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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

P&D NAZISTA – UM TESTEMUNHO DOS BENEFÍCIOS BÉLICOS QUE A CIÊNCIA PODE TRAZER


Tanto Winston Churchill quanto Adolf Hitler dividiam a mesma paixão por ciência, tecnologia e, vez ou outra, “armas fantásticas”. No entanto, os alemães fizeram avançados cruciais, como o primeiro caça a jato, mira infravermelha para rifles de snipers, planos para aviões do tipo aeroplano, pesquisas em bombas atômicas, e tecnologias de foguetes V-1 e V-2.

Embora algumas armas desenvolvidas pela Alemanha nesse período tenham infligido prejuízos nos Aliados, algumas eram contraprodutivas. Eles utilizavam grandes quantidades de dinheiro, materiais e know-how, os quais, ao contrário, poderiam ter produzido grande quantidade de armas comuns, porém eficientes, sejam aviões ou veículos.

Os foguetes V-2 tiveram consequências negativas na Alemanha, como uma crise alimentar: cada foguete consumia 30 toneladas de batatas para que se produzisse álcool para fabricar seu combustível.
A construção dos foguetes alemães foi produto também de um ambiente bastante favorável. Em 1929, estreou o filme “Woman in the Moon”, de Fritz Lang. Max Valier, um escritor austríaco, também explorou voos espaciais, viagens exploratórias interplanetárias e tornou de conhecimento do público o potencial oferecido pelos combustíveis líquidos de foguetes.

Assim, a ciência de foguetes tornou-se popular.

Por outro lado, cientistas de foguetes russos e norte-americanos encontraram um ambiente completamente diverso. Robert Goddard fez o primeiro lançamento de um foguete a combustível líquido em 1926, nos EUA, mas só recebeu piadas da imprensa e foi ignorado.

Konstantin Tsiolkovsky escreveu extensamente sobre o assunto, mas não comoveu ninguém.

Ironicamente, americanos e russos – após ignorarem conquistas de compatriotas – abraçaram as contrapartes alemães, depois de serem expostos aos produtos da mesma ciência bélica.

A ciência de foguetes alemã continuou a se desenvolver na década de 1930, em grande parte dirigida pelo entusiasmo de Hermann Oberth, quem recrutou o jovem Wernher Von Braun, um amigo também entusiasmado pelo assunto. Eles é outros jovens engenheiros, cientistas e admiradores se juntaram e fundaram a “Raketenflugplatz”, ou “Praça dos Foguetes Voadores”. Foi o primeiro local dedicado à construção e teste de foguetes no mundo.

Eventualmente, as conquistas do grupo trouxeram o interesse  e a atenção das Forças Armadas, que passaram a fornecer recursos. Nesse momento, o charme e a personalidade cativante de Von Braun foram decisivos.

Os nazistas construíram suas instalações dedicadas aos foguetes em Peenemude.

Construir um foguete pode se revelar uma tarefa desanimadora. Nas palavras de Von Braun, sobre o primeiro A-1: “Levou um ano e meio para ser construído e meio segundo para explodir”.

O último dessa série foi o A-4, embora metade de um A-5 já estivesse construída e em linha de testes.

A instalação de Peenemunde chegou a empregar 3 mil pessoas: cientistas, engenheiros, trabalhadores manuais e numerosos trabalhadores escravos. O brilhante químico e cientista de foguetes Walter Thiel teve papel preponderante, desenvolvendo um motor a oxigênio líquido altamente eficiente para os foguetes A-4 (rebatizados para V-2), uma câmara de combustão melhorada, melhores injetores de combustível que produziam grande aceleração com máxima eficiência de consumo.

Von Braun, simultaneamente, chefiava pesquisas no sistema de direcionamento do voo. Outros deram contribuições importantes também. Moritz Pohlmann criou um filme de proteção contra calor excessivo para a câmara de combustão, usando um filme à base de álcool para proteger as paredes metálicas e evitar que derretessem. Equipes de engenheiros produziram conectores e ventoinhas de grafite para os foguetes e calibraram precisamente as turbinas para controlar os fluxos de exaustão.

Em 1942, iniciou-se o segundo programa de foguetes, dando forma aos primeiros mísseis de cruzeiro. Os V-2 demandavam gastos imensos para produzir, mas eles se moviam tão rapidamente que nenhum mecanismo de defesa aérea da época poderia abatê-los.

Os engenheiros de Peenemunde até delinearam um primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM), apelidado de “America Bomb”, ou A-10. Mas a tecnologia da época não permitia construí-lo. Faltou tempo para Von Braun e sua equipe projetarem e testarem a novidade.

Em 1940, Heinrich Himmler forçou Wernher Von Braun e se juntar às SS, apesar da ausência de espírito político no cientista.

Em 1942, Arthur Rudolph e outras figuras eminentes de Peenemunde começaram a usar trabalhadores forçados nas instalações. Embora alegassem, anos depois, que não ficaram contentes com o uso desse tipo de mão de obra, nenhuma correspondência da época indica desânimo pela presença de escravos soviéticos, poloneses e franceses.

A trajetória balística de um V-2 tinha apogeu de 58 milhas de altura e distância de alcance de 200 milhas. Um foguete encontrava o alvo a 2.500 milhas por hora – mais rápido que qualquer avião ou míssil de interceptação.

Caindo sem solo, um V-2 abria uma cratera de 50 pés de diâmetro, enquanto que sua massa e velocidade permitiam-no perfurar um prédio inteiro até alcançar o porão, antes de detonar, demolindo até construções bastante sólidas.

Os alemães construíram, segundo as estimativas mais altas, 6.915 foguetes V-2, um feito fantástico, dados a alta complexidade e o imenso tamanho (46 pés) de cada um.

Cerca de 3.225 foguetes que alcançaram seu alvo mataram 2.700 cidadãos britânicos. Seu efeito em Antuérpia, entretanto, alcançou resultados avassaladores. Cerca de 30 mil civis e soldados morreram em ataques V-2, incluindo 591 pessoas mortas dentro de um cinema, em um ataque V-2, em dezembro de 1944.

Os foguetes também afundaram 150 navios e, aproximadamente, 15.000 trabalhadores escravos morreram nas instalações, construindo-os.

Havia temores de que os mísseis balísticos pudessem carregar bombas nucleares, como temiam alguns espiões e especialistas Aliados. No entanto, o programa nuclear alemão permanecia incipiente e incapaz de tal feito.

Nesse ponto, o Projeto Manhattan foi o equivalente Aliado às armas fantásticas da Alemanha.
        

Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”


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