meses, tendo o mês intercalar 22 ou 23 dias.

O Mercedonius tinha 22 dias quando o ano era o 2º, 6º, 10º, 18º, 20º ou 22º do ciclo pompiliano; tinha 23 dias quando era o 4º, 8º, 12º, 16º ou 24º. O mês intercalar era introduzido no mês de Februarius. A contagem de Februarius parava no dia 23, iniciava-se a contagem do Mercedonius, até 22 ou 23 de Mercedonius; após, voltava-se à contagem de Februarius normalmente, até o último dia.

No fim das contas: o ano de Numa Pompílio tinha 355 dias; com a intercalação, o ano tinha 377 ou 378 dias (isso criava mercedonius de 16 e 17 dias no fim do ciclo); num período de quatro anos tínhamos no rol anos com 355, 377, 355 e 378 dias; a média dos qautro anos é 366,25 dias por ano. Está quase lá, né?

Por fim, o ciclo pompiliano completo terminava com seus “anos longos” – aqueles com 377 e 378 dias – reduzidos a 371 e 372 dias. Eliminavam-se assim 24 dias ao longo dos 24 anos: na média, eliminava-se um dia por ano. Refazendo-se a conta: no ciclo de 24 anos, cada ano tinha, em média, 365,25 dias! Bateu!

Porém, para infelicidade de astrônomos e matemáticos, existe uma coisa chamada política. Pontífices, posteriormente, introduziram mudanças. Primeiro: o Mercedonius teve sua duração alterada nos dois últimos quadriênios do ciclo. Reduzindo os mercedonius para três, eliminavam-se os dois mercedonius mais curtos (16 ou 17 dias) e todos passaram a ter 22 ou 23 dias.

Assim, cada período de quatro anos contava com anos de 355, 355, 377 e 378 dias, somando 1.465 dias. Sendo o ciclo de 24 anos dividido em seis períodos de quatros anos, tínhamos 8.790 dias; descontando-se o Mercedonius excluído do calendário – que tinha 22 dias -, ficamos com 8.768 dias em 24 anos, ou 365,33 dias por ano.

E assim a concordância com os astros ficou prejudicada.

Outra alteração pontifícia foi a inversão de ordem entre Januarius (agora 11º mês) e Februarius (agora último mês).

A mudança significativa seguinte somente ocorreu com o calendário Juliano, obviamente fundado no período em que Caio Júlio César ditava os rumos de Roma.

Mas isso é assunto para outro post.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”.

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