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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

CALENDÁRIO JULIANO: ROMA SE SOCORRE NO CALENDÁRIO EGÍPCIO


Desde a criação do calendário pompiliano até a ascensão de Júlio César ao poder, passaram-se mais de 600 anos. Nessa época o calendário romano já estava defasado em mais de 50 dias. Desnecessário dizer que havia uma enorme confusão entre datas e estações do ano.

Júlio César tomou para si a missão de colocar as coisas de novo em seu devido lugar. Para tal missão contou com a ajuda do astrônomo alexandrino Sosígenes.

A civilização egípcia, ao longo dos seus milênios de história, conviveu com diversos calendários. As inundações periódicas do rio Nilo fizeram os egípcios dividirem o ano em três estações de quatro meses cada: inundações, semeaduras e colheitas.

Para a mensuração do ano, adotaram o calendário dos caldeus: ano com 12 meses de 30 dias, cada. Como o ano solar tem 365,25 dias, sobravam 5,25 dias. Ao fim do ciclo, a primeira estação do ano seguinte só começava depois de um interregno de 5,25 dias.

Mais tarde, foram adicionados dias complementares (também chamados epagômenos) para completar os 365 dias do ano. No entanto, ainda faltam as seis horas, o que ainda causava defasagens a longo prazo.

Por curiosidade: um atraso de seis horas a cada ano corresponde a um dia de atraso a cada quatro anos. Portanto o calendário e o ano solar só voltam a coincidir após 1.460 anos (365 X 4). Essa data de resincronização do artificial com o natural era objeto de comemorações intensas, pois eles criam que nesse dia Fênix retornava ao templo de Heliópolis para morrer e, após, renascer das próprias cinzas.

O período de 1460 anos era chamado de sotíaco (derivado de Sothis, que chamamos de Sirius). No nascer helíaco de Sothis – quando nasce junto com o Sol – ocorria a cheio do Nilo e se iniciava o ano egípcio.
Uma das passagens mais heroicas da vida de Júlio César foram suas campanhas pelo Egito – e suas idas e vindas envolvendo Cleópatra e Marco Antônio. Lá, o imperador tomou conhecimento do calendário local, e se admirou.

Seu descontentamento com o calendário romano já tinha sido produto de alguns comentários seus. Faltava-lhe o conhecimento astronômico necessário para a mudança. Sosígenes resolveu essa falta.

A reforma se iniciou por resincronizar estações do ano e calendário. As profundas mudanças realizadas no ano de 43 a.C. – visando a fazer o ano seguinte iniciar com o equinócio vernal fizeram-no ser conhecido como “ano da confusão”. Houve 15 meses e 445 dias  nesse ano...

O segundo passo foi evitar que a defasagem ocorre novamente, no futuro. O dia 1º de janeiro foi deslocado de modo a coincidir com a primeira lua nova após o solstício de inverno – que na época ocorria em 25 de dezembro do nosso calendário.

Para evitar a defasagem ao longo dos anos, o ano do novo calendário teria 365 dias, com um ano excedente a cada quatro.

Esse dia extra era, na verdade, um dia repetido no calendário. Este dia repetido era 23 de Februarius, conhecido em latim por “VI antendiem calendas martii”. Quando ocorria a repetiçaõ, o dia repetido era chamado de “bis VI antediem calendas martii”... Daí a origem do nosso ano “bissexto” – bis sextum...

Assim, Februarius passou a ter 29 dias nos anos comuns, e 30 nos anos bissextos.

Após a Guerra Civil que se sucedeu ao assassinato de Júlio César, envolvendo Marco Antônio e Caio Otávio, iniciou-se um governo conjunto chamado Segundo Triunvirato. Nesse período, Marco Antônio ordenou que o mês de Quintilis fosse renomeado para Julius – homenagem ao antigo imperador.  

No período seguinte, Caio Otávio se estabeleceu como imperador único e foi renomeado para Augustus – nome derivado de “augere”, que significa “crescer”.

Augusto notou que os responsáveis pelo calendário, desde os anos da guerra civil, estavam tornando bissextos anos em intervalos de três anos, não de quatro, como se estabelecera. Isso gerou uma diferença de três dias.

Augusto ordenou que não se fizessem bissextos os três anos seguintes que deveriam sê-los.
Em homenagem a essas medidas de ajuste, o mês de Sextilis foi rebatizado para Augustus, em sua homenagem, por ser o mês de seu nascimento. Todavia, havia um problema: esse mês só tinha, originalmente 29 dias.

Como o mês de Julius tinha 31 dias, acresceu-se um dia em Augustus – agora Otávio e Júlio César estavam em pé de igualdade – e retirou-se um dia em Februarius, que passou a ter 28 dias nos anos comuns e 29 dias nos anos bissextos.

Esse é praticamente nosso calendário atual. Mas tem mais história pela frente.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”

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