O número de mulheres grávidas de
gêmeos e de trigêmeos cresceu exponencialmente após a disseminação das técnicas
de fertilização assistida. Esse história teve início em 1978, com o nascimento
de Louise Brown. Desde então o número de filhos múltiplos aumentou em 20 vezes,
no mundo.
Na Europa, as estatísticas
apontam que 26,4% das gestações são de mais de um bebê. Nos EUA, entre 1978 e
2000 o número de gêmeos dobrou. Na década de 1990, o número cresceu em 80% se
consideradas apenas mulheres entre 40 e 44 anos. O órgão britânico responsável
pela fiscalização de clínicas de fertilização, o HFEA, calcula que 1 a cada 80
gestações naturais resulta em gêmeos ou mais; por outro lado, 1 de cada 4
gestações assistidas resulta em gêmeos ou trigêmeos.
Tudo isso resulta da propagação de
técnicas como a fecundação fora do útero, ou in vitro, e a DPI.
Se o casal for fértil, recolhem-se
os óvulos e espermatozóides. A técnica para recolher espermatozóides é
largamente conhecida... Já o recolhimento dos óvulos necessita que a mulher
tome hormônios, para estimular a ovulação. A mulher termina por produzir de
oito a nove óvulos. Os óvulos são retirados da mulher e postos em contato com o
espermatozóide, em um tubo de ensaio.
Se a fertilização ocorrer,
inicia-se a divisão celular. Em média, isso ocorre em seis dos óvulos
fertilizados, que se tornam pré-embriões, compostos por oito células. Logo, são
implantados no útero da mulher, ocorrendo a gestação.
O obstáculo para tudo o que foi
acima descrito é a baixa probabilidade de sucesso. Para aumentar essa chance de
sucesso, os médicos transferem vários pré-embriões para o útero. Muitos médicos
recomendavam transferir seis pré-embriões. O resultado desses procedimentos
foram as estatísticas citadas...
As gravidezes múltiplas implicam risco
aumentado de crianças prematuras, com baixo peso, problemas de saúde e mesmo
intelectuais. Segundo a HFEA, 126 bebês morrem a cada ano por esse tipo de
gravidez. Os riscos para as mães também é inflado.
Por todo o exposto, o nascimento
de bebês como resultado de gravidez múltipla em processo de fertilização assistida
passou a ser considerado problema de saúde pública. Um grupo de especialistas
reunidos pela HFEA, em 2005, publicou o relatório “One child at a time”, em que
recomendavam a transferência de apenas 1 pré-embrião – tornou-se conhecida como
transferência eletiva, pois passa pela escolha do melhor embrião após aplicarem-se
técnicas de avaliação criteriosas.
No Brasil, Resolução do CFM
define o número máximo de pré-embriões que se podem transferir, a depender da
idade da mulher. Até 35 anos, 2; de 36 a 39, até três; acima de 40 anos, quatro.
O CFM também vedou a prática de procedimentos de redução embrionária, uma
espécie de aborto, para adequar q quantidade de embriões desenvolvidos à
vontade do casal.
Apesar disso, no Brasil a cultura
de múltiplas transferências embrionárias se mantém. Talvez seja explicada por
questões financeiras (o tratamento fica mais custoso com o aumento das
tentativas), ansiedade, ou mesmo por vontade do médico, por sua reputação.
Houve até o caso do casal do
Paraná que gestou trigêmeos, mas somente queriam duas crianças – uma aparentava
fragilidade no seu desenvolvimento. Cogitaram fazer uma redução embrionária
fora do Brasil, mas desistiram. Foi parar na Justiça. O que seria mais correto:
enviar o filho rejeitado para adoção? Obrigá-los a cuidar dos três? Existem
aspectos financeiros a considerar? E o fato de ter a saúde fragilizada,
percebida ainda no útero, justificaria uma medida semelhante ao aborto?
Interessante notar como se apelam
a procedimentos artificiais de geração de filhos, mas o artificialismo, que
deveria permanecer apenas na técnica utilizada, parece contagiar a naturalidade
inerente a uma vida.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “GenÉtica: escolhas
que nossos avós não faziam”
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