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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O PROBLEMA DE MATEMÁTICA MAIS DIFÍCIL DA HISTÓRIA: TEOREMA DE FERMAT – 4ª PARTE


Pode-se dizer que o único tutor de Fermat no campo da matemática foi o livro “Aritmética”, de Diofante de Alexandria. Estavam ali descritos mil anos de avanços matemáticos. Fermat lia uma tradução feita por Claude Gaspar Bachet de Méziriac para o latim.

Ao contrário de Bachet, no entanto, Fermat desejava apenas se divertir e alcançar uma satisfação pessoal por conseguir resolver problemas que outros não conseguiam. Não queria escrever um livro didático para as gerações futuras.

Uma característica do livro de Diofante eram as margens bem largas, que permitiam fazer anotações e até resolver alguns cálculos mais rápidos. Fermat fazia comentários, anotava fórmulas nessas bordas.
Uma dessas anotações tratava dos números amigáveis (ou amistosos), que fascinaram Pitágoras. São pares de números em que um deles é igual à soma dos divisores do outro. Por exemplo, 220 e 284: os divisores de 220 (1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55 e 110), somados, resultam em 284; os divisores de 284 (1, 2, 4, 71 e 142), se somados, resultam em 220.

Até 1636, imaginava-se já terem sido descobertos todos os números amigáveis. Fermat adicionou o par 17.296 e 18.416 à lista. Fermat basicamente abriu a porteira... Depois dele diversos outros matemáticos acharam mais pares com essa característica.

No século XX surgiram os números sociáveis. A ideia é que funcionem como um círculo fechado. Por exemplo: 12.496, 14.288, 15.472, 14.536 e 14.264. A soma dos divisores do primeiro é igual ao segundo; a soma dos divisores do segundo é igual ao terceiro; a soma dos divisores do terceiro iguala o quarto; até que a soma dos divisores do quinto iguala o primeiro número.

A descoberta de um novo par de números amigáveis fez dele uma celebridade. Mas ele complementou essa fama descobrindo outras curiosidades matemáticas. Por exemplo, ele descobriu que o número 26 está entre um número quadrado (25 = 52) e um cubo (27 = 32). Depois conseguiu elaborar a prova matemática de que o 26 é o único número nessa condição.

No II volume de Aritmética, Fermat deparou-se com diversos problemas e soluções relacionados com o Teorema de Pitágoras. Genialmente, Fermat criou uma equação semelhante, porém aparentemente sem solução: X3 + Y3 = Z3.

Não parou por aí. Continuou alterando a potência para números maiores.

Aparentemente não haveria solução para: Xn + Yn = Zn , para n = 3, 4, 5 ...

No mesmo Aritmética, volume II, ele anotou às margens do problema 8:
“Cubem autem in duos cubos, aut quadratoquadratum in duos quadratoquadratos, ET generaliter nullam in infinitum ultra quadratum potestatem in duos eiusdem nominis faz est dividere.”

“É impossível para um cubo ser escrito como a soma de dois cubos ou uma quarta potência ser escrita como uma soma de dois números elevados a quatro, ou, em geral, para qualquer número que seja elevado a uma potência maior do que dois ser escrito como a soma de duas potências semelhantes.”

Fermat fez essa afirmação e acredita ser possível prová-la. Porém, o que ele deixou para os matemáticos do futuro foi uma afirmação igualmente assombrosa:
“Cuius rei demonstrationem mirabilem sane detexi hanc marginis exiguitas non caperet.”

“Eu tenho uma demonstração realmente maravilhosa para esta proposição, mas a margem é muito estreita 
para contê-la.”

Tudo o que foi dita só faz parte da história registrada porque seu filho mais velho, Clément-Samuel, que decidiu publicar as descobertas decorrentes do hobby favorito de seu pai.
É evidente que muitos não acreditaram que Fermat realmente tivesse a resposta para o enigma. Mas sua anotações pessoais traziam observações tão interessantes, lógicas tão inusitadas que realmente faziam crer que Fermat tinha essa demonstração. Mas agora eles teriam de ser recriados. E essa tarefa nmanteve muitos matemáticos ocupados.

Um deles era foi um dos maiores monstro da história dessa ciência: Leonhard Euler.

O primeiro feito de Euler em relação aos desafios quebra-cabeças de Fermat foi a prova do Teorema dos Números Primos. Fermat estabeleceu que todos os números primos podem ser encaixados em duas categorias principais: aqueles iguais a 4n + 1; aqueles iguais a 4n – 1 – n é um número natural. Por exemplo, 13 está no primeiro grupo (4x3 + 1) e 19 pertence ao segundo (4x5 – 1). O Teorema dos Números Primos afirma que o primeiro tipo de números primos é sempre a soma de dois quadrados (13 = 22 + 32). Quanto aos segundos, nunca serão escritos dessa forma.

Provar essa afirmação, para todos so primos, mostrou-se ser tarefa inglória. Em 1749, após 7 anos de esforços e quase 100 anos após a publicação dos escritos de Fermat, Euler conseguiu chegar à prova – uma das que Fermat afirmou ter secretamente.

Ao longo dos séculos seguintes, pouco a pouco todos os desafios propostos por Fermat foram sendo desvendados. Mas o Último Teorema de Fermat (aquele do Teorema de Pitágoras com expoente n) resistia.Daí o “Último” aposto no início.

Continua!


Rubem L. de F. Auto



Fonte: livro “O último teorema de Fermat: a história do enigma que confundiu as mais brilhantes mentes...”

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