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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

GÊMEOS, TRIGÊMEOS, MULTIGÊMEOS... POR QUE TANTOS?


O número de mulheres grávidas de gêmeos e de trigêmeos cresceu exponencialmente após a disseminação das técnicas de fertilização assistida. Esse história teve início em 1978, com o nascimento de Louise Brown. Desde então o número de filhos múltiplos aumentou em 20 vezes, no mundo.

Na Europa, as estatísticas apontam que 26,4% das gestações são de mais de um bebê. Nos EUA, entre 1978 e 2000 o número de gêmeos dobrou. Na década de 1990, o número cresceu em 80% se consideradas apenas mulheres entre 40 e 44 anos. O órgão britânico responsável pela fiscalização de clínicas de fertilização, o HFEA, calcula que 1 a cada 80 gestações naturais resulta em gêmeos ou mais; por outro lado, 1 de cada 4 gestações assistidas resulta em gêmeos ou trigêmeos.

Tudo isso resulta da propagação de técnicas como a fecundação fora do útero, ou in vitro, e a DPI.

Se o casal for fértil, recolhem-se os óvulos e espermatozóides. A técnica para recolher espermatozóides é largamente conhecida... Já o recolhimento dos óvulos necessita que a mulher tome hormônios, para estimular a ovulação. A mulher termina por produzir de oito a nove óvulos. Os óvulos são retirados da mulher e postos em contato com o espermatozóide, em um tubo de ensaio.

Se a fertilização ocorrer, inicia-se a divisão celular. Em média, isso ocorre em seis dos óvulos fertilizados, que se tornam pré-embriões, compostos por oito células. Logo, são implantados no útero da mulher, ocorrendo a gestação.

O obstáculo para tudo o que foi acima descrito é a baixa probabilidade de sucesso. Para aumentar essa chance de sucesso, os médicos transferem vários pré-embriões para o útero. Muitos médicos recomendavam transferir seis pré-embriões. O resultado desses procedimentos foram as estatísticas citadas...

As gravidezes múltiplas implicam risco aumentado de crianças prematuras, com baixo peso, problemas de saúde e mesmo intelectuais. Segundo a HFEA, 126 bebês morrem a cada ano por esse tipo de gravidez. Os riscos para as mães também é inflado.

Por todo o exposto, o nascimento de bebês como resultado de gravidez múltipla em processo de fertilização assistida passou a ser considerado problema de saúde pública. Um grupo de especialistas reunidos pela HFEA, em 2005, publicou o relatório “One child at a time”, em que recomendavam a transferência de apenas 1 pré-embrião – tornou-se conhecida como transferência eletiva, pois passa pela escolha do melhor embrião após aplicarem-se técnicas de avaliação criteriosas.

No Brasil, Resolução do CFM define o número máximo de pré-embriões que se podem transferir, a depender da idade da mulher. Até 35 anos, 2; de 36 a 39, até três; acima de 40 anos, quatro. O CFM também vedou a prática de procedimentos de redução embrionária, uma espécie de aborto, para adequar q quantidade de embriões desenvolvidos à vontade do casal.

Apesar disso, no Brasil a cultura de múltiplas transferências embrionárias se mantém. Talvez seja explicada por questões financeiras (o tratamento fica mais custoso com o aumento das tentativas), ansiedade, ou mesmo por vontade do médico, por sua reputação.

Houve até o caso do casal do Paraná que gestou trigêmeos, mas somente queriam duas crianças – uma aparentava fragilidade no seu desenvolvimento. Cogitaram fazer uma redução embrionária fora do Brasil, mas desistiram. Foi parar na Justiça. O que seria mais correto: enviar o filho rejeitado para adoção? Obrigá-los a cuidar dos três? Existem aspectos financeiros a considerar? E o fato de ter a saúde fragilizada, percebida ainda no útero, justificaria uma medida semelhante ao aborto?

Interessante notar como se apelam a procedimentos artificiais de geração de filhos, mas o artificialismo, que deveria permanecer apenas na técnica utilizada, parece contagiar a naturalidade inerente a uma vida.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “GenÉtica: escolhas que nossos avós não faziam”

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