Os EUA são o país do cinema,
especialmente dos filmes de ação e thrillers. É bem raro achar
algum clássico nesse estilo realizado por cineastas de fora do universo de
Hollywood. Com a operação lava jato não foi diferente.
Ontem, após as notícias sobre os
pagamentos de multas e indenizações, o enredo foi finalmente desvendado. E a
verdade é bem menos romântica do que se poderia supor inicialmente.
Fica bastante claro o que, de
fato, motivou tudo o que pudemos acompanhar. As empresas Odebrecht e Brasken,
em escala mundial, e outras construtoras, como Camargo Correa, infringiram leis
anticorrupção de diversos países do mundo. Pagaram propinas a autoridades americanas
para obter contratos lucrativos, pagaram propinas a autoridades de países
africanos para obter concessões de exploração de petróleo, pagaram propinas a
muitas e muitas autoridades brasileiras, como de costume, e por meio dessas
concessões e obséquios se tornaram algumas das maiores empresas do mundo. Lavaram
dinheiro em bancos suíços e norte americanos. A maior parte dessas infrações
ocorreu no período de maior crescimento da economia Brasileia, quando também
ocorreu um grande movimento de internacionalização das grandes empresas
nacionais.
Pois bem. Tais operações ilegais
não passaram despercebidas pelo radar das autoridades dos países onde
ocorreram. Especialmente EUA e Suíça organizaram uma operação global para
investigar e traçar o modus operandi dos tupiniquins. Por meio dos instrumentos
de cooperação jurídica e policial internacional envolveram, necessariamente,
autoridades locais da Polícia Federal e do Judiciário nessas investigações.
Como não poderia deixar de ser,
do lado deles o resultado foi espetacular:
1 – Destruíram a saúde financeira
das maiores companhias brasileiras, abrindo o mercado nacional para suas
contrapartes – e concorrentes.
2 – Arrecadaram uma fortuna entre
multas e indenizações. Bilhões de dólares arrecadados quase que sem custo
algum. E sem ter empresas nacionais deles envolvidas em maracutaias quaisquer.
3 – Recolonizaram um país que
parecia adquirir um papel muito relevante no cenário internacional.
Por outro lado, o que ocorreu no
Brasil foi uma tragédia digna de um filme pastelão. Senão, vejamos:
1 – Do lado dos empresários e
executivos, reais infratores e beneficiários de todo “propinário” a que deram
origem, as únicas penas passaram por penalidades pecuniárias (vão desembolsar
uma graninha ao longo de algumas décadas), além das prisões temporárias. No caso
de Emílio Odebrecht, pela segunda vez. Outros também já sabiam o que esperar,
na cela.
2 – O Ministério Público, por
meio de procuradores-políticos, e o Poder Judiciário, por meio de
juízes-politiqueiros, usaram todo o alvoroço causado pela investigação
promovida “de fora” para alcançar ambições no campo político. Usaram a imprensa
e a opinião pública, a segunda adestrada pela primeira, para promover uma
campanha contra o governo de então. Toneladas de mentiras, anabolizadas por
falsos currículos e por méritos que nunca existiram, foram carreadas para
derrubar a administração contemporânea dessas mesmas investigações.
3 – A paralisação das
empreiteiras, que levou à paralisação dos investimentos e, por conseguinte, do
país, levou consigo milhões de empregos e qualquer possibilidade de retomada do
crescimento econômico de maneira relevante por algum tempo.
4 – O momento poderia te sido
usado para modernizar a legislação brasileira anticorrupção, ou qualquer outra
medida que deixasse alguma herança positiva. Nada disso. Apenas se tentou
passar uma lei que geraria um órgão descontrolado e soberbo num país de
botocudos.
5 – Difícil saber quem, de fato,
dirigia dentro do país essa colaboração internacional. Com certeza diversos
delegados, procuradores, talvez até juízes, não estavam envolvidos realmente.
Apenas usaram um nome notório na imprensa, e seus empregos públicos, para
entornar o caldo da política me favor de seus interesses.
6 – Caju, Botafogo e quetais
estão livres. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe...
7 – O deadline de dezembro de
2016 foi decidido “abroad”. Provavelmente em algum gabinete em Washington.
Por fim, mas não menos
importante, nada muda. Ficará tudo como antes em terra de Abranches. Caso não
tenha relação com alguma investigação internacional, podemos esperar um cenário
pós lava jato exatamente nos moldes do que preexistiu a essa. Isto é, propina e
roubalheira em volume máximo.
Rubem L. de F. Auto
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