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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O PROBLEMA DE MATEMÁTICA MAIS DIFÍCIL DA HISTÓRIA: TEOREMA DE FERMAT – 5ª PARTE


Leonhard Euler nasceu na cidade suíça de Basiléia, a mesma da família Bernouilli, que produziu três gerações de matemáticos brilhantes – foram apelidados de Bach da matemática. Apesar de ser filho de pastor luterano, Euler pôde seguir sua vocação em razão do apoio dado por Daniel e Nikolaus Bernouilli.

Após imprimir seu nome na ciência dos números, Euler passou anos lecionando e resolvendo problemas em palácios da Europa, como Berlim e São Petersburgo.

No século XVIII, diversos cientistas haviam mostrado os governantes da época do que a ciência aplicada, especialmente nas áreas bélicas, eram capazes de fazer. Isso deu início a uma competição para ver quem atraía as mentes mais brilhantes. Euler começou trabalhando para os czares russos; depois foi convidado por Frederico da Prússia para lecionar na Academia Militar de Berlim. Depois retornou para a Rússia, onde morreu. Durante sua carreira, Euler venceu desafios nas áreas de finanças, acústica, irrigação...

Evidentemente os governantes estavam interessados em questões práticas. Mas isso não impedia Euler de dedicar algum esforço à abstração matemática.

Euler se notabilizou, dentre outras coisas, pelo desenvolvimento do método dos algoritmos. Seu interesse surgiu de seus estudos visando a prever as fases da Lua. A dificuldade, apesar de já se conhecer sua órbita, é que a Lua está sujeita aos efeitos da gravidade da Terra e do Sol. Isso produz um efeito bamboleante na órbita da Lua.

Euler desenvolveu um algoritmo para lidar aumentar a precisão dos cálculos para determinar a posição dos navegadores. Tratava-se de uma sequência de cálculos em que a resposta da operação anterior alimentava uma nova rodada de cálculos, e assim sucessivamente. Uma centena de repetições depois, tinha-se uma posição da Lua suficientemente precisa para as necessidades da Marinha. Euler recebeu 300 libras do Almirantado britâncio como recompensa.

Uma das conquistas mais famosas de Euler foi o problema das Pontes de Konigsber, atual Kaliningrado. Às margens do rio Pregel, possuía quatro bairros, ligados por sete pontes. A pergunta era: seria possível fazer um passeio pelos quatro bairros, de forma a cruzar cada ponte uma única vez?

Sua resposta foi: para que o passeio fosse bem-sucedido, cada bairro somente poderia ser ligado por um número par de pontes (lógico, não? A pessoa tem que chegar ao bairro por uma ponte e sair por outra).  Somente há duas exceções: no início e no final da jornada (lógico, não?).

Se a jornada se iniciar e terminar no mesmo bairro, o número de pontes em cada bairro deve ser par (é necessária uma última ponte para o retorno ao ponto inicial). Se a jornada se iniciar e terminar em locais distintos, o número de pontes deve ser em número ímpar. Portanto a lógica para cada bairro possuir um número par de pontes é a mesma caso dois bairros contem com um número ímpar de pontes.

Euler pôs no papel, usando pontos para representar os bairros e linhas para representar as pontes. Depois comparou com uma representação aérea de Koningsberg. Percebeu que a cidade tem quatro bairros e número ímpar de pontes ligando os bairros (três deles têm três pontes; um bairro têm cinco pontes). 

Resposta: o passeio proposto era impossível. O número par de bairros exigiria um número par de pontes.

Pois bem. Esse solucionador de problemas nato, um dia, deparou-se com o Último Teorema de Fermat. Certamente o formato simples e a pergunta direta devem ter feito Euler subestimar a dificuldade de resolvê-lo. Ele planejou que, se provasse o resultado para um expoente específico, poderia extrapolar o resultado para todo o resto.

Seu trabalho começou com uma pista oculta. Fermat havia escrito disfarçadamente uma prova para o caso n = 4. Ele usou esse caso para solucionar um outro problema. Contudo, estava tudo de maneira vaga e incompleta.

Uma observação que Euler depreendeu rapidamente da prova de Fermat era o fato de usar um método de resolução chamado “descida infinita”. Inicialmente supõe-se haver solução. Depois, inventam-se índices (X1, Y1 e Z1, por exemplo) e substitui-se na equação. Extrapola-se o raciocínio de maneira a supor que existe uma outra solução, porém com números menores (X2, Y2 e Z2). Segue-se o passo a passo sucessivamente.

Seria ilógico supor que não há um fim, uma solução final menor possível. Temos uma contradição que põe fim à suposição inicial: não há soluções possíveis.

Euler passou a tentar usar o mesmo raciocínio para construir um teorema geral. No entanto foram necessárias pequenas adaptações.

Primeiramente, usou n = 3 e conseguiu provar a ausência de soluções. Em carta a Christian Goldbach, Euler expôs sua prova. Porém, para aplicar o mesmo para n = 4, Euler teve de fazer uso de uma inovação matemática do século XVI: os números imaginários.

Assunto para um próximo post ...    


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O último teorema de Fermat: a história do enigma que confundiu as mais brilhantes mentes...”

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