Desde a criação do calendário pompiliano até a ascensão de
Júlio César ao poder, passaram-se mais de 600 anos. Nessa época o calendário
romano já estava defasado em mais de 50 dias. Desnecessário dizer que havia uma
enorme confusão entre datas e estações do ano.
Júlio César tomou para si a missão de colocar as coisas de
novo em seu devido lugar. Para tal missão contou com a ajuda do astrônomo
alexandrino Sosígenes.
A civilização egípcia, ao longo dos seus milênios de
história, conviveu com diversos calendários. As inundações periódicas do rio
Nilo fizeram os egípcios dividirem o ano em três estações de quatro meses cada:
inundações, semeaduras e colheitas.
Para a mensuração do ano, adotaram o calendário dos caldeus:
ano com 12 meses de 30 dias, cada. Como o ano solar tem 365,25 dias, sobravam
5,25 dias. Ao fim do ciclo, a primeira estação do ano seguinte só começava
depois de um interregno de 5,25 dias.
Mais tarde, foram adicionados dias complementares (também
chamados epagômenos) para completar os 365 dias do ano. No entanto, ainda
faltam as seis horas, o que ainda causava defasagens a longo prazo.
Por curiosidade: um atraso de seis horas a cada ano corresponde a um dia de atraso a cada quatro anos. Portanto o calendário e o ano solar só voltam a coincidir após 1.460 anos (365 X 4). Essa data de resincronização do artificial com o natural era objeto de comemorações intensas, pois eles criam que nesse dia Fênix retornava ao templo de Heliópolis para morrer e, após, renascer das próprias cinzas.
O período de 1460 anos era chamado de sotíaco (derivado de
Sothis, que chamamos de Sirius). No nascer helíaco de Sothis – quando nasce
junto com o Sol – ocorria a cheio do Nilo e se iniciava o ano egípcio.
Uma das passagens mais heroicas da vida de Júlio César foram
suas campanhas pelo Egito – e suas idas e vindas envolvendo Cleópatra e Marco
Antônio. Lá, o imperador tomou conhecimento do calendário local, e se admirou.
Seu descontentamento com o calendário romano já tinha sido
produto de alguns comentários seus. Faltava-lhe o conhecimento astronômico necessário
para a mudança. Sosígenes resolveu essa falta.
A reforma se iniciou por resincronizar estações do ano e
calendário. As profundas mudanças realizadas no ano de 43 a.C. – visando a
fazer o ano seguinte iniciar com o equinócio vernal fizeram-no ser conhecido
como “ano da confusão”. Houve 15 meses e 445 dias nesse ano...
O segundo passo foi evitar que a defasagem ocorre novamente,
no futuro. O dia 1º de janeiro foi deslocado de modo a coincidir com a primeira
lua nova após o solstício de inverno – que na época ocorria em 25 de dezembro
do nosso calendário.
Para evitar a defasagem ao longo dos anos, o ano do novo
calendário teria 365 dias, com um ano excedente a cada quatro.
Esse dia extra era, na verdade, um dia repetido no
calendário. Este dia repetido era 23 de Februarius, conhecido em latim por “VI
antendiem calendas martii”. Quando ocorria a repetiçaõ, o dia repetido era
chamado de “bis VI antediem calendas martii”... Daí a origem do nosso ano “bissexto”
– bis sextum...
Assim, Februarius passou a ter 29 dias nos anos comuns, e 30
nos anos bissextos.
Após a Guerra Civil que se sucedeu ao assassinato de Júlio
César, envolvendo Marco Antônio e Caio Otávio, iniciou-se um governo conjunto
chamado Segundo Triunvirato. Nesse período, Marco Antônio ordenou que o mês de
Quintilis fosse renomeado para Julius – homenagem ao antigo imperador.
No período seguinte, Caio Otávio se estabeleceu como
imperador único e foi renomeado para Augustus – nome derivado de “augere”, que
significa “crescer”.
Augusto notou que os responsáveis pelo calendário, desde os
anos da guerra civil, estavam tornando bissextos anos em intervalos de três
anos, não de quatro, como se estabelecera. Isso gerou uma diferença de três
dias.
Augusto ordenou que não se fizessem bissextos os três anos
seguintes que deveriam sê-los.
Em homenagem a essas medidas de ajuste, o mês de Sextilis
foi rebatizado para Augustus, em sua homenagem, por ser o mês de seu nascimento.
Todavia, havia um problema: esse mês só tinha, originalmente 29 dias.
Como o mês de Julius tinha 31 dias, acresceu-se um dia em
Augustus – agora Otávio e Júlio César estavam em pé de igualdade – e retirou-se
um dia em Februarius, que passou a ter 28 dias nos anos comuns e 29 dias nos
anos bissextos.
Esse é praticamente nosso calendário atual. Mas tem mais
história pela frente.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12
meses e outras curiosidades...”
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